Capítulo 7

11 4 25
                                    


Ele estava aqui. Pisquei atordoada, tomada pelo choque. Era ele bem aqui, na minha frente me olhando com olhos misteriosos e questionadores.

Anos atrás eu poderia dizer exatamente o que ele estava pensando pela suave curva do seu lábio ou pelo leve cerrar de seus olhos. 

Mas não hoje. Ele se tornou um estranho para mim. 

Tudo nele estava diferente. Lembro que adorava vestir camisas xadrez de flanela, dizia ser confortável e com seus cabelos mais longos eu costumava o chamar lenhador, combinava com ele.

Encarei seu terno formal, seu cabelo curto e perfeitamente cortado e seus sapatos italianos. Sua postura era cansada, como se carregasse muito peso todos os dias. Sua voz era fria e seus olhos... Seus olhos não tinham mais calor. Então era nisso que ele havia se tornado?

Eu não podia continuar olhando para ele, não depois de tudo o que aconteceu. 

- Você tem alguma coisa a ver com isso? - Exigi de Anne para evitá-lo ao máximo. Ela parecia tão surpresa quanto eu, mas era Anne, afinal. 

- Não, eu não - respondeu prontamente balançando a cabeça em desespero.

- Anne, por favor, você nos fez ir em cinco hotéis. CINCO. Antes de escolher justamente esse. Você planejou isso? - 

Ela adotou uma expressão confusa com minha pergunta. 

- Mas Sofia... Se não fosse por você iríamos ficar no mesmo hotel de antes, como eu posso ter algo a ver com isso? - Perguntou franzindo a sobrancelha. É, isso fazia sentido. Maldita hora em que pedi por um hotel diferente. Antes lidar com fantasmas do passado do que do presente.

Continuei encarando Anne para ver se ela quebrava e fazia uma confissão. Se eu fosse acreditar que não foi ela então o universo tinha um senso de humor muito sádico. 

- Ai Sofia, pelo amor de Deus, eu nem mantive contato com ele nos últimos dois anos. Como poderia saber que ele estaria aqui? - explodiu irritada - Fala pra ela, Ethan - Pediu. 

Ele que até então olhava nossa interação sem expressão alguma finalmente se manifestou. 

- É verdade, não nos falamos - respondeu por fim tomando partido. Isso, ao menos não me surpreendeu.

Rolei meus olhos antes de dizer a próxima frase que eu sabia que seria cruel:

- Como se eu fosse acreditar em alguma coisa que você diz - respondi quase cuspindo - Você não tem voz aqui, isso é entre nós duas - 

Eu não iria ficar aqui o ouvindo como se fosse perfeitamente normal. Voltei para Anne. 

- Eu vou deixar passar Ann, mas se eu descobrir que tem dedo seu nisso... - 

- Não tem, juro - Falou. 

- Okay - Cedi com um suspiro - Agora vamos procurar outro hotel - 

Virei as costas para seguir direto ao elevador para pegar minhas coisas quando senti uma mão em meu braço. Aquele toque, foi como se estivesse queimando minha pele. Olhei para a mão furiosa, como se aquela mão em mim fosse uma ofensa pessoal, e bom, era. 

Ethan automaticamente a recolheu e se afastou. Ele parecia magoado com a minha reação. É sério isso? Ele, de todas as pessoas do mundo magoado? Faça-me o favor! Ele não tinha o direito!

- Não precisa sair só por que eu estou aqui, Sofia - Disse calmamente. 

Respirei fundo, me rasgava por dentro conversar com Ethan depois de tantos anos. Era contra todos os meus instintos e crenças.

Linha TênueOnde histórias criam vida. Descubra agora