Capítulo 4

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Bill

Sentado no topo do telhado da minha casa, eu fumava um cigarro mentolado enquanto meus pensamentos caóticos voavam junto com a fumaça, fazendo voltas e voltas até se dissiparem.

Eu gostava de observar as nuvens e, em segredo, imaginar quais formatos elas poderiam assumir. Isso era um bom jeito de passar o tempo, mesmo que seja estúpido.

Apoiei preguiçosamente minha cabeça na mão esquerda, deixando meus pensamentos correrem soltos, de um modo quase perigoso.

Olhei para baixo. A grama abaixo dos meus pés parecia implorar para que eu caísse sobre ela, acabando de vez com a minha vida miserável. Hoje não. Nem amanhã. Mas quem sabe um dia...

Então, aquele garoto voltou à minha mente: Alaska. Que pessoa intrigante! Caralho, nunca conheci alguém com heterocromia antes. E seu cabelo, sobrancelhas, cílios, pele... tudo completamente branco. Gostaria de conhecê-lo melhor.

—E aí, seu merda?! — ouvi um chamado familiar. Era June, acompanhado de April, meus melhores amigos. Levantei minha mão em resposta.

Pulei para a sacada do quarto da minha mãe e saltei até o chão, fazendo um estrondo. Pensei que poderia ter acordado-a, então lembrei que ela tem um puta sono pesado e que provavelmente estaria sonhando com um apresentador de tevê enrugado que ela julga ser "um gostosão" — palavras dela.

—Porra, vocês demoram! Não quero nem saber o porquê... — disse. Eles sorriram com malícia.

June e April eram irmão de sangue. Mas, como todos na cidade já sabem, são mais que isso também. E por ser uma cidade pequena, a notícia de espalhou como poeira numa tempestade. Na época ninguém aceitou. Bom, não aceitam até hoje.

—E então? Trouxeram? — perguntei logo em seguida. June tirou a mochila das costas e abriu, revelando duas garrafas de vodca e diversos maços de cigarros. — Boa, caralho. — completei, mas sem muito ânimo.

April que tragava de uma maneira sexy estava apoiada no ombro do irmão mais velho. Ela tinha belos cabelos compridos e pintados de vermelho que desciam até as costas como uma cascata de lava fervilhante. Seus seios se destacavam de uma maneira sensual. Salientes e redondos, ela frequentemente reclamava de dor nas costas por causa deles. E eu digo por experiência própria que as melhores partes de pegar nela são os peitos.

Ela me deu um tapa quando notou que eu encarava descaradamente os melões que ela tinha nos lugares dos seios.

—Pervetido — me repreendeu. Eu dei de ombros sorrindo.

Já June era mais baixo que a irmã, o que era um pouco constrangedor para ele. Tinha pernas curtas e braços longos, exatamente como um nadador olímpico. Cabelos castanhos, um pouco de acne no rosto, mas nada que lhe impedisse de pegar umas garotas gostosas pra caralho. Ou garotos. E ele tem um pau maior que uma torre e eu não estou falando da Eiffel. Claramente seu maior ponto forte.

E, tipo, não que eu seja a favor do incesto — na verdade, estou pouco me fodendo para isso —, mas ver os dois se pegando era uma visão dos deuses.

—E aí? A gente vai para nossa casa ou ficamos aqui? — perguntou April. Ambos os lugares eram bons, pois eles moravam sozinhos, já que eram maiores de idade e na minha, a querida mamãezinha não se importa.

—Que tal — comecei, com a cara fechada. — vocês irem transar em algum lugar, enquanto eu fico com essas belezinhas aqui...?

—Hã, não? — ela falou como se fosse óbvio. E talvez fosse mesmo.

—E a gente a recém fez isso. — ele me olhou sério, como se tivesse me contando sobre o que comeu no café da manhã. E quem sabe ele realmente tivesse.

Olhei no fundo dos seus olhos, com os lábios franzidos, segurando June pelos ombros, eu disse:

—Eu não precisava saber disso. — ambos riram.

—Tá, mas, qualé, Bill. Você nunca dá pra trás. — April reclamou.

—Né! Mas nos conta, o que tá te perturbando, querido amigo? — ele colocou os braços em volta dos meus ombros, deixando seu rosto muito perto. Tão perto que tive que resistir o impulso incomodativo de pular em cima dele.

—Não é nada... — menti, me afastando dele e revirando os olhos.

—Eu sei o que tá te atazanando. — olhei para ele preocupado. Ele completou, sério, deixando tudo mais engraçado:  — Você pretende fugir para China com apenas a roupa do corpo e cinco gatos siameses, né? — tentei conter o sorriso, mas, merda, ele é bom em desfazer a cara emburrada dos outros.

—Caralho, isso foi muito específico — comentei, ainda rindo. — Como se eu fizesse isso toda sexta à noite depois do jantar. — ele deu de ombros.

—Não quer contar mesmo?

—Hm, hoje não.

—PORRA! — gritou April, visivelmente irritadiça. — Parem com esse papo de viadinhos e vamos beber logo!

—Ela tá certa. — falei para June.

—E qual o problema com o nosso papo de viadinho? HOMOFÓBICA! — foi a vez dele de gritar, imitando as militantes chatas do Twitter com uma voz mais afeminada.

—É! — concordei com o mesmo tom de voz. April colocou a mão nos olhos e suspirou.

—Só... vamos beber logo.

Ambos concordamos e fomos para minha casa.

***

Na escola Santa Elizabeth de Gardênia — a única escola privada da região —, o dia passava tão vagorosamente que parecia que o tempo estava parando.

O Sr. McCarthy — professor de filosofia — fazia a chamada enquanto eu viajava, olhando para a janela. Eu acompanhava com o olhar as folhas caindo das árvores. Elas rodopiavam e iam para um lado e para o outro até pousarem no chão, onde perderiam o resto de vida que tinham-lhes e seriam pisoteadas por um bando de adolescentes ricos e mimados.

Suspirei, desanimado.

E então, fui tirado a força dos meus pensamentos quando ouvi o nome dele:

—Alaska Fisher? — disse o professor olhando ao redor, procurando de maneira fútil o garoto que não se encontrava no recinto. — Alguém tem notícias dele? — perguntou Sr. McCarthy, sem interesse.

—Ele tá... bem. Eu acho. — respondi. Geralmente eu não interajo com os professores, mas eu pude abrir uma excessão hoje.

—Ah, Sr. Thomas. Não sabia que você e o Fisher eram amigos. — ele fez uma pausa para organizar alguns papéis. — Mas fico... feliz em saber que ele está melhor. — ele obviamente mentiu. Até um idiota como eu pôde perceber.— Me mantenha atualizado

—O Fisher não era um ano mais velho que a gente? — perguntou uma menina aleatória que eu sequer me dei trabalho de decorar o nome.

—Aparentemente os pais dele fizeram ele reprovar por ter faltado muitas aulas por causa da internação. — disse alguém que eu também não sabia o nome. Pensando bem, eu não sei o nome de quase ninguém daqui. E olha que eu estudo aqui desde sempre.

Todos sabem da sua vida. Pensei. Ele deve ser bem conhecido na cidade.

Mas então... Como eu nunca tinha o notado antes? Não é como se desse para ignorar alguém com uma aparência tão diferente. Qualé, eu não sou tão tapado, sou?

Flowers for AlaskaOnde histórias criam vida. Descubra agora