Segredos perdidos, segredos achados.

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Todas as vezes em que Pryia vivia uma situação perigosa, ela repetia para si mesma que não estava com medo.

Foi assim quando ela deu por conta do sumiço do mapa que leva até o baú do tesouro do povo submerso.

Foi assim quando o navio estava prestes a naufragar. Foi assim quando ela precisou nadar pela sua vida até que alguém a resgatasse.

E com certeza estava sendo assim, agora que três adoráveis sereias estavam sentadas na popa à sua frente, seus rabos de peixe balançando alegremente imitando o movimento que deveriam fazer na água.

Tons entre o azul, dourado e rubro salpicavam seu brilho translúcido contra a luz da meia lua.

Ela continuava entoando a canção de ninar, e por dentro ela afirmava que não teria medo.

E como sempre, era uma mentira. Pryia aprendeu que na vida, frequentemente as mentiras são muito melhores de serem ouvidas do que as verdades.


A canção já estava no final quando Pryia aproveitou para analisar as criaturas. A primeira tinha um cabelo longo e azul com a meia-noite. Seus olhos eram como esmeraldas afiadas, combinando com o seu sorriso lascivo e mortal.

A que se sentava no meio, possuía cabelos que certamente seriam dourados sob o sol, mas que agora a noite pareciam castanhos, assim como seus olhos. Ela parecia a mais doce e inocente de todas.

Pryia fez uma nota mental de ter cuidado especialmente com ela.

A terceira era absolutamente alaranjada da cauda até o último fio de cabelo. Ela tinha caninos afiados em um sorriso que poderia fazer homens desmaiarem ao mínimo relance enquanto entoava a mais bela das vozes.


Por pura e inútil vaidade, assim que a última nota se estendeu ecoando nas ondas, Pryia reparou em seu estado. Seu cabelo amassado pelo travesseiro, sua blusa branca já estava com o tecido puído e desgastado, suas pernas nuas. Ao menos o aroma cítrico de laranja que emanava de sua pele era agradável.

Melhor do que o fedor de peixe fora d'agua.

As sereias agora a encaravam com o olhar brincalhão.

- Irmãs, vocês não acham que essa coisinha bípede desafinou um pouco? - A jovem pirata fitou seus olhos verdes como o mar de Cascais.

- Você diz um pouco porque sempre foi a mais meiga de nós. - Seus cabelos dourados pingavam na sua cauda, tilintando, e ela deu um sorriso malicioso como se Pryia não estivesse bem ali.


Talvez ela não estivesse.

Talvez isso fosse um sonho.

Faria muito mais sentido.


- Ela até que é bonita... Se você tem um gosto para coisas sem graça. - Pryia sentiu seu coração recolher em seu peito. 

Mesmo sob a luz das estrelas, ela podia notar a cauda luminescente que flertava com tons de vermelho, assim como seus cabelos que certamente formariam cachos se ela passasse tempo o bastante no sol. Ao amanhecer sua visão seria impossivelmente bela.

- Eriela, você é terrível! - A sereia de cabelos azuis bateu sua barbatana na cauda laranja de sua irmã, vacilando seu equilíbrio.

- Irmãzinhas, chega! - E com um comando de sua voz, até as ondas se calaram. 


As sereias trocaram seu sorriso brincalhão por uma expressão séria. Seu olhar analítico agora perfuravam o de Pryia, que seguia sem palavras. Sem ação. 

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⏰ Última atualização: Feb 08, 2021 ⏰

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