Capítulo 4 - Três deles

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Musachimpo se encontra com Gutan no meio do caminho, e eles ficam se encarando por alguns momentos a vários metros um do outro, até o olantugango retirar as espadas dele de sua cintura e deixá-las no chão e se afastar lentamente, só então Musachimpo se aproxima para pegá-las e enfim começarem o duelo. Um menino de rua foi pegar as espadas e fugir, mas Musachimpo tacou uma pedra na cabeça dele, e depois disso bastou um olhar intimidador para afastar não só o menino, como os curiosos.

O chimpanzé pega suas espadas e as prende na cintura, sua coxa ainda doía pelos ferimentos do dia anterior, mas ele não transpareceu, apenas respirou e começaram a se posicionar, Gutan retira sua nagamaki e deixa a bainha fincada no chão, colocando-a para trás e ficando de lado.

Ambos conheciam as técnicas um do outro e Musachimpo soube que Gutan não iria querer prolongar a luta, apesar dele ser mais forte e ágil, a versatilidade da técnica Jiàngyóu de duas espadas dele era perigosíssima, pois exigia reações muito rápidas por parte dos inimigos, embora a distância não fosse das maiores, e a vantagem do campo aberto estavam com Gutan.

O Chimpanzé saca ambas espadas segurando-as para baixo, com apenas os dedos polegares, anelares e mínimos, pois correria usando os dedos médios e indicadores como apoio, este avanço que era perigoso para Gutan e sua comprida nagamaki, ele teria que improvisar, e trocar de posição, deixando a lâmina na frente de seu corpo, uma postura nitidamente defensiva.

Musachimpo respira fundo, doía, mas nem tanto assim, fecha seus olhos inspira uma última vez antes de iniciar a corrida, que rasga o chão de terra e pedra do parque com seus pés e mãos, e em menos de um segundo atravessou os vinte metros que os separavam, Musachimpo não atacaria por cima pois a vantagem pela distância seria de Gutan, tentaria dois ataques laterais por baixo.

O grande lorangolango havia decidido corretamente, e com seu alcance maior sabia que o ponto forte de Musachimpo seria completamente anulado contra ele em campo aberto, se não seria um ataque vindo de cima, logo, viriam pela base. Gutan conhecia seus pontos fracos, suas pernas curtas e cansadas de carregar tanto peso o tempo todo, se feridas, seria uma vitória garantida.

Com isso em mente, bem antes de Musachimpo chegar a seu alcance, ele finca sua nagamaki no chão e a firma usando seu pé esquerdo, retira completamente seu pé direito do chão fazendo uma "rampa" para os ataques de Musachimpo, que decidiu terminá-los para depois reagir, pois esse primeiro movimento já havia perdido.

A katana e a tachi se esfregam na grande lâmina da nagamaki liberando muitas faíscas enquanto o chimpanzé sobe apenas se deixando levar pela cinética e uma vez no ar vê que Gutan ao cair de joelho direito no chão, solta seu pé esquerdo e com seus dois longos braços servindo de força motriz apoiados no grande cabo da nagamaki, a puxa retirando-a do chão e desferindo um golpe avassalador, Musachimpo só pôde contar com suas reações mais rápidas e apoiar a lâmina de sua tachi que era bem mais curvada com os dedos do pé e seu joelho e mão, para desviar a força de Gutan, era como bloquear uma locomotiva, e olha que ele já tinha feito isto. Ao menos foi essa lembrança que Musachimpo teve quando aterrissou a dezenas de metros dali.

As pessoas na rua finalmente tomaram juízo que um embate entre dois macacos samurais estava ocorrendo ali, e logo a notícia começa a correr por toda cidade.

Musachimpo ouve os passos pesados de seu oponente vindo em sua direção, e logo rola para o lado, apenas para ter seu quimono cortado, em um lance de sorte um poste de luz estava no caminho, o que diminuiu uma fração da velocidade do ataque de Gutan, mas já o suficiente para não tê-lo matado.

Ele termina a rolagem para ver que Gutan estava de pé olhando para um lado sem prestar atenção nele, e apesar de ser uma oportunidade de ouro para derrotá-lo, sabia que seu ex-colega de dojo não contava com este tipo de malícia em combate, e era bem honrado, menos experiente que ele, mas ainda assim certamente não cometeria este tipo de erro absurdo, e só então percebe que dependendo do que fosse sua vida teria terminado. Ele olha para o mesmo lado era Bob vindo como um meteoro, que, ao ser percebido grita gloriosamente, Musachimpo salta para trás para fugir do golpe da nodachi imensa, uma coluna de poeira e terra se levanta.

O chão nas imediações treme e ainda em meio a terra que subia, a lâmina vem pela lateral na direção de Musachimpo que esquiva a cabeça com relativa facilidade, Bob não era rápido como Gutan, mas era o mais brutal e selvagem dentre todos eles, a questão era que os golpes haviam ficado mais rápidos do que eram alguns anos atrás.

Isto poderia ser preocupante, pois caso ambos se aliassem contra ele seria uma morte certa, mas Gutan já se sentava em um banco. Com uma troca de olhares Musachimpo agradece e Gutan compreende.

Quando a nuvem de poeira se assenta, Bob estava com um supercílio cortado e com um olho fechado pelo sangramento, além de algumas facas fincadas em suas costas, e diversos outros pequenos buracos de perfuração espalhados pelo corpo.

– Lhe encontrei finalmente mestre de Jiàngyóu! Eu serei seu oponente e doarei a recompensa de sua cabeça para os orfanatos do mundo todo! –

– Em quanto está a recompensa pela minha cabeça?! Tão alta assim? – E Musachimpo olha para Gutan para ter uma confirmação, que veio com um triste sorriso entre lábios cerrados e olhos abertos ao máximo.

Mais dois ataques são esquivados, mas Bob conseguiu ficar mais perto de seu oponente o suficiente para conseguir dar-lhe um soco no estômago, e enquanto estava perdendo o ar, viu que Bob puxaria a nodachi e certamente ele iria perder um braço ou perna, então focou-se em saltar, por cima do babuíno e cair do outro lado, ele tomava ar quando viu o arrasto que a movimentação da nodachi fazia. Era como se fosse um leque do inferno que destruía tudo o que tocava, uma espada tão comprida e larga quanto aquela pareceria impraticável nas mãos de qualquer um, mas este era o diferencial de Bob.

Se ele não estivesse tão ferido, talvez este embate já teria terminado, pelo mero pensamento que Musachimpo pressupôs ter de seu inimigo baseado em uma análise de anos atrás. Não mais subestimaria seu oponente. Nem poderia, porque se o fizesse estaria fudido.

– E esses ferimentos!? ... Quem te fez isso!? – Ele tenta ganhar o máximo de tempo possível para que pudesse retomar o fôlego perdido com o soco. Bob apoia a nodachi em seu ombro, e começa a abrir e fechar a mão, afim de colocar sangue nela novamente, certamente estava dormente pela falta de sangue ali.

– Os filhos dele fizeram isso com ele. – Revela Gutan.

– Ele não foi jantar em casa ... – Completa Musachimpo.

– Eu sei, encontrei com ela ontem. – Mas a conversa paralela entre o chimpanzé e o tagorotango faz Bob perceber que seu oponente apenas queria ganhar tempo. Como sempre ele avisa seus ataques com um rugido, mas havia algo de diferente em seu olho, um brilho vermelho que deixava um rastro ao se movimentar, a nodachi encosta no chão cortando o concreto, Musachimpo nunca tinha visto essa posição, Bob chuta sua espada para levantá-la novamente e com apenas um braço segurando-a, gira seu corpo deixando o peso dela fazer o resto, Musachimpo conseguiu se esquivar com relativa facilidade, mas graças aos tamancos de Bob, pôde ouvir o balé que ele fazia se aproximando, e no intervalo ínfimo que ele estaria de costas Musachimpo decidiu atacar antes de Bob terminar seu movimento.

Bob conhecia seus pontos fracos melhor que ninguém, e todas as facas e cicatrizes em suas costas eram provas disso, com um movimento que ele certamente aprendeu copiando sua esposa humana, joga sua coluna para frente e levanta seu pé para bloquear o ataque com seu tamanco, e consegue pôr o pulso de Musachimpo entre os tacos de madeira do solado, e como Bob era muito mais forte, puxa-o e joga Musachimpo no chão como um lutador de judô, e ainda com apenas um braço continua o movimento do nodachi e ela vem como uma guilhotina.

Musachimpo viu sua morte se aproximando, seu coração bateu fervorosamente, seu corpo congelou e apenas conseguiu reagir instintivamente, forçou seu braço até ele ouvir um estalo, e se posiciona debaixo do babuíno e o levanta por completo do chão com chutes em seu peito. Bob cai no chão rolando, e imaginando que Musachimpo o atacaria, gira sua nodachi às cegas, não atingindo ninguém.

O velho chimpanzé agradece ter apenas deslocado o braço e com um movimento que doeu bastante, mas muito efetivo, coloca seu braço no lugar novamente. Viu Bob se ajoelhando e colocando a nodachi sobre sua coxa, seu braço direito estava imóvel. Respirava pesadamente, até quase estirar algum músculo.

– Você melhorou muito Roberto ... – O chimpanzé reconhece, coisa que o babuíno pareceu ter ouvido e ficado feliz. Mas não houve tempo para descanso, Musachimpo se vê obrigado a investir na direção de Bob.

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