battle scars - livro 3

3

JADE POV'S 

Jogo a bicicleta no quintal e vou para dentro de casa fazendo a menor quantidade de barulho possível. Sei que minha mãe vai estar em casa, se não estiver vai chegar daqui a pouco. Não quero falar com ela. Não quero falar com ninguém. 

Subo até o segundo andar e entro no meu quarto. Jogo a mochila no chão. 

O fato de que eu não suporto estar na escola, mesmo que eu não fique sozinha, ou fume no banheiro, chega a ser engraçado de tão trágico. 

Entro no banheiro. Tiro minha roupa e jogo todas as peças em um canto. Ligo o chuveiro  e observo a água esquentar. Vejo o vapor começar  a subir e preencher todo o cômodo. Me coloco em contato com a água. 

Ouço o barulho que Heide faz. Elas chegaram. Me olho no espelho. Cabelo molhado ainda do banho. Mas meu rosto parece normal. Nada muito vermelho ou inchado. Sem preocupações para meus pais hoje. 

- Oi J - Heide entra no meu quarto e senta na cama - como foi seu primeiro dia? 

Ela olha para mim cheia de expectativas enquanto espera que eu conte como foi maravilhoso, fiz um milhão de amigos novos e está tudo perfeitamente bem no ensino médio 

- Bem, e o seu? 

- Tive aula de pintura hoje - ela tira o cabelo do rosto do jeito que crianças fazem. Me aproximo dela e arrumo o cabelo para ela - Vamos fazer alguma coisa? - ela pergunta sorrindo para mim 

- Quero ver você desenhar

- E você não vai fazer nada? 

- Eu vou ver - ela diz como se fosse óbvio 

Pego um caderno na minha escrivaninha e um lápis. 

- O que vamos desenhar hoje? 

- Uma fada - ela diz animada e eu rio baixo 

Começo a desenhar enquanto ela olha atenta a cada traço que eu faço no papel amarelado. Continuo a desenhar e ela me incentiva com comentários. Depois que o desenho a lápis está pronto ela pede para escolher as cores para colorir. 

Passamos um tempo colorindo a fada e rindo. Isso é tudo que me quero do mundo. Heide. Sei que de noite vou rezar para que quando ela cresça continue gostando de passar tempo comigo, ainda conte seus segredos para mim e ainda veja como preciso dela. 

- Eai gatinhas - Luke entra no quarto ainda com o uniforme do treino de futebol - que estamos fazendo 

- Oi Lu - Heide sorri e pula da cama 

- Você tá fedendo - sorrio para ele que sorri de volta 

- Onde a mamãe tá? 

- Tinha um caso para terminar - Heide dá de ombros - tá no escritório, ela disse que ia acabar umas cinco 

- Vocês querem sair? - ele pergunta e os olhos de Heide brilham 

Ele é o herói dela. Óbvio que é, ela tem ele na palma da mão, nunca vi ele dizer não para nada que ela diz. 

- Vamos tomar sorvete? - Heide pula de alegria 

- Só preciso tomar banho antes, vão falar com  a mamãe - Ela abraça as pernas dele 

- Vocês são os melhores irmãos 

- Eu sei, eu sei - Luke bagunça o cabelo loiro dela - vejo vocês em dez minutos, estejam prontas 

Ele vai para o próprio quarto e Heide me puxa. 

- Vamos falar com a mamãe - ela sorri 

Andamos até o andar de baixo e paramos encostadas na porta do escritório. Ela está falando no telefone. 

- Um minuto - ouço ela dizer lá de dentro 

Então ela abre a porta e nós duas quase caímos para frente. 

- Do que vocês precisam meninas? - meu olhos se arregalam, como ela percebeu que estávamos aqui

- Podemos ir tomar sorvete? 

- O Luke vai com vocês? - Heide faz que sim - podem, estejam de volta as cinco, eu já vou ter acabado de trabalhar - ela beija nossos rostos e fecha a porta em seguida 

Heide sorri e corre escadas acima. Eu vou atrás dela. Andando, não correndo entro no meu quarto. Vejo Heide amarrando os sapatos sentada no corredor, esperando Luke sair do quarto. 

Quando ele está pronto vamos até a sorveteria, são dez minutos de bicicleta. Eu vou na minha e ele na dele com Heide sentada atrás. O vento bate em nossos rostos. Não está calor como de manhã. O sol já está baixo e aproveitamos a brisa. 

Estacionamos a bicicleta e Heide vai escolher uma mesa enquanto pedimos os sabores. Chiclete para ela. Chocolate para Luke. Baunilha para mim. 

- O que aconteceu? - ele sussurra para mim na fila

- Nada aconteceu, Lu 

- Você está com a cara 

- Que cara?

- De que alguém mencionou - ele olha ao redor - você sabe 

- Ninguém mencionou estupro - ele olha fixo para mim - você pode falar, não mata sabia - meus olhos começam a se encher de lágrimas - estupro, estupro, estupro, viu, nada aconteceu, Luke, pare de ser um medroso de merda 

Deixo dele sozinho na fila e saio da sorveteria. Olho para Heide no caminho que está muito distraída brincando com uma garotinha para prestar atenção em mim. Sento na entrada da sorveteria enquanto tento regular minha respiração. 

Alguns minutos depois Luke senta do meu lado. O sorvete dele em uma casquinha e o meu em um potinho. Ele não diz nada. Só entrega o pote para mim. 

- Você deixou Heide sozinha - falo sem olhar para ele 

- Ela tá brincando com uma menina lá dentro, avisei que a gente tá aqui fora - ele dá de ombros e começa a olhara para o mesmo ponto fixo do que eu 

- Desculpa - falo baixo, sai como um sussurro 

- Tudo bem - e então ele me perdoa. Ele sempre me perdoa por seu uma vaca escrota. Sempre vai me perdoar, porque ele simplesmente não desiste logo, porra. 

- Como foi o treino? 

- Igual sempre, como foi o primeiro dia? 

- Igual sempre 

- Tem uma menina na minha sala de geometria, ela é estranha, parece legal, você ia gostar dela, até o nome dela é estranho, é Vênus 

- Você precisa parar de fazer isso 

- Fazer o que? 

- Fazer amigos por mim, eu não tenho oito anos 

- Só tava tentando ser legal, J, mas esquece então - ele respira fundo - só quero que você seja feliz, tá legal? Para de ser tão grossa

- Porque? 

- Porque o que? 

- Porque quer tanto que eu seja feliz, Luke? 

- Porque você merece 

- Quem disse que eu mereço 

- Eu disse - não digo nada, recosto minha cabeça no ombro dele. Ele encosta a cabeça na minha. O meu sorvete já derreteu, está uma sopa. Ele já tomou o dele. Não falamos nada por um tempo. 

- Você foi a primeira pessoa que eu amei - eu sussurro perto dele - mesmo antes de saber o sentimento de ser amado - minha garganta fecha - desculpa, eu juro que eu estou tentando 

- Eu sei que tá - ele sussurra de volta desenhando círculos na palma da minha mão - eu também te amo