battle scars - livro 3

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JADE's POV

Vee leva Heide todos os dias até a academia de dança. Heide estuda de casa. Heide tem professores particulares. Heide vem ao meu quarto as duas horas da manhã porque não consegue dormir.

E isso está me matando. 

Tentamos convencer ela a sair, mas ela quer continuar. Todos os finais de semana tem competições, os treinos são de cinco horas, ela está exausta. Ela está com medo. Medo de falhar. 

Tem sido o mês mais estressante da vida dela. 

- Só estou dizendo que ela está meio grande pra dormir na sua cama - Luke diz antes de colocar outra garfada de macarrão na boca 

- Para, Luke, deixa ela, se Heide se sente mais segura dormindo na minha cama, então não tem problema 

- O primeiro episódio sai na semana que vem - ele não tira o olho do prato 

- Eu sei 

- Ela tem um instagram agora - ele respira fundo - comandado por uma equipe 

- Eu sei 

- Essa porra está me deixando louco - ele finalmente olha para mim 

- Eu sei - brinco com meu garfo - de qualquer forma ela não quer desistir, então temos que apoiar ela, a Vee está sempre nos treinos trabalhando no próprio estúdio para poder ficar de olho nela

- Queria que o pai e a mãe tivessem recusado 

- Eu também, mas agora não tem jeito 

- O aniversário de James está chegando

- O que eu tenho a ver com isso? 

- Ele vai poder dirigir - Luke sorri para mim - vai ser perfeito - sorrio de volta sem dizer nada 

Quando as aulas terminam vou para casa. Está quieto demais. O tipo de silêncio que te sufoca. O silêncio que te faz ouvir o ranger dos móveis. Vou atrás de Heide. 

Toco a campainha da casa da Vee. Mas James abre a porta. Com a calça de moletom pendendo na cintura e o cabelo molhado. Meu recuso a olhar para seu peito nu. 

- Que porra você quer, Jones? 

- Minha irmã está aí? 

- Não - ele começa a fechar a porta mas bloqueio com meu pé

- Quando elas vão voltar? 

- Eu não sei tá legal, agora vai embora 

- Desde quando você é um escroto?

- Desde quando você é uma escrota? - franzo as sobrancelhas - mas você é tão disputada, não é Jade, quem você vai beijar hoje? Sua amiguinha ruiva ou o cara que quer te comer 

- Cala a boca 

- Mas todos devem ter uma paixão secreta por você - ele continua falando 

- Cala a boca - minha voz sai mais baixa 

- Todo mundo é tão obcecado por você, você é tão linda e gostosa e- soco o nariz dele 

- Eu te odeio - um fio fino de sangue escorre por baixo da narina e ele coloca a mão para estancar o sangramento - e espero que você morra da forma mais cruel que existe 

- Eu também - ele bate a porta tão forte que eu salto pra trás 

Minha garganta dói. Preciso estar no meu quarto antes de derrubar qualquer lágrima que inflara o ego dele. 

Eu também. Eu também. Eu também. Eu também.

Fecho a porta do quarto. E em seguida a do banheiro. Foi pelo meu corpo. Foi sempre pelo meu corpo. 

Com a Vênus, foi pelo meu corpo. 

Com Noah, foi pelo meu corpo. 

Com o cara antes de todos esses, quando eu tinha oito anos, foi pelo meu corpo. 

Um pedaço de carne. 

Sempre foi assim. 

Sempre vai ser. 

Eu nunca vou ser nada mais do que isso para alguém. 

Então eu me pergunto, e volto a me perguntar, o que eu fiz de errado? Em que eu tanto errei para tudo isso. 

Tudo volta a doer. Como se eu tivesse quatro anos de novo. E depois cinco, e depois seis, e depois sete e por fim oito. Minha pele queima e derrete, voltando a ser macia como a de uma criança. 

O cheiro de cerveja e mijo. A sensação de ambiente úmido e escuro. Está doendo tanto que parece que eu vou morrer. Está doendo como se fosse a primeira vez. Está doendo mais do que todas as que vieram depois. 

- Jade abre a porra dessa porta - Ouço Luke esmurrar a madeira branca do outro lado. Não sei a quanto tempo, mas me levanto e abro a porta 

Me jogo nos braços dele. De novo. Porque são os únicos que eu conheço. Os únicos que eu quero. 

- Vem, vai ficar tudo bem - ele me deita em seu colo enquanto tira os nós do meu cabelo

Eu continuo deitada de lado enquanto as lágrimas se acumulam em sua bermuda. Ele não pergunta. Ele não fala nada, mas é o melhor silêncio que eu já senti. Ficamos assim por muito tempo. Ele não se cansa de passar os dedos pelo meu coro cabeludo e eu não me canso de sentir seus dedos pelos fios do meu cabelo. O sol começa a baixar. Eu finjo ter dormido para ele poder levantar. Ele me cobre, liga o abajur do outro lado e começa a ler.

Quando percebo que realmente peguei no sono me forço a acordar. 

- Fala baixo, Heide, ela está dormindo 

- Ela parece triste - ele não diz nada - posso tocar o rosto dela? Sem acordar, bem de leve, ok? 

E então as mãozinhas quentes dela tocam meu rosto. Ela tira pequenos fios da frente dos meus olhos e beija minhas bochechas, a ponta do meu nariz e minha testa. 

- Acho que agora ela vai ficar melhor - ela se esforça para sussurrar o mais baixo possível

- Com certeza, gatinha, vem deitar aqui comigo e com a gente então 

- Você também gosta de dormir na cama da Jade 

- Temos que concordar que é a melhor cama - tenho certeza que ele está com aquele sorrisinho no rosto enquanto fala com Heide 

- Também gosto mais daqui do que do meu quarto - ela mexe nos lençóis enquanto se ajeita na cama - a respiração dela é bem devagarzinho quando ela tá dormindo, sabia? 

- Você sabe de muitas coisas que eu não sei, gatinha