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Dias atuais

JADE's POV

Segunda feira. De novo. Encarar Noah. De novo. Só que dessa vez depois de ter chupado o pau dele.

Poderia ser pior. Tento me convencer, mas não, não poderia ser pior. Nada seria pior do que ter seu tio te arrastando para fora do quarto de um garoto, enquanto você está bêbada pagando o seu primeiro boquete.

Nada seria pior do que o seu irmão cuidando de você bêbada enquanto acalma seus pais no andar de baixo.

E tudo isso no seu primeiro mês no ensino médio.

James não olha para mim. Ele me evita a todo custo, o que é bom, já que não espero nenhum tipo de empatia vindo dele. Mas continua sendo estranho ter que andar de bicicleta ao lado dele toda manhã enquanto tentamoa fingir que está tudo sob controle.

Luke passou o final de semana inteiro tentando me confortar me dizendo que ninguém se lembraria, porque todos estavam chapados demais para isso, mas ele se lembraria, Noah se lembraria.

Fico surpresa quando chegamos até a escola e James não fez nenhuma piada sarcástica ou sexual sobre sexta feira. Não o vi desde que quase expus toda a minha vida no banco de trás.

Forcei Luke a me contar cada detalhe do que aconteceu, e a cada frase ficava pior, como se meu cérebro não entendesse o limite da auto humilhação.

Ninguém olha estanho pra mim no corredor, o que é um alívio. Mas ai vejo Noah, e mesmo que ele tivesse esquecido tudo ainda seria vergonhoso.

- Oi, Jade - ele se aproxima e sorri sem mostrar os dentes - você não respondeu minhas mensagens

- Ah, eu hã, perdi meu celular - tento sorrir

- Claro, é, ficou tudo bem? - ele olha para os lados antes de continuar - sabe, depois que você foi embora com seu - ele hesita - guarda costas? 

- Ah, sim, ficou tudo bem, e a festa foi super legal 

- Eu tenho que ir pra aula, mas a gente deveria sair um dia desses, só nós dois - ele sorri e sai

Vejo Luke andando até mim com sua cara típica de "me conte tudo". 

- Como foi com o sr. bonitão? 

- Ele quer sair de novo? - dou de ombros - talvez eu seja boa em boquetes 

- Cala a boca Jade - ele me repreende - você ainda está bêbada? 

- Muito engraçado - mostro o dedo do meio para ele, então desvio o olhar e vejo James e ele está falando com Penélope, a garota do segundo ano do primeiro dia de aula 

Ele olha para mim. Espero ele desviar o olhar e continuar falando com ela, mas ele não o faz. E eu também não.  Penélope começa a virar o rosto em minha direção para saber o que ele está olhando e eu desvio o olhar pra Luke. 

- Eles ficaram na festa? - ele explica

- Porque ele não contou pra gente 

- Bom, ele contou - Luke coça a nuca - para mim e para o John 

- Porque ele não me contou? Ou melhor, porque você não me contou? - enfatizo o "você" 

- Normalmente sempre que eu cito James você parece vomitar - ele dá de ombros - sério, Jade, você é cruel com ele sem razão

- Eu? - aponto para mim mesma 

- Sim, você, mas sabe, acho que ela chupou ele, então é como se vocês fossem melhores amigos 

- Vai se foder, Luke 

- Com todo o prazer, maninha - ele pisca para mim e me viro para ir pra aula - não esquece da competição da Heide hoje a noite 

Me viro para responder mas James ainda está olhando para mim. 

- Eu nunca esqueceria, ela é minha irmã favorita - sorrio para ele e vou para a aula

... 

- Eu não quero ir - Heide chora para mim enquanto eu faço sua maquiagem 

- Mas você ama dançar, meu amor - limpo as lágrimas da bochecha dela - qual o problema? 

- Vão ter olheiros - ela fala com a voz embolada - eles vão ver se sou boa o suficiente para dançar na academia deles 

- Você quer dançar lá? 

- Sim, mas eu posso não ser boa o suficiente 

- Ah, meu amor, eu tenho certeza que eles vão te adorar

- Luke disse que eu sou a melhor dançarina do mundo 

- Bom, eu concordo com ele

Acabo de arrumar ela e me arrumo. Heide fica sentada na minha cama observando cada passo. 

- Quando eu crescer eu quero ser igual você - paro tudo e olho para ela

Essa garotinha é tudo na minha vida. A seis anos atrás, um pouco antes dela nascer, eu não tinha nada, então ela chegou, e do dia pra noite eu tinha o mundo inteiro. Eu a vesti como uma boneca, a levava no colo para onde eu ia. 

Ensinei ela a xingar e depois me arrependi porque nossos pais iriam descobrir. Eu ela e Luke. Éramos nós três, e para mim isso era um sonho. Eu amo meus pais, de verdade, e muito. Antes deles eu não sabia o que era amor, não entendia o que meu pai biológico fazia comigo, tudo era dor. 

Mas a conexão que eu tenho com os meus irmãos é completamente surreal. E eles sabem que são meu mundo. 

- Vamos, meu amor, está na hora - ela pula da cama e me abraça

- Obrigada - ela sussurra e eu quase começo a chorar também 

Todos nós entramos no carro e ajeito ela na cadeirinha. Sei que ela está nervosa, mas ela é muito talentosa, de verdade. Faz alguns meses que não vejo ela dançar ou competir, mas ela nasceu flexível como uma ginasta olímpica, e não tem medo de fazer saltos que quebrariam minhas pernas. 

Ela tem futuro nisso, mas ainda é muito nova, não quero que ela tenha que decidir agora se quer ser uma dançarina profissional, ela tem seis anos. 

- Mamãe, a tia Vee vai me ver na competição? 

- Vai sim, querida, ela, o Reggie e o James - tento não expressar nenhuma emoção.

- Olha aí, se não é seu melhor amigo - Luke sussurra no meu ouvido 

battle scars - livro 3Onde histórias criam vida. Descubra agora