Capítulo 14 - Só uma olhadinha

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Após quase ter um infarto e desmaiar em frente a uma multidão, fiz o meu discurso, seguido por Thomas. Por incrível que pareça, as pessoas me ouviram, talvez atrelado ao fato que minha mãe estivesse ao meu lado.

Os recém chegados a ilha tiveram que passar pela triagem de saúde e em seguida estavam aptos para poderem se registrar e passear pelas tendas e outras coisas que eram vendidas pelos aldeões. Foi quase uma tarde inteira de eventos, muitos apertos de mãos, sorrisos e calor. Agora que todo mundo estava disperso e eu já tinha cumprido com todas as minhas obrigações, tentei escapar e ir em direção ao navio.

Não foi tão difícil, não é como se eu fosse embora com ele. O transporte nem sairia por esses dias. Eu só queria conhecer, ter a sensação de como era entrar naquele barco tão grande e passar semanas nele rumo a infinitude de oportunidades que o mundo poderia me levar.

Os soldados que ficavam na entrada e guardavam o navio me deram passagem e eu entrei com o coração palpitando por pisar ali. Minhas mãos suavam enquanto eu tocava o corrimão e subia a plataforma até chegar ao solo do navio. Eu imaginei que ele balançaria mais, mas era apenas uma leve ondulação junto ao cheiro da água salgada do mar que o vento trazia enquanto bagunçava os fios dos meus cabelos.

Andei devagar, observando o máximo possível e guardando na memória o local que era o transporte para o meu sonho. Passando por um corredor, fui observando os cômodos. Ainda havia algumas pessoas remanescentes, trabalhadores do navio que terminavam de ajeitar algumas coisas por lá. Quando uns começaram a arregalar os olhos ao me ver, paralisar ou mesmo fazer reverência, achei por bem ser mais sutil. Assim que vi uma porta que dava ao que parecia ser um quarto vazio, entrei, parando de frente para o espelho para retirar a minha tiara real. Isso não ajudaria muito a não me identificarem, mas, pelo menos, chamaria menos atenção do que circular com pedras de diamante e ouro na cabeça.

Enquanto tentava terminar de ajeitar o meu cabelo, o barulho de uma porta se fechando dentro do quarto me assustou. Virei-me, trazendo a tiara junto ao meu peito e encontrando um homem sair de dentro do banheiro minúsculo que havia ali.

O homem arregalou seus olhos ao me ver e estancou no lugar. Eu não imaginava encontrar alguém ali ainda, mas agora, olhando ao redor, havia uma mala feita em cima da cama e alguns poucos itens masculinos espalhados pelo local.

Os olhos dele voaram direto para a minha tiara, perpassando por mim em uma análise tão profunda que fiquei constrangida. Eu mudei o peso do meu corpo de lugar com minhas pernas e pigarreei, tentando tomar o controle da situação. Eu havia sido pega em flagrante ali e estava invadindo, mas ainda era a princesa de Atra, eu era a autoridade ali.

― Você parece com a sua mãe ― ele falou, após o silêncio constrangedor, porém antes que a minha própria voz pudesse ter tempo de alcançar a boca.

Franzi o cenho levemente e o encarei.

― Não é algo que costumo ouvir com frequência ― refutei, pensando nos meus cabelos mais claros.

Ele abriu um pequeno sorriso, ainda de lábios fechados, e sua postura relaxou um pouco, aparentando mais leveza.

― Aí está. ― Ele apontou para a região da minha testa e eu entendi que ele dizia sobre a minha expressão.

Não sei que careta fiz nesse momento, mas o sorriso dele se alargou e fui tomada imediatamente de um sentimento de preservação. Não gostei do tom dele ou do seu modo de falar intimista, ainda mais aparentando saber mais do que um cidadão comum.

Dei um passo para trás, colocando mais distância entre nós.

― Fala como se a conhecesse.

Sua boca abriu e fechou rapidamente, mas eu deveria dar pontos a ele pela agilidade.

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