Capítulo 15 - Que comece o baile

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Nos últimos dias as coisas foram loucas. Entre terminar de organizar o grande evento, recepcionar os visitantes e políticos e preparar um baile, não sobrou tempo para que Thomas e eu trocássemos farpas. Muito menos que eu tivesse algum atrito com a minha mãe. Foi trabalho e mais trabalho, mas eu havia superado qualquer expectativa que tivesse colocado nesse evento. A festa estava estupenda. A iluminação, decoração, música, buffet... tudo em seu devido lugar. Fiquei surpresa comigo mesma, sabia que ficaria bom, mas estava simplesmente perfeito.

Os governadores e família foram recepcionados a se hospedarem aqui no castelo durante as festividades. Todos bem recebidos e acomodados, mas, na correria, consegui pouquíssimo tempo para falar com Kath ou Koddy. Esbarramos pelos corredores, mas era basicamente isso, com exceção da minha amiga, que às vezes invadia o meu quarto a noite tentando colocar o papo em dia.

Agora o restante dos convidados haviam chegado e eu estava pronta para fazer meu papel de anfitriã. O nervosismo pairava no fundo do meu estômago, pronto para atacar como uma gastrite mal curada e, por um segundo, eu desejei que Thomas estivesse ao meu lado para apaziguar. Ele era bom nisso e eu sei que deixaria as coisas mais leves. Tentei estudar o máximo que pude, mas detestava ter que ficar puxando assunto com pessoas que por trás eu sabia que me detestavam. Não todos, mas a maioria, pelo menos.

Cumprimentei a filha do governador de Repotte que chegava com seus dois irmãos atrás, como uma comitiva. Eles eram sempre assim, os trigêmeos de Atra. Prina tinha a pele escura e um cabelo encaracolado curto, adornado com um arco de cristais. Seus olhos cor de oliva estavam sempre compenetrados, analisando tudo ao seu redor. Ah, ela conseguia ser tão fria quanto o seu pai. Peter ainda tinha o rosto um pouco mais amigável, mas Postel conseguia ser uma cópia descarada. Eu nunca havia conseguido trocar mais do que algumas palavras com eles. Sempre parecia que estavam me julgando. Ou talvez fosse eu espelhando o pai sobre os filhos. De toda forma, queria fazer o possível para que nossa conversa fosse rápida o suficiente.

Minha mãe havia pedido na noite anterior que eu mantivesse o olho neles. Achei estranho, mas também compreensível, visto toda animosidade que tinha entre o governador de Repotte e nós. Ela tinha estado tensa durante toda a última semana, mais do que o normal. O que me levou a crer que tinha mais coisas acontecendo do que eu imaginava.

― A festa está deslumbrante, Aysha ― Prina comentou, enquanto passava seu olhar ao redor do salão. ― Sua mãe provavelmente deve estar orgulhosa de que esteja seguindo seus passos ― completou, voltando-se para mim.

Eu não esperava qualquer tipo de glorificação, por isso a minha surpresa.

― Muito obrigada. Espero que você possa aproveitar nossa hospitalidade e aproveite os festejos ― meu tom entoou feliz com o elogio. ― Quanto a minha mãe, sei que ainda tenho um longo caminho a percorrer até alcançar a grande Eleanor.

Mal completei a frase e uma voz que me causava arrepios intrometeu-se na conversa.

― Com certeza. Uma festa não prova nada. Assumir o reino é que mostrará se é apta ou não. Um baile é apenas uma futilidade que não alimenta a boca de ninguém ― disse o governador Pervati, colocando-se ao lado da filha e estendendo o braço para ela, pouco se importando por ter se metido grosseiramente em nossa conversa.

Pelo canto de olho eu achei ter visto Prina ter dado um leve suspiro, mas logo sua postura era austera como sempre. Eu esperava que não tivesse aberto a boca algumas vezes sem dizer nada, após o meu desconcerto com a situação. Não poderia ser insultada dessa maneira e ninguém me defenderia além de mim mesma.

― Concordo em partes com o senhor, Sr. Pervati. Realmente o baile é apenas algo ínfimo ao total do significado do que é reinar. É a minha primeira atividade das muitas que ainda farei e o sucesso desta só mostra a minha competência. O que estão vendo é apenas um fio de tudo o que eu ainda mostrarei. ― Inclinei meu nariz e olhei quase de forma autoritária e superior, tentando imitar as inúmeras vezes que minha mãe havia feito isso.

O Peso da Coroa | HIATUS |Onde histórias criam vida. Descubra agora