Desabafo

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Gostaria de deixar explicitamente claro, que aqui, as palavras as quais uso como um meio de poder comunica-los, não passam, senão, vulgaria e grosseira, forma de tentar contabilizar as forças de um motivo maior para as quais eu não sei: se estou em progresso ou retrocesso de consciência. Tentativa dialética da dança dos homens por não saber qual é o lado em que me encontro. Divino ou profano. Sanidade ou loucura. Falta-me o ar devido para que complete o meu ciclo respiratório, engarfado pulmão de nicotina que não permitirá dar continuidade ao fluxo. Percebo meu corpo doente. Percebo meu filtro da mente conspirando contra o meu ser. Não sei se estou vivo, não sei se existe morte. Trêmulo em mãos fronte à esta tela luminosa, quero tentar ser o mais direto possível, sem titubear com correções e exageros. O canal está aberto e deixarei então, este texto, sem exigir de correções ou pente fino, sem passada de lupa, sem detalhes minuciosos. Quero um tanto fazer diferente neste processo que me encontro de transformação, vide começo do texto, sem saber se progrido, ou, bestialmente volto todo o processo. Para os poucos que conhecem minha escrita – vale a mim tal ressalva – saibam que estarei tentando fazer sempre o diferente nado contra a maré, talvez incônscio, em meu leque de verdade. Realmente não sei o motivo deste relato e também não sei a que ponto quero chegar: estou, talvez, escrevendo de trás para frente, do fim ao início, ou se é que existe mesmo um começo ou fim; disso, nada, posso, afirmar. Rogo uma prece para que consiga termina-lo em tempo, e que este mesmo contabilizado cronômetro não me termine, assim como todos os relacionamentos amorosos em que passei, que definham minhas qualidades de bom amante, ao estar envolvido sempre com as depressivas lástimas de todas. Uma em particular, apareceu hoje em noite de sono e, talvez esteja aqui, ao meu lado, neste exato momento. Seu nome: Layla Oliveira. Faleceu aos 24 anos com ataque cardíaco. Sim, sim. De certo este ar que me falta, talvez seja interferência de taquicardia por excesso de sensibilidade pós-além, em comunicação extra sensorial à qual eu sinto, mas não consigo explicar. Entende? Estes contatos íntimos de minhas relações com todas estas que, a mim estão ligadas por um fio invisível, estranhamente, continuam a me sugar através deste elo. Uma última a qual não quero citar o nome, deixou tal percepção muito mais evidente em corpo, quando, ao me chamar de nojento, realmente não sei se estava a falar sobre minha carne perecível ou sobre este "eu" desprezível. Corro contra o tempo para devolver o instrumento moderno de datilografia que me foi emprestado, que não me pertence. Mesmo este: corpo ao qual uso como um meio. Prometi um livro até final do mês de setembro; este que, poderá salvar o meu destino ou me aniquilará por completo: tais promessas que, eu não sei se posso cumprir em prazos estipulados por expectativas. Minhas habilidades de escritor, de amante, de ser, de nada ser, estão atribuídas às vistas de um outro que coexiste. Percebo como "Bauman", a liquidez dos relacionamentos modernos que banalizam o amor verdadeiro, subvertendo reais valores à individualidade, à não dependência de nada, o que seria impossível e controverso. Volto a falar de Layla, em contrapartida, volto a falar de uma parte que em mim habita nesta construção imparável e infinitamente dependente de observações. Queridos; estou cansado de ter que pensar e gostaria muito de nada ter que fazer, a não ser, deixar que este vendaval passe levando meu corpo magro. Tenho medo do que me tornei em solidão, guisa expectativa da solitude. Me amedronta arrodeios de tais palavras em narrativa, porque sei, que voltarei ao ponto inerte da estagnação. Sinto como se estivesse entre cercos de arames farpados, onde um mínimo corte, seria o sacrifício necessário para conseguir escapar da agonia que me sufoca. Gostaria de um copo com uísque sem gelo, morte em nado raso, superfície flutuante. Então deixarei que rolem as águas tocadas a poluição, com detritos, sem razão. Esta não é uma história, apenas, desabafo às musas; fatos que perduram em inconsciente coletivo.

     Nos conhecemos na faculdade. Ela tinha um jeito gótico de se vestir. Sua mente ainda é viva, mas seu corpo morreria em alguns anos. Andava com insulina na bolsa, injetava-se, continuava a fazer tudo do modo errado. Amando errado. Parecido rosto da "Lana del Rey", parecido aspecto fúnebre de melancolia ressoada à voz mansa. Entupida em doce para que tirasse o amargo da língua e do sangue. Diabetes somou-se a depressão, subtraída de um mudo sem encaixe e sem forma. Eu era um moleque pra entender. Talvez ainda seja. Sou um miserável que falha a pegada do resgate e deixo todos caírem em seus abismos. Não que me cobre, − de certo modo, sim – mas sei da minha real capacidade em poder ajudar a este mundo doente e vazio; desde que, encontre minha real aptidão; o que faz duvidar dos meus métodos de escrita. Todas as quais me relacionei, sem exceções, foram e são, mulheres depressivas. Vivendo e morrendo. Layla e eu tivemos um caso marcado por incertezas. A grosso modo, nunca pareceu certo. Ela namorava um rapaz e o traia comigo nos intervalos das aulas quando: subíamos ao último andar do edifício, famoso, "quarto andar", área de refeição para os funcionários da instituição, estreada por nós, alunos pioneiros, primeira turma formada após anos seguintes, no curso de publicidade e propaganda. Aquele era o nosso canto. Dos amantes. Nos primeiros meses, a gente se tocava. Sua mão por dentro da cueca, e a minha dentro da calcinha. Não nos beijávamos. Um beijo? Não, não, não. Aquele seria o maior gesto de traição. O que dizer? Formávamos o casal mais e menos fodido da faculdade. – Todos sabiam do nosso caso. Menos o namorado dela que, insistentemente, fazia-nos visitas às sextas, pontualmente. Desfilava com o troféu em cabeça. Coitado. Estou morrendo de pena. – Eu a perguntava quais eram os motivos pra continuar com aquele cara. Me dizia que ele ameaçava suicídio se tivesse abandono, e ainda iria expor certos vídeos com intimidades. Não só isso. Eu gazeava aulas para cheirar cocaína no banheiro dos bares. Sem dúvidas, aquilo pesava em sua consciência, tanto que me falou deste processo inseguro: trocar o certo pelo duvidoso. Éramos bons amantes, tínhamos conexão, mas um relacionamento digno não é somente fruto da libido; outros pilares estão envolvidos e, eu, não estava preparado, de certo. Me fogem a conta exata deste tempo em que ficamos entre preliminares. Os dias parecem nunca terem tido as vinte e quatro horas estipuladas. Em um determinado momento, começamos a beijar e transar em meu quarto antes de irmos para as aulas. Na primeira tentativa, lembro de ter fracassado de nervoso. Não consegui ter uma ereção e inventei uma desculpa esfarrapada que envolvia o raio branco. Supôs então, que não havia agrado em seu corpo, que, de fato, era lindo em cada circunferência. Fomos até o espelho do quarto, eu por detrás dela, ambos nus. Segurou a minha mão, lançou em seios pequenos e redondos.
− O que acha? São bonitos? Eu não acho meu corpo bonito.
− Quanta besteira, Layla. Seu corpo é maravilhoso. Estou um tanto nervoso, eu acho. Não tenho tanta experiência. Pra ser sincero, esta é a minha segunda vez...
Entrei em processo duvidoso de masculinidade. Quanto mais eu pensava, menos conseguia. Outras coisas me atingiam, como os ciúmes. Não adiantava tê-la por um momento, sabendo que voltaria aos braços do outro. Estas preocupações certamente eram o moinho de energia motora para que existisse algo entre a gente.

Crônicas por Caique SantanaOnde histórias criam vida. Descubra agora