"A previsão para amanhã é de tempo instável, com queda acentuada da temperatura. As chuvas continuarão durante todo o período e a temperatura deve cair ainda mais. Ventos fortes do sul trazem mais uma massa de ar frio que..."
O estrondo de um raio, seco, rascante, invadiu o velho casarão acompanhado do clarão azulado do relâmpago com sua luz assustadora.
No mesmo instante, o grupo de jovens reunido à frente do pequeno televisor ouviu um estalo vindo do quadro de luz.
A imagem desapareceu da tela.
- Pronto! Estamos no escuro de novo! - lamentou Jin. - Outra noite à luz de velas...
Sucedendo ao raio, o ruído do trovão invadiu a sala, fazendo tremer as vidraças.
Um arrepio eriçou a pele de todos. E eles sabiam que não era de frio.
Jimin, encolhidinho no velho sofá, abafou um gemido que ia explodir-lhe na garganta e afundou o rosto entre os braços. No escuro, ninguém percebeu.
Tae levantou-se, com as mãos e os olhos para o auto, como se reclamadas com o responsável pelas tempestades:
- Que férias, meu Deus, que férias!
Começou a tatear, na direção da cozinha, em busca de velas, e esbarrou em um corpo forte, que ia fazer a mesma coisa.
Era Jin. Tae abraçou-se a ele. Tremia de desespero.
- Calma... - sussurrou o amigo, acariciando-lhe os cabelos. - Tudo vai acabar bem.
- Alguém pode fechar direito essas janelas? - pediu Hoseok, timidamente. - A gente vai enlouquecer com o assobio desse vento...
- Não adianta, Hobi - a voz grave de Namjoon ecoou pela sala. - Essa casa velha está cheia de frestas.
- É a harpa do demônio! - cortou Yoongi, como se praguejasse.
- Calma a boca, Yoongi! Por favor... - pediu Jimin.
Jin voltou da cozinha já com uma vela acesa. A luz mortiça iluminava-o fracamente por baixo, dando-lhe uma expressão fantasmagórica.
O rapaz enfiou a vela em um castiçal e acendeu mais duas.
A luz que conseguiu era pouca, mas fez aparecer os rostos preocupados dos seis amigos.
Aconchegavam-se no centro da sala, vestindo todos os agasalhos que haviam trazido. Quem não cabia no velho sofá e nas duas poltronas recostava-se nas mochilas e sacos de dormir espalhados sobre o tapete em ruínas. Latas de conservas abertas, mal tocadas, mostravam a falta de apetite de todos.
O vento, encontrando inúmeras frestas por onde passar, sacudia as chamas das velas, fazendo dançar sombras e clarões amarelados nos rostos pálidos dos seis.
Ninguém falou. O medo calava suas bocas.
Aquele nem parecia um grupo de jovens em férias. A atmosfera gelada, úmida, correspondia ao estado de suas almas.
Haviam planejado férias na montanha, numa paisagem linda, de mar fechada, no sopé de uma escarpa alta. Haviam trazido comida para um mês e até o pequeno televisor, agora inútil. O espírito aventureiro do grupo tinha escolhido aquele liga distante para justamente levar de volta ã cidade a glória de ter escalado aquela escarpa.
Mas a aventura transformara-se em em pesadelo.
Para adiar a fuga daquele pesadelo, a tempestade destruíra a ponte de madeira que passava sobre o riacho. E há uma semana estavam ilhados no casarão que haviam alugado para a temporada.
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Descanse em paz, meu amor...
Horror"Há muita coisa que a gente não consegue explicar. Algumas, como a deste livro, nos deixam gelados de pavor. Mas o principal assunto desta história é a amizade, aquilo que a gente não precisa explicar. ...