10. A História de Jimin

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Apenas uma das velas ainda brilhava. As outras já tinham chegado ao fim e a cera derretida engolira as chamas.

Os olhos de Jungkook e de Jimin estavam fixos, sem piscar, uns nos outros. A energia de amor que os unia dispensavam as palavras e as juras. Era uma verdade eterna, indiscutível.

O garoto tremia, mas era impossível resistir.

Os dedos de Jungkook tocaram seu rosto, delicadamente. Seus lábios adorados aproximavam-se, envolvendo Jimin naquela sensação
maravilhosa, que ele desejava nunca
ter fim.

- jimin, meu amor...

- Jungkook... eu te amo... quero morrer com você...

E os lábios daqueles dois adolescentes uniram-se, colaram-se, fundiram-se como só o milagre do amor pode fazer...

Taehyung, de pé, tremendo de pavor, gritava:

- Jimin!

Jimin separou-se bruscamente do abraço de Jungkook, como se
acordasse de um sonho.

Seus olhos se abriram, sua cabeça sacudiu-se, como se procurasse
entender. Mergulhou o rosto nas mãos e começou a chorar,
desesperadamente...

Jungkook levantou-se, furioso:

- Mas o que está acontecendo? Pelo amor de Deus, digam o que está acontecendo!

Jin avançou para ele e os dois se encararam.

- Não, Jin! Não! Eu suplico!

De pé, na frente do amigo, Jin relaxou a tensão e sorriu. Começou a falar calmo, com imenso carinho:

- Jungkook, procure entender. Nós contamos todas essas histórias do sobrenatural porque...

- Sobrenatural?! - Jungkook estava berrando. - Estou farto de tudo isso! Vocês querem me enlouquecer, é?

Jimin levantou-se, procurando controlar as lágrimas.

- Meu querido... ouça... é preciso... é preciso que você acredite
em nós...

- Acreditar? Acreditar em quê?

Os seis amigos cercavam Jungkook.

Namjoon falou:

- No sobrenatural, meu querido amigo...

Os olhos de Jungkook estavam arregalados, procurando, através da
iluminação precária da última vela, enxergar cada rosto que o cercava.

- Mas... o que vocês estão tentando me dizer?

- Jungkook. - falou Jin, também com suavidade. - Você topa se todos nós formos agora ao cemitério da colina?

Jungkook riu-se novamente, com a mesma franqueza:

- Ao cemitério? É claro! Ou você pensa que eu caí nessas histórias?

Os amigos se entreolharam. Havia concordância entre eles.

- Então vamos, Jungkook... - convidou Jin. - Venha conosco...

- É claro que eu vou! Quero acabar de uma vez por todas com essa
bobagem de vocês!

Abriram a porta pesada e saíram para a varanda.

A chuva continuava, um pouco mais fraca.

Namjoon e Jin pegaram duas pás sujas de lama que estavam encostadas na parede externa.

Apertando-se dentro dos casacos, para protegerem-se do frio, os sete desceram os poucos degraus da varanda e caminharam pelo jardim, em direção à colina.

Um relâmpago distante iluminou a colina por trás, recortando as
cruzes contra o horizonte.

Jungkook tremia de raiva.

- Aonde vocês querem chegar? Aonde vai dar toda essa loucura?

Ninguém respondeu.

Na frente do grupo, Jin e Namjoon apertaram o passo.

Logo, tinham chegado ao pequeno cemitério abandonado.

Pararam à beira de um monte de terra recém-escavada.

- O que vocês estão pretendendo? Por Deus, o que é isso?

Sem nada a dizer, Jin enfiou a pá na terra, forçando-a com o pé. Namjoon o seguiu, cavando com vigor.

- Vocês vão abrir essa cova? Mas... o que é isso?

Ao seu lado, Jimin tocou-lhe o braço.

- Calma, meu amor... Jin sabe o que está fazendo...

Em pouco tempo, a pá manejada por Namjoon revelou um saco de lona amarela. Com cuidado, raspou a terra que encobria uma das extremidades.
Jungkook perdera a frieza por completo:

- O que é isso? Meu Deus, o que é isso?

Os dois amigos abriram o invólucro de lona revelando seu interior.

Novo relâmpago, intenso como a eternidade, iluminou tudo e os sete
rostos estavam voltados para o fundo da cova.

Jin apontava para baixo, olhando desesperado para Jungkook. Sua voz ecoava por toda a extensão do cemitério:

- Você tem de acreditar no sobrenatural, Jungkook, meu querido
amigo. Porque nós o enterramos há três dias. Veja! Você está nesta cova. É
você! Você está morto, Jungkook! Você caiu da escarpa no meio da escalada, quando a tempestade começou. Estamos presos aqui! Não dava para esperar mais. Tivemos de enterrá-lo, Jungkook! Tente entender isso!

- Eu ficarei bem, meu amor! - declarou Jimin de mãos postas. - Eu te amo. Sempre vou te amar. Pode ir em paz!

No mesmo instante, uma rajada de vento varreu o cemitério. Parecia
vir das entranhas da terra, levantando as folhas mortas que cobriam os
túmulos. Parou como viera.

Em seguida à ventania, uma completa paz tomou conta do cemitério.

A chuva diminuiu e uma garoa leve, perfumada, envolveu os corpos
molhados daqueles amigos.

Entreolharam-se. O grupo agora era de somente seis.

Jungkook não estava mais entre eles.

Namjoon pulou para dentro da cova e fechou a mortalha de lona, sem mais olhar para dentro. Pegou a pá e começou a repor a terra retirada,
ajudado por Jin.

Jimin estava calmo. Ajoelhou-se à beira do túmulo e sorriu.

Beijou ternamente a ponta dos dedos e jogou o beijo na direção do túmulo.

Num sussurro, despediu-se, como se orasse:

- Descanse em paz, meu amor...

***

Descanse em paz, meu amor...Onde histórias criam vida. Descubra agora