Apenas uma das velas ainda brilhava. As outras já tinham chegado ao fim e a cera derretida engolira as chamas.
Os olhos de Jungkook e de Jimin estavam fixos, sem piscar, uns nos outros. A energia de amor que os unia dispensavam as palavras e as juras. Era uma verdade eterna, indiscutível.
O garoto tremia, mas era impossível resistir.
Os dedos de Jungkook tocaram seu rosto, delicadamente. Seus lábios adorados aproximavam-se, envolvendo Jimin naquela sensação
maravilhosa, que ele desejava nunca
ter fim.- jimin, meu amor...
- Jungkook... eu te amo... quero morrer com você...
E os lábios daqueles dois adolescentes uniram-se, colaram-se, fundiram-se como só o milagre do amor pode fazer...
Taehyung, de pé, tremendo de pavor, gritava:
- Jimin!
Jimin separou-se bruscamente do abraço de Jungkook, como se
acordasse de um sonho.Seus olhos se abriram, sua cabeça sacudiu-se, como se procurasse
entender. Mergulhou o rosto nas mãos e começou a chorar,
desesperadamente...Jungkook levantou-se, furioso:
- Mas o que está acontecendo? Pelo amor de Deus, digam o que está acontecendo!
Jin avançou para ele e os dois se encararam.
- Não, Jin! Não! Eu suplico!
De pé, na frente do amigo, Jin relaxou a tensão e sorriu. Começou a falar calmo, com imenso carinho:
- Jungkook, procure entender. Nós contamos todas essas histórias do sobrenatural porque...
- Sobrenatural?! - Jungkook estava berrando. - Estou farto de tudo isso! Vocês querem me enlouquecer, é?
Jimin levantou-se, procurando controlar as lágrimas.
- Meu querido... ouça... é preciso... é preciso que você acredite
em nós...- Acreditar? Acreditar em quê?
Os seis amigos cercavam Jungkook.
Namjoon falou:
- No sobrenatural, meu querido amigo...
Os olhos de Jungkook estavam arregalados, procurando, através da
iluminação precária da última vela, enxergar cada rosto que o cercava.- Mas... o que vocês estão tentando me dizer?
- Jungkook. - falou Jin, também com suavidade. - Você topa se todos nós formos agora ao cemitério da colina?
Jungkook riu-se novamente, com a mesma franqueza:
- Ao cemitério? É claro! Ou você pensa que eu caí nessas histórias?
Os amigos se entreolharam. Havia concordância entre eles.
- Então vamos, Jungkook... - convidou Jin. - Venha conosco...
- É claro que eu vou! Quero acabar de uma vez por todas com essa
bobagem de vocês!Abriram a porta pesada e saíram para a varanda.
A chuva continuava, um pouco mais fraca.
Namjoon e Jin pegaram duas pás sujas de lama que estavam encostadas na parede externa.
Apertando-se dentro dos casacos, para protegerem-se do frio, os sete desceram os poucos degraus da varanda e caminharam pelo jardim, em direção à colina.
Um relâmpago distante iluminou a colina por trás, recortando as
cruzes contra o horizonte.Jungkook tremia de raiva.
- Aonde vocês querem chegar? Aonde vai dar toda essa loucura?
Ninguém respondeu.
Na frente do grupo, Jin e Namjoon apertaram o passo.
Logo, tinham chegado ao pequeno cemitério abandonado.
Pararam à beira de um monte de terra recém-escavada.
- O que vocês estão pretendendo? Por Deus, o que é isso?
Sem nada a dizer, Jin enfiou a pá na terra, forçando-a com o pé. Namjoon o seguiu, cavando com vigor.
- Vocês vão abrir essa cova? Mas... o que é isso?
Ao seu lado, Jimin tocou-lhe o braço.
- Calma, meu amor... Jin sabe o que está fazendo...
Em pouco tempo, a pá manejada por Namjoon revelou um saco de lona amarela. Com cuidado, raspou a terra que encobria uma das extremidades.
Jungkook perdera a frieza por completo:- O que é isso? Meu Deus, o que é isso?
Os dois amigos abriram o invólucro de lona revelando seu interior.
Novo relâmpago, intenso como a eternidade, iluminou tudo e os sete
rostos estavam voltados para o fundo da cova.Jin apontava para baixo, olhando desesperado para Jungkook. Sua voz ecoava por toda a extensão do cemitério:
- Você tem de acreditar no sobrenatural, Jungkook, meu querido
amigo. Porque nós o enterramos há três dias. Veja! Você está nesta cova. É
você! Você está morto, Jungkook! Você caiu da escarpa no meio da escalada, quando a tempestade começou. Estamos presos aqui! Não dava para esperar mais. Tivemos de enterrá-lo, Jungkook! Tente entender isso!- Eu ficarei bem, meu amor! - declarou Jimin de mãos postas. - Eu te amo. Sempre vou te amar. Pode ir em paz!
No mesmo instante, uma rajada de vento varreu o cemitério. Parecia
vir das entranhas da terra, levantando as folhas mortas que cobriam os
túmulos. Parou como viera.Em seguida à ventania, uma completa paz tomou conta do cemitério.
A chuva diminuiu e uma garoa leve, perfumada, envolveu os corpos
molhados daqueles amigos.Entreolharam-se. O grupo agora era de somente seis.
Jungkook não estava mais entre eles.
Namjoon pulou para dentro da cova e fechou a mortalha de lona, sem mais olhar para dentro. Pegou a pá e começou a repor a terra retirada,
ajudado por Jin.Jimin estava calmo. Ajoelhou-se à beira do túmulo e sorriu.
Beijou ternamente a ponta dos dedos e jogou o beijo na direção do túmulo.
Num sussurro, despediu-se, como se orasse:
- Descanse em paz, meu amor...
***
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Descanse em paz, meu amor...
Horror"Há muita coisa que a gente não consegue explicar. Algumas, como a deste livro, nos deixam gelados de pavor. Mas o principal assunto desta história é a amizade, aquilo que a gente não precisa explicar. ...