Paixão: sentimento intenso que engloba a atração e o afeto, capaz de alterar o comportamento e o pensamento; adoração instintiva em relação a algo ou alguém.
Assim como a coragem e o talento para esportes, confirmo oficialmente que controlar emoções entrou para a minha lista de não-atributos.
Contudo, em minha defesa, ao ponto em que me encontro, está sendo a cada minuto mais e mais difícil evitar meus sentimentos por Louis Tomlinson, meu tutor/bibliotecário/visconde. Já se passara um mês desde sua chegada, e tudo o que meus pais de fato haviam conseguido com seu intuito em me aproximar do francês, foi me fazer concluir com ainda mais certeza que nunca aceitarei este matrimônio. Têm se tornado inútil convencer tanto aos outros quanto a mim mesmo que minhas extremas e constantes emoções não giravam em torno do visconde, quando seu rosto, sua voz e suas palavras sábias eram tudo o que orbitavam em meus pensamentos ultimamente.
Desmond dizia que eu andava distraído, impulsivo e até imprudente na maioria das vezes, ameaçando mais uma vez me privar do reinado caso meu comportamento não melhorasse - obviamente ele não me levou à sério quando eu mesmo neguei a coroa. Por outro lado, Anne parece notar algo a mais em mim, tentando disfarçar sua curiosidade fazendo comentários sobre minha pele parecer mais ruborizada, meu rosto mais cheio e saudável, e minha disposição e alegria espontâneas. E ela parece contente com isso. No entanto, eu sei que não se deve aos motivos que ela pensa.
E poderia apostar que o rei e a rainha não contavam que (em função deles) ter Louis como tutor seria inútil. E claro que ele e eu ocultávamos esse fato. Nos últimos dez dias, acabei descobrindo que a tamanha hesitação do visconde em me informar sobre minha futura esposa se devia ao fato de não saber absolutamente nada sobre ela. O rapaz por pouco sabia seu nome, sua idade, e sua única certeza de que a princesa era sobrinha de seu pai, um parentesco unido por um fio quase desfeito, levando em consideração que Mark Tomlinson foi, na verdade, meio-irmão da rainha.
Eu ainda o notava apreensivo diversas vezes, principalmente quando tratávamos desse assunto. Louis parecia não gostar de trazer à tona conversas relacionadas a sua família e a realeza francesa, e embora procurasse evitá-las do modo mais sutil e educado possível, era inevitável observar a tensão em seu maxilar, a respiração curta e o olhar desatento, procurando focar em qualquer coisa além do meu.
Pensei comigo mesmo se me sentir incomodado diante destes momentos seria egoísmo de minha parte. Eu desejava que Louis estivesse confortável em minha presença, eu precisava que ele se sentisse confortável. Mas infelizmente, nunca dependeu apenas de mim.
E evidenciando ainda mais o meu não-atributo de controlar emoções, deixei que aquele pensamento irritante perturbasse minha mente até que eu pudesse sentir as voltas e mais voltas que ele dava em meu cérebro. Simplesmente decidi que naquela manhã estava frustrado, e nem mesmo tive um motivo coerente para justificar isso.
Não cumprimentei os guardas, reclamei que as torradas estavam frias (embora a culpa tenha sido de minha demora para sair da cama), quase rasguei minhas calças novas assim que evidenciei o quanto estavam apertadas, evitei trocar palavras e até mesmo olhares com meus pais, e mesmo assim, minha revolta estava sendo ignorada. O que me deixou mais irritado ainda.
O pior de tudo foi que a manhã inteira nem mesmo obtive sinal do motivo de minha frustração. Louis simplesmente não cruzou comigo em parte alguma por todo o palácio, mesmo que eu ultrapassasse os limites de meu próprio orgulho para procurá-lo com o olhar. Depois de um tempo, considerei que certamente estaria na biblioteca, apesar de me parecer estranho sendo que seu trabalho é estar o tempo inteiro lá, e em um domingo, quando até mesmo eu estava livre de minhas aulas, não haveria motivos para o visconde se esconder em meio aos livros como todos os dias. E pensar na possibilidade de Tomlinson preferir se prender na biblioteca a qualquer outro lugar, sabendo perfeitamente que não teríamos um compromisso hoje acabou com a mínima vontade que ainda me restava de vê-lo. Era isso. Ele não me procurou porque não se sentia confortável em minha presença.
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Utopia⏐LS
FanfictionNo final do século XVIII, a Inglaterra e a França se encontravam prestes a anunciar seu tratado de paz, onde seus respectivos descendentes em prol dessa união estavam prometidos em matrimônio, como uma forma de estabelecer a permanência deste acordo...