𝖎 𝖓 𝖉 𝖊 𝖕 𝖊 𝖓 𝖉 𝖊̂ 𝖓 𝖈 𝖎 𝖆

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Independência: condição de liberdade, não dever obediência ou obrigações; usufruir de livre arbítrio, prosperidade e desejos próprios.


Há aproximadamente cinco anos, quando fui presenteado por meus pais em meu décimo-terceiro aniversário, eu não esperava passar aos poucos a detestar cada minuto do resto da minha vida.

Como um quase adolescente, eu não julgo ter tido muitas expectativas, ressaltando o fato de que eu sempre tive em relação a qualquer coisa. Simplesmente pensei: o que meus pais dariam de presente a um príncipe que já possui tudo? Terras? Jóias? Roupas? Objetos banhados em ouro e mais ouro?... E digamos que de fato, eu me surpreendi ao não receber nada daquilo. Apenas uma caixa retangular envolvida por tecido, que ainda sim me deu expectativas segundos antes de a abrir.

– Um livro?

– Não é só um livro, querido. – mamãe sorriu com delicadeza, parecendo não manter o mínimo de atenção em minha face confusa. – Este foi um dos meus livros favoritos quando era pouco mais velha do que você. – Anne se aproximou, encarando o objeto em minhas mãos como se fosse uma das coisas mais valiosas que o ser humano já botou os olhos. Esperei que ela continuasse. – Há um mundo inteiro aí dentro, Harry.

Baixei meu olhar de seu rosto até a capa marrom desgastada e o título dourado. Utopia. Bom, era mesmo apenas um livro.

E mesmo depois de lê-lo por uma primeira, segunda e até terceira vez por insistência da rainha, nunca mudei de opinião, contrariamente passando a criar um certo remorso por aquelas palavras longas e incompreensíveis. Fantasia. Descoberta. Emancipação. Independência. Eu conhecia seus conceitos na teoria, mas nunca tive verdadeiramente a oportunidade de vivenciá-los. De sentí-los. Foi a primeira vez que ao invés de cultivar anseio por algo que não pude possuir, criei um completo desgosto, e ao mesmo tempo temor por saber que nunca poderia descobrir como é me sentir assim.

E anos depois, durante um instante, como se a magia do Universo decidisse uma reviravolta a meu favor, tudo fez sentido para mim, e tive o prazer de experimentar todas aquelas palavras de uma só vez. Liberdade. Ousadia. Utopia. Intensidade. Sabedoria.

Se eu pudesse descrever Louis em palavras singulares, eu escolheria essas em sua exata ordem.

Contudo, toda a razão e coerência em minha mente se esvaiu no momento em que a sensação de seus lábios me dominou pela primeira vez.

O gosto de amora ainda se mesclava na boca de Tomlinson quando passei minha língua sobre ela, e em contradição ao lento encontro de nossos lábios, aquela sensação de calor e formigamento me atingiu de forma avassaladora, e eu apenas consegui pensar em como queria mais e mais quando as mãos se afundaram em meus cachos, nos aproximando. Os lábios de Louis eram viciantes. Viciantes de olhar, de provar, de tocar... foi como acessar o Paraíso sem poder vê-lo, pois apesar de tudo eu me encontrava impossível em abrir os olhos, temendo que aquele sonho estivesse realmente acontecendo apenas enquanto eu dormia.

A falta de ar me trouxe à realidade em uma sensação respectiva de frustração e alívio, e pude enfim comprovar que o visconde estava igualmente concentrado em mim. Ambos respirávamos descompassados e ainda tão próximos. Nossos olhos se cruzaram naquele segundo de pura expectativa, e consegui ver o desejo refletido em seus olhos, assim como Louis pareceu desvendar os meus. E nada poderia me trazer mais independência do que nos deixar entregar outra vez.

Os dedos do visconde me acariciavam agora, provocando um gostoso arrepio que descia por minha nuca, e não pude evitar um suspiro contra sua boca. Tudo era mais do que eu algum dia imaginei, era mais prazeroso, intenso. Era real, embora cada mínimo toque de Louis me fazia experimentar o surreal. Eu me sentia queimando de dentro para fora, como se estivesse sendo tocado pelo próprio Sol. E me senti em uma repentina necessidade dessa sensação para sempre. Uma repentina necessidade de mais.

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