Eda

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Eda saiu com pressa da cama e deixou um Deniz sonolento para trás. Respirou fundo e recolocou o telefone na orelha, tomando coragem pra ouvir a voz daquele que ocupou os seus pensamentos o dia inteiro.

- Serkan? – Perguntou incerta, com medo de ouvir que tinha sido engano ou que ele já não estivesse por lá.

- Eda. – Ele respondeu e manteve-se em silêncio por alguns segundos. – Como você está?

- Estou bem. Você?

- Estou bem também. – Eda entrou na sala da casa em que morava com Deniz e fechou a porta do ambiente. Não queria esconder nada dele, mas, se estivesse sendo honesta, também não queria que ele soubesse com quem estava falando. Serkan era um assunto delicado ainda e Eda sabia que a história toda incomodava o parceiro.

- Quanto tempo não nos falamos. Como tudo tem estado? – Perguntou verdadeiramente curiosa. Ela sentia sua falta todos os dias e o fato de agirem como estranhos a machucava a todo momento, muito embora jamais tivesse admitido a ninguém. Não queria que as coisas tivessem tomado este rumo e, por mais que vê-lo sendo de outra pessoa a incomodasse mais do que poderia colocar em palavras, não o ter a seu lado doía mais. 

Tinha aprendido a amá-lo de longe, em silêncio, em se contentar só de enxergá-lo bem, em admirá-lo enquanto estava compenetrado no trabalho ou em seus problemas pessoais, e, em canalizar toda a vontade que tinha de abraçá-lo e beijá-lo em olhares repletos de carinhos castos. E, ter isso tirado de si pelo seu afastamento repentino, foi quase como perdê-lo mais uma vez. 

- Igual, estou igual. Minha vida não mudou em nada, apenas trabalho, você sabe como é, não há nada de interessante além disso. Sou só eu, o velho Serkan Bolat. – Riu desanimado do outro lado da linha.

- Velho Serkan Bolat? De qual velho Serkan estamos falando? – Ela respondeu continuando a conversa em território conhecido.

- O original, Eda, o Serkan viciado em trabalho. Este sou eu.

- Robot Bolat. – Os dois riram baixinho, como se compartilhassem um segredo. A memória do apelido veio com tudo e os momentos relacionados a ele também, parecia que décadas haviam passado desde a primeira vez que ela o tinha chamado assim. – Eu já deveria saber, não poderia ser diferente.

- Acho que não... – Ele começou incerto e Eda apenas aguardou que a coragem o deixasse falar o que quer que fosse a razão pela qual ele tinha feito a ligação. – Mas eu lembro de quem já fui, Eda. 

- Eu sei que sim. 

- As memórias todas estão guardadas aqui, como se nunca tivessem partido. – Confessou, e a menina sentiu seu peito apertar. Ela sabia que a memória de Serkan tinha voltado por completo, ele havia dito isso em uma mensagem há não muitos meses atrás. Ela tinha se limitado a ler e responder, não sabia bem o que dizer, mas internamente havia ficado feliz de saber que não era mais esquecida pelo homem ao qual dedicou tanto do seu ser. 

Sabia que ele poderia ser o seu Serkan de novo se as circunstâncias fossem outras, mas não eram e ele era o Serkan de outra pessoa. O robô de outra pessoa. 

- Por que está falando isso agora, Serkan?

- Eu não sei. – Eda suspirou e mordeu os lábios, falar sobre o seu relacionamento com ele sempre havia sido complicado, não importasse quantas vezes tentassem. 

Nunca haviam conversado a fundo sobre os caminhos que os levaram até o momento em que estavam, e nas poucas vezes que tentaram – em tardes quaisquer na Art Life logo após os dois casamentos - saíram mais machucados do que se tivessem ficado silentes. Geralmente, em momentos assim, as lágrimas tomavam conta do rosto de ambos e as palavras eram substituídas por gestos sutis que só eles compreendiam na totalidade. Não sabiam explicar, não chegavam em acordo nenhum, mas podiam se explorar e se desculpar assim por conta da  intimidade que seus corpos tinham. 

Kalp UnutmazOnde histórias criam vida. Descubra agora