A casinha e a lâmpada

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Fora da sala dos quadros, havia uma floresta. Cris e Emily se depararam com uma clareira logo em que saíram.

Na clareira, três casinha estavam distribuídas em formato de círculo. Uma era feita de palha, a outra de madeira e a última de tijolos.

No centro do círculo havia uma placa. Cris correu na direção dela e Emily ficou parada, estava maravilhada com toda a beleza do lugar.

Na placa, o texto dizia:
"Este mundo está invertido. O lobo só pôde entrar em uma das casinhas. A de palha é a mais fraca, a de madeira tem seus defeitos, mas a de tijolos é muito forte. Não julgue o livro pela capa, afinal, as qualidades podem te surpreender. E lembre-se: a inversão influência qualquer coisa neste mundo".

De imediato, Cris percebeu que precisava escolher um das três casinhas. "O lobo só pôde entrar em uma...", repetiu ele.

Emily chegou mais perto para saber o que estava acontecendo.

— Eu ainda acho que tudo isso é um sonho — murmurou ela, Cris não respondeu. — De qualquer forma, como você descobriu que precisávamos comer a maçã?

— Era simples até, em um dos contos, a maçã foi envenenada. E o sapato de cristal era só um símbolo, não tinha nada de mau nele. Mas o texto dizia que o mundo está invertido, então eu conclui que o que parece bom trocou de lugar com o que parece mau.

— Então, esse lugar tem a ver com as histórias do seu livro? — Perguntou ela.

Cris balançou a cabeça concordando.

Emily ficou confusa, nunca tinha lido nada na vida, não conhecia nenhuma história. Exceto uma que sua mãe lera quando ela era mais nova.

— Temos que resolver esse outro enigma — disse Cris. — Quer me ajudar?

Emily assentiu e Cris leu o texto para ela. Também aproveitou para contar um pouco da história que as casas faziam parte. Emily ouviu atenta, embora não gostasse muito de fugir da realidade, ouvir o irmão contar coisas fictícias era uma experiência nova e prazerosa.

— Temos que escolher uma das casas — explicou ele. — Acho que somos o tal "lobo". Eles estão usando referências, então talvez não faça muito sentido.

Emily pensou na leitura de Cris. Se eles precisavam escolher uma das três, então as pistas deveriam apontar para a certa. Ela repassou a ideia em sua cabeça. Eles não poderiam julgar o livro pela capa, então a casa de tijolos deveria ser descartada já que era a mais bonita.

Sobravam, então, as outras duas. A casa de palha poderia ser uma forte alternativa. Mas Cris disse que a resposta estava no final do texto.

Os dois discutiram por meia hora sem chegar em um consenso.

— Porque não tentamos na sorte? — Sugeriu Emily.

— Porque assim como no primeiro, esse diz que o lobo só pôde entrar em uma casa. Ou seja, só temos uma chance. Se nós tentarmos sem ter certeza e errarmos, podemos ter uma grande consequência.

Emily o encarou irritada percebendo o quanto se arriscou quando comeu a maçã.

— Cris — chamou ela. — O que aconteceria comigo se você tivesse errado o outro desafio?

Ele desviou os olhos para disfarçar.

— Nada — disse de supetão e tentou desconversar. — Eu acho que tenho um palpite.... Defeito seria o inverso de qualidade, não é?

— Sim — respondeu Emily percebendo exatamente o que ele tentava fazer.

— A casa com defeito é a de madeira. Ele pede para não julgarmos o livro pela capa. E eu lembrei que o papai vivia dizendo que as pessoas só sabem julgar o defeito dos outros, sem prestar atenção em suas qualidades. Então, será que tem a ver com a palavra defeito que é o inverso de qualidade?

Emily ficou impressionada com a genialidade dele.

— Se for isso, o sublinhado da palavra qualidade seria uma pista.

Cris deu uma passo à frente.

— Então vamos escolher a casa de madeira.

Os dois se aproximaram da escolhida, Emily abriu a porta com muita calma. Estava com medo de ter errado e algo ruim acontecer.

Dentro da pequena casa era muito aconchegante, havia velas em prateleiras, os móveis eram simples, mas bem feitos. As janelas iluminavam o local com a luz do dia. Emily cogitou morar ali, afinal seria muito melhor do que ficar na mansão velha e suja da senhorita Anastácia.

No meio da casa, havia outra mesa. Em cima dessa, uma lâmpada dourada estava apoiada. Os olhos de Cris brilharam quando a viu. Com certeza, um gênio vivia dentro dela.

Ele não perdeu tempo e a esfregou três vezes, mas nada aconteceu. Então fez o mesmo por cinto vezes e nada aconteceu de novo. Ele não entendeu porque não funcionava e começou a esfregar a lâmpada sem parar. Emily se irritou e tomou-a da mão dele.

— Emy — disse ele manhoso.— Você não faz ideia do que isso é capaz.

Emily o ignorou, se virou de costas e a destampou. Não havia nada dentro do objeto, nada além de uma folha de papel.

— Você não pode abrir, sua tonta.

Cris tentou empurrar a irmã para tomar a lâmpada de volta. Os dois iniciaram uma pequena briga. Os esforços de Emily para o acalmar não funcionavam. Eles ficaram no mesmo vai e vem por dez minutos até que ouviram algo estranho do lado de fora.

— Cris — chamou ela. — Olha a porcaria do bilhete e para de agir feito um bebezinho.

O menino pegou o papel da mão dela completamente irritado.

"A carruagem os espera".

— O que isso quer dizer? — Indagou ele.

No mesmo instante, o barulho do lado de fora se intensificou e eles puderam identificar como um cavalo.

Emily correu para fora da casa e se deparou com a grande carruagem branca, não tinha sinal de um cocheiro.

— Já estava na hora de vocês aparecerem — disse o Coelho Branco saindo da carruagem.

Emily não acreditava no que via, parecia que a cada hora que passava, o sonho ficava mais estranho. Cris também saiu da casa e ficou muito feliz quando viu o animal.

— É um prazer te conhecer — disse ele.

O animal se curvou na frente deles com muita educação.

— O prazer é todo meu — murmurou. — Agora, entrem na carruagem, precisamos nos apressar se não vamos nos atrasar.

Cris riu com o jeito apressado do Coelho e o seguiu.

— Mas para onde vamos? — Perguntou Emily com hesitação.

— Oras, mas isso é óbvio. Vamos para o castelo.

O sorriso de Cris cresceu mais ainda, ele puxou a irmã antes que ela pudesse protestar novamente.

Então, os três partiram junto com a carruagem.

Por um único desejoOnde histórias criam vida. Descubra agora