"É preciso saber partir quando não lhe cabe mais ficar." O coração de Lena naquele momento se apertou de uma maneira que não saberia explicar. A forma como descobriu que Kara Danvers era na verdade Supergirl martelava em sua mente desde então, e todos os dias que se sucederam após tudo também estavam lá. A morena se sentia fraca por ter se deixado mais uma vez enganar por Lex, era um sentimento confuso e doloroso. A verdade era que Lena Luthor estava exausta, exausta do peso que carregava em suas costas, cansada de ser enganada, maltratada, cansada de se doar e não receber nada em troca, exausta de no final da noite ser apenas ela e o vazio de sempre.
Lagrimas salgadas caiam pelas bochechas de Lena conforme o horário do voo ia se aproximando, seus olhos vermelhos eram um indicio do quanto estava doendo aquele momento em seu peito. Estava dentro do avião esperando pela decolagem, em sua mão uma revista onde tinha Supergirl de capa, um sorriso triste surgiu nos lábios da morena, sentiria falta de Kara. Sentiria falta daquele estupido uniforme e aquele maldito sorriso que era capaz de lhe derrubar, entretanto não podia mais ficar.
Absolutamente tudo parecia um convite para que fosse embora e com um fio de coragem decidiu que apesar de tudo aquilo deveria ser feito por si. Conversou com Samantha por longos dias, escutou seus conselhos e pretendia segui-los, porém não ali, não em Nacional City. Quando por fim decolou e as nuvens se fizeram presentes Lena sorriu em meio as lagrimas tentando imaginar como sua melhor amiga deveria se sentir ao sentir aquele momento sem precisar de nada a sua volta. Deveria ser libertador.
Lena não percebeu quando adormeceu abraçada com uma foto dela e de Kara e se assustou ao acordar e notar que havia descansado boa parte da viagem, apenas mais algumas horas e ela chegaria em seu destino sem maiores problemas. Aceitou a refeição que lhe foi oferecida algum tempo depois e notou o quanto estava relaxada, apesar da dor que ainda martelava em seu peito.
Horas mais tarde já se encontrava saindo do aeroporto a caminho da casa que fora alugada por Sam, decidiu que também alugaria um carro e escolheu o mais simples possível. Já havia visitado a Inglaterra milhares de vezes a trabalho, porém desejava que desta vez fosse diferente e ela faria disso especial. Dirigiu tranquilamente até chegar ao seu destino. A casa não era grande, porém parecia aconchegante o suficiente para que fizesse dali sua morada pelo tempo necessário. Suas malas com seus pertences chegaram alguns dias antes e apesar da mobila combinar perfeitamente com o local, queria deixar um pouco mais parecido com sua personalidade.
O banho relaxou seu corpo, ali longe de tudo o peso em suas costas parecia ter diminuído, ao ajeitar suas coisas fez questão de colocar sua foto com Kara perto de sua cama, era uma lembrança boa mesmo que estivesse doendo. Aos poucos iria desfazer suas malas, caminhou lentamente até a cozinha e observou tudo, teria que arrumar alguém para cozinhar ou morreria de fome, não poderia sobreviver apenas das coisas que sabia fazer, afinal não eram muitas.
O local era silencioso e chegava ser estranho para a morena que estava acostumada com o dia a dia agitado da cidade. Estava prestes a anoitecer, o céu ia se tornando escuro e Lena podia ver nitidamente e com uma perfeição impressionante as estrelas, privilégios de se morar no interior. Optou por sentar na escada da varanda para observar o anoitecer na companhia de seu chá e de seus pensamentos.
Longe dali o papel amassado ao lado da mulher sentada no chão era uma pequena lembrança da partida da CEO Lena Luthor, a mesma que havia virado seu mundo de cabeça para baixo com uma simples carta, ele também se parecia com o coração da loira. Toda vez que respirava podia sentir a dor constante, era praticamente como se alguém estivesse fazendo nele o que ela própria havia feito com a carta.
Um soluço alto escapou pelos lábios da loira, quando Kara começou a ler a carta não perdeu um segundo pensando, apenas voou em direção a L-Corp dando de cara com o vazio, manteve um pouco de esperança imaginando que a mulher pudesse ainda estar em seu apartamento, porém ela não estava e foi notando o lugar vazio e escuro que perdeu suas forças e ali então estava ela, sentada no chão encarando o local que poderia se comprar com seu coração.
Kara sentiu o ar dos seus pulmões esvair e buscou controlar sua respiração e sem nem perceber trouxe a carta amassada para o seu colo e lhe abraçava. A loira não precisava olhar o que estava escrito, havia decorado cada palavra usada por Lena e algumas piscavam em sua mente como se não fosse deixa-la esquecer nunca nada do que foi dito.
Lena Luthor era apaixonada por ela e confessou, uma risada baixa saiu pelos lábios da loira que negava com a cabeça.
A Danvers era capaz de lembrar o dia em que Mon-el partiu, conseguia recorda-se do seu sentimento ao perde-lo. Mas o que sentia naquele momento não era igual, não chegava nem perto de ser.
Por uns segundos a super fechou os olhos e deixou ser levada por algumas lembranças que compartilhou com Lena, a primeira vez que se viram, o primeiro almoço, as tardes no sofá branco da CEO, o dia em que foi confronta-la por causa de Lex. Kara conseguia lembrar com detalhe cada um desses e de como Lena sempre estava linda. A verdade era que Kara nunca havia conhecido alguém como Lena. E duvidava muito que existisse uma mulher tão poderosa quanto.
Quando tornou a abrir os olhos e encarar a escuridão e a solidão que lhe cercava lembrou da parte que Lena disse que queria ser seu lar, era injusto o fato de não ter tido tempo de dize-la que ela era. Sentiu-se injustiçada por não ter tido tempo de confessar seus próprios sentimentos e sentiu raiva por isso, talvez, se tivesse feito, Lena tivesse ficado.
As lagrimas que escorriam mais livremente eram um lembrete amargo de que Kara também estava sem o lar dela. Para a loira tudo estava voltando aos eixos e mesmo que fosse em passos de bebê as duas estavam se aproximando de uma reconciliação verdadeira.
A super sentiu seu peito apertar ao recordar que três dias atrás Lena havia ligado para ela e seu telefone estava desligado, sentiu as lagrimas caindo violentamente ao lembrar que havia voado até a empresária algumas vezes depois da sua ligação e não teve coragem para prosseguir. Agora ela teria que lidar com o arrependimento que dançava em sua mente e em seu coração fazendo com que o mesmo batesse devagar e de forma dolorosa.
Por último, Kara também reconheceu que, assim como Lena, ela também havia sido medrosa, também havia sido cega ao não notar o obvio. Ela sempre esteve apaixonada por sua melhor amiga. E talvez Lena nunca viesse saber disso.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Odisseia
عاطفيةLena estava quebrada, mas igualmente decidida por um fim e um recomeço. Precisava ser forte por si e por Kara. Uma decisão difícil. Ir embora nunca é fácil. Mas ela ia e com uma certeza, mesmo que não vivesse o amor clichê, elas viveram a mais bela...