#6 | fluffy | magic universe |
946 palavras
• em que Remus se esconde até não conseguir mais e então percebe que nada daquilo era necessário.Durante os primeiros dias e semanas após a volta de Sirius de Azkaban, Remus acabou escondendo a si mesmo sob uma pilha de roupas quentes, casacos, calças, cachecóis e tudo o mais que ele conseguiu. James, se ainda estivesse vivo, o diria para acabar com essa bobagem e soltaria algumas palavras que mais pareciam um discurso motivacional de um velho careca de setenta anos, mas ele não estava mais aqui para repreendê-lo, então Remus continuou a fazer isso por pelo menos quinze dias.
Além disso, não era como se eles não tivessem outras coisas para tratar, porque eles tinham até demais. Em alguns dias, pegavam no sono apenas de madrugada, conversando sobre tantas coisas. Sobre as perdas que eles tinham sofrido, sobre Azkaban, sobre a proposta de emprego que Remus tinha recebido e sobre a perspectiva de retornar à Hogwarts.
Era como se, após doze anos separados, a necessidade que eles sempre tiveram um do outro tivesse aumentado. Várias vezes Remus percebeu a si mesmo atento ao outro, reparando em cada mudança que aconteceu enquanto ele estava longe. A voz mais adulta, o olhar mais sério, a barba falhada pelo rosto.
E por Merlin, Sirius estava lindo. Seu corpo, seu sorriso, seu cabelo. E cada vez que Remus pensava nisso, tinha mais vontade de se esconder, de colocar mais uma camada de roupa sobre o corpo e de conferir mais uma vez se ele estava coberto por inteiro. Se nenhuma parte de sua pele além do estritamente necessário estava exposta.
A última coisa que Remus queria era que Sirius o visse. Visse suas cicatrizes, agora maiores, mais numerosas e mais agressivas. E Sirius não percebeu nada de errado no início, mas à medida que o sol despontou no horizonte em uma tarde quente e abafada, e Remus ainda usava uma calça e uma camisa com mangas compridas, ele percebeu que algo ali era suspeito.
De raciocínio lento como sempre foi, inicialmente Sirius pensou que se tratasse de um resfriado. Mas quando Remus não relatou sentir febre, tosse, dor no corpo ou qualquer outro sintoma, a outra hipótese – a correta dessa vez – atingiu Sirius com tudo.
- Remmy... Posso te ver? – Ele perguntou, sentado no sofá enquanto Remus guardava as compras do mercado depois de responder o longo questionário do outro sobre sua saúde e sintomas de gripe.
Remus hesitou.
- O que quer dizer, Pads?
- Moony... você sabe. Quero ver você. Você de verdade. Não precisa se esconder embaixo desses moletons e calças. Não de mim.
Remus largou a sacola de compras em cima da mesa e caminhou até a sala, se sentando de frente para o namorado. Sim, namorado. Eles haviam conversado sobre isso há alguns dias, e decidiram que a melhor opção para os dois era reatarem o namoro – que, na realidade, nunca foi terminado.
- Six... É pior. É bem pior do que antes. A minha pele inteira, tudo são cicatrizes, e eu sei que você costumava dizer que as achava bonitas para me fazer sentir melhor, mas são muitas agora. Muitas.
Sirius parecia magoado quando Remus acabou de falar.
- Achei que soubesse que eu não mentiria para você. Eu achava suas cicatrizes lindas porque eram suas, e nada seu consegue ser feio, Remus. Nada. Agora, se você não se importar, eu gostaria de ver.
Remus supreendentemente não se sentiu envergonhado ao tirar o moletom e a calça, descalçando os sapatos e os deixando no chão, olhando para o namorado e vendo sua expressão neutra, indecifrável. Estava tão vulnerável quanto possível, e agora a ele restava esperar por uma reação.
Sirius correu o olhar por seu corpo inteiro, cicatrizes se destacando em cada pedaço de pele exposta, algumas mais antigas das quais ele se lembrava de Hogwarts, como aquela que transpassava seu abdômen em toda sua extensão, e outras, da última lua cheia, ainda um tanto vermelhas. Ele sentiu uma onda de admiração tão forte que mal pode conter um suspiro. Tão lindo, tão forte, tão seu. Ele amava Remus de um modo que não conseguia descrever em palavras, então resolveu demonstrar de outro modo quando caminhou até ele e beijou seus lábios. Remus correspondeu, hesitante no início, mais confortável depois.
Sirius murmurou um incrédulo “tão lindo” quando se afastou, e então beijou a cicatriz embaixo do olho de Remus, aquela em seu queixo e uma nova em seu pescoço.
Ele se abaixou aos poucos, beijando carinhosamente cada pedaço de pele exposta e cada cicatriz, tanto as novas quanto as antigas, não deixando de gastar mais tempo com as suas favoritas. Provavelmente a que mais monopolizou a atenção de Sirius foi uma cicatriz vertical muito antiga, uma das primeiras que Remus recebeu, logo abaixo do seu umbigo. Na época de Hogwarts ele fazia aquilo como uma provocação: parar de se abaixar exatamente naquela cicatriz, e beijá-la até que Remus pedisse que, pelo amor de Merlin, ele continuasse. Naquele momento, no entanto, era diferente, um ato de carinho e de admiração. Um ato de amor, em sua forma mais pura e intensa.
A noção de tempo parecia ter sumido da cabeça de Remus, pois ele não tinha mais ideia se estavam ali há alguns segundos ou vários minutos. Quando Padfoot se levantou, segurou Remus pela nuca e o beijou, sentindo seus lábios quentes e macios nos seus.
- Como eu disse desde Hogwarts, lindas – Sirius murmurou contra a boca de Remus – Cada uma delas.
Moony o abraçou de volta, passando seus braços nus pela cintura de Sirius e o segurando junto a si enquanto o namorado tinha o rosto apoiado em seu ombro e deixava pequenos beijinhos em seu pescoço.
Remus sorriu preguiçosamente, sabendo que estar vulnerável com Sirius nunca fora e nunca seria um problema.