PANDORA

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Ochako não estava acostumada a acordar e dar de cara com paredes cor-de-rosa, não era a primeira vez que dormia na cabine de Mina, mas, ainda que só tivessem passado 24 horas, já sentia falta das paredes de cores monótonas e cheias de pequenas estrelas — desenhadas estrategicamente quando Katsuki não estava presente — do seu antigo dormitório. Só que nem ferrando ela voltaria àquela cabine, ao menos não enquanto a mente revivia, sem dó, a calorosa discussão que tiveram. Ele havia se mostrado um tremendo idiota, e a vontade que tinha era de nunca mais olhar na cara dele, de não ter que cruzar o seu caminho, de não ter que ouvir falar da maldita missão e do seu piloto estúpido.

Não queria saber de mais nada sobre o Regresso. E como sabia que podia contar com a hospitalidade e a amizade de Mina, aproveitaria a estádia e voltaria ao trabalho o mais rápido possível. Havia recebido duas rotações de folga por causa do acidente que, em parte sofrera, e em parte provocara; embora não se sentisse psicologicamente preparada para retomar o trabalho, ela tentaria conversar com Gunhead e voltar a fazer pequenos reparos, só para ocupar a mente. Tinha ciência que seu erro teria consequências, entretanto, sabia que podia contar com o bom julgamento de Gunhead e sofrer uma penalização leve. Ela se desculparia pessoalmente e voltaria ao trabalho, pois tinha certeza que ele jamais descartaria a melhor dentre todos os seus pupilos.

— Sra. Zero Gravity — disse Mina, saindo do banheiro — Pensei que você não fosse acordar nunca mais.

— Oi, Mina — cumprimentou, deitada na cama da amiga — Fico muito feliz em saber que minha saúde te preocupa.

— Não debocha, 'Chako. Eu até arranjei uns trecos pra trocar o curativo do seu braço — disse, mostrando uma bolsinha cheia de materiais de primeiros socorros — Eu sou ou não sou uma amiga exemplar?

— É a melhor — respondeu sorrindo.

— Modéstia à parte, sou a melhor mesmo! — concordou beijando um ombro, fazendo Uraraka revirar os olhos — Senta logo e me mostra essa belezinha.

Ochako obedeceu sem questionar a "delicadeza" da amiga. E foi entre queixas e afagos que Mina conseguiu trocar o curativo. O braço não estava mais inchado, os pontos estavam firmes e, mesmo não sendo uma enfermeira ou da área de saúde, arriscaria dizer que a cicatrização parecia boa. Em breve ela não precisaria mais de curativos e estaria pronta para outra aventura.

Porém, não podia dizer a mesma coisa sobre seu estado emocional. A doce mecânica estava visivelmente triste, e nenhum dos risinhos que ela dera era capaz de esconder o opaco dos seus olhos. Era uma situação muito estranha, pois desde que Ochako assumira um relacionamento sério com Katsuki, Mina nunca imaginaria que veria a amiga pedir entre murmúrios e lágrimas um lugar para dormir. Sabia que às vezes eles tinham alguns desentendimentos, só que jamais a ponto de fazê-la sair da cabine tão magoada. E, mesmo curiosa, Ashido não questionou os motivos que a levaram até lá, apenas a acolheu e a tratou como uma boa irmã faria. Sabia que na hora certa, ela lhe contaria o ocorrido.

— Como você tá se sentindo hoje? — perguntou Mina, guardando os itens que usou no curativo.

— Minha cabeça tá doendo — respondeu dando de ombros —, mas eu vou ficar bem.

— Acho que eu não tenho nenhum analgésico...

— Não se preocupe, eu tenho.

Ela pegou uns comprimidos que guardara debaixo do travesseiro e tomou com um pouco de água que Mina lhe oferecera.

— Como conseguiu os remédios? Não me diga que você foi até...

— Não — negou friamente — Eu não quero voltar lá. Pedi outra receita à Fuyumi.

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