O capacete de Katsuki começava a lhe incomodar de maneira descomunal, parecia mais apertado do que nas outras rotações, como se não tivesse sido feito sob medida. Mas, como não bastava estar com a cabeça inundada pelos flashes da briga ridícula que tivera com Ochako, a merda do capacete tinha que tentar explodir o resto de sanidade que ainda possuía. Tentou alongar o pescoço, sem tirar os olhos do monitor à sua frente, para se acomodar melhor e relaxar a musculatura, só que não adiantou nada. Neste momento, a proteção essencial para qualquer piloto estava, simplesmente, sendo um acessório infernal. Só que Bakugou não tinha nenhum segundo disponível para refletir ou se livrar de seus incômodos, ele tinha que se concentrar na sua missão atual. Não podia falhar.
— Começando contagem regressiva, em seguida, assuma o controle manual, piloto.
— Positivo, Tenente.
— 10, 9, 8... — Ouviu a voz de Hawks fazendo a contagem e, inevitavelmente, sentiu um arrepio percorrer seu corpo.
Bakugou sabia exatamente o que fazer, mas isso não o deixava menos apreensivo. As mãos suavam, os ombros estavam tensos e os olhos, cansados dos períodos mal dormidos, ardiam incessantemente. Estava exibindo a pior versão de si. Nunca imaginaria que para ser um piloto de sucesso, deveria estar tão ferrado como estava nesta rotação, nem a roupa oficial de viagem espacial melhorava sua aparência, Katsuki estava pior que o sistema de reciclagem de resíduos da Ártemis. Só que nada disso importava. Ele já havia chegado muito longe, já havia renunciado pessoas demais, tempo demais, em um único propósito: ser o grande herói da humanidade. Katsuki Bakugou em hipótese alguma falharia em sua missão.
Então, sentindo-se magicamente motivado, acompanhou o fim da contagem regressiva e assumiu rapidamente o controle da nave. Sorriu orgulhoso ao notar que fizera o movimento no segundo exato, mas deixaria para comemorar quando a missão fosse bem sucedida. Portanto, manteve as mãos na ignição e observava atentamente a trajetória da nave no pequeno monitor, esperando o momento exato em que sairia da mesosfera e iniciaria o processo de desaceleração. Tudo havia sido cuidadosamente calculado, Katsuki só precisava cumprir perfeitamente o protocolo da missão.
— Um minuto para desaceleração, em seguida, prepare os propulsores. — Ouviu mais uma vez a voz do Tenente.
— Positivo — respondeu, sentindo a nave chacoalhar ao seu redor.
— Atenção... 5, 4, 3...
Mas, de repente, a contagem foi interrompida e substituída por um alerta de interferência que piscava loucamente em seu monitor. Merda! Ele não podia mais dispor da comunicação externa, teria que confiar em seu próprio timing e finalizar o pouso. Puta merda, o universo devia odiá-lo mesmo. E, sem pensar muito, Bakugou puxou a ignição e iniciou a desaceleração, enquanto acionava os comandos certos para voltar a visualizar o trajeto e fazer sua própria contagem até o solo.
Quando finalmente conseguiu visualizar sua posição, constatou que tinha demorado demais no processo de desaceleração. Cacete, ele havia feito uma merda enorme! E, ironicamente, a unica coisa da qual se lembrava era da voz de Ochako falando: "você é um idiota", que soova mais alto do que a barrulheira da lataria da nave. Talvez ele fosse um idiota mesmo, já que, em uma hora vital, sua mente burramente o levava de volta àquela briga estupida. Será que ele queria se matar? Não! Katsuki era o melhor piloto daquela estação espacial! Não morreria sem antes concluir a missão. Foda-se a voz doce e triste de Ochako, ele daria um jeito nesta situação.
Analisando o velocímetro e o ponto da atmosfera em que estava, Bakugou concluiu que a única maneira de sobreviver era acionando os propulsores antes de atingir a marca ideal de 0 km/h. Seria um pouso de risco e caíria longe do local previsto, mas, se sobrevivesse, esse seria o menor de seus problemas. Claro que seria muito melhor seguir protocolo inicial e finalizar a missão sem danos, entretanto, todo o treinamento com Hawks também o preparara para momentos como esse; por isso não hesitou em ligar os propulsores e começar seu plano improvisado.
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Missão Gaia
FanfictionCento e cinquenta anos depois da crise nuclear que dizimou a vida na Terra, os cientistas da estação espacial Ártemis pareciam finalmente confiantes quanto às condições do planeta. As sondas enviadas à superfície voltavam com resultados cada vez mai...