SEMIDEUS

141 17 32
                                    


Ochako quase engasgou pela segunda vez ao ouvir a revelação. Já suspeitava que a tal reunião com o Comandante fosse tratar sobre os preparativos do Regresso, mas não que em uma rotação decidiriam o piloto, anunciariam que já tinham uma nave e data marcada para a viagem à Terra. Isso era surreal demais! A tripulação mal ouvira notícias sobre as condições de vida no planeta desde o acidente, e agora, simplesmente iriam iniciar a primeira fase da missão mais importante dos últimos cem anos. Inacreditável, ao mesmo tempo, empolgante, excitante e revigorante.

— Não vai falar nada, Cara de Lua? — perguntou Katsuki, encarando a expressão abobalhada dela.

— E-eu... Eu não sei... Eu tô... — Largou o saquinho de frutas, encolheu os ombros, abriu e fechou a boca duas vezes antes de continuar: — Não tô acreditando...

— Tsk, você acredita em aliens, Ochako.

— É... — concordou com o namorado, revirando os olhos. — Só que isso é como um sonho se tornando realidade!

— Quer que eu te belisque?

— Não, seu idiota. — Deu um soquinho no ombro dele, ainda anestesiada pela notícia. — Mas então os problemas que tivemos de energia foram por causa disso?

— Sim, os desgraçados estavam fazendo tudo na encolha.

— E toda aquela pressão para concluir a instalação dos painéis solares... — Ouviu Katsuki assentindo, enquanto ela conectava os últimos eventos. — Agora tudo faz sentido! A agitação e cautela exageradas do Gunhed, o estresse do Nishiya quando eu fui lá no módulo agrícola, o seu treinamento... E eles já têm uma nave?

— Já disse que sim — respondeu Bakugou, voltando a comer os cereais.

Cacete! — exclamou Ochako, como se a realidade finalmente tivesse lhe atingido. — E o lançamento vai ser daqui a uma semana?

— É, Cara de Lua!

— E você vai pilotar a nave até a Terra?

— Foi isso que eu falei, porra — disse ele, meio imapaciente.

Ao escutar a confirmação, Ochako agarrou o namorado pelo pescoço e começou a distribuir vários beijinhos nele. Sabia que o Comandante Todoroki não desistiria da Terra, porém era o legado de All Might — pulsante na alma de todos que permaneceram na Ártemis — que mantinha a esperança viva. Em breve, todos os sacrifícios seriam recompensados; dizer adeus não seria mais necessário; viver com poucos recursos e restrições, seria uma memória distante; todos teriam a chance de recomeçar, de fazer melhor.

Os remanescentes voltariam para seu verdadeiro lar, e ela tinha certeza que Gaia iria recebê-los de braços abertos!

A euforia de Uraraka era tão grande que mal sentia o braço dolorido ou se lembrava que o corpo estava se recuperando da exaustão espacial; esqueceu-se da fraqueza, pois, de repente, sentia-se nova. A esperança corria por sua veias, fortalecendo cada uma de suas células, aquecendo seu coração e, inevitavelmente, transbordando em seus olhos.

— Tá chorona pra caralho, Cara de Lua. — Katsuki abraçou a namorada pela cintura, fingindo chateação ao notar as lágrimas.

— Eu juro que é de alegria — disse, escondendo-se na curva do pescoço dele. — Eu só preciso ter certeza que isso não é outra alucinação.

Ochako abdicara de muitas coisas para chegar até esse momento. Havia se tornado uma mulher forte e determinada, capaz de tomar suas próprias decisões; porém, não pode evitar que a pequena Uraraka — que fantasiava sem parar com aventuras na Terra, com a sensação do mar em seus pezinhos e com a liberdade de correr em terra firme — assumisse o controle de suas emoções. Por sorte, Bakugou a compreendia e a abraçava forte, sem machucá-la; permitindo que se acalmasse ao poucos.

Missão GaiaOnde histórias criam vida. Descubra agora