Capítulo Dois

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Chego em casa depois das compras, e ouço o som de conversas vindo do jardim dos fundos. Só então lembro que minha mãe disse que uns amigos antigos dos meus pais iam chegar de viagem e que eles os convidaram para vir aqui. Estou cansada da tarde de compras e tudo o que eu quero é tomar um banho, e não fazer sala para os amigos chatos dos meus pais.

Tento fugir furtivamente para o meu quarto, com o plano de só sair de lá quando eles forem embora – ou meus pais descobrirem – mas sou pega pela minha mãe, que vem da cozinha.

- Perrie, que bom que você chegou! – exclama mamãe, parando na ponta da escada com seu típico sorriso simpático.

Mamãe está impecável como sempre, usando um de seus vestidos de domingo, que ela põe tendo convidados ou não. É um modelo envelope branco que fica muito bem no seu corpo magro e em boa forma para a sua idade. Aos quarenta anos, minha mãe ainda é muito bonita. Uma dona de casa convicta muito bem cuidada.

- Comprou muitas coisas? – mamãe olha para as inúmeras sacolas em minhas mãos.

- Algumas – digo, meio sem graça por ter comprado tanta coisa.

- Depois eu quero ver suas novas aquisições – ela ri adoravelmente – agora, por que você não vai trocar de roupa e depois vem se juntar a nós no gramado? Karen, Jonathan e Mick estão loucos para te rever.

Olho para meus jeans apertados e minha blusinha de alcinha que quase mostra a barriga, que pra mim está de bom tamanho, mas não para minha mãe. Mamãe gosta que nos vistamos muito bem nos almoços de domingos, mesmo que seja só entre ela, meu pai e eu.

- Tudo bem – eu respondo meio cansada, sem querer ser malcriada.

Subo as escadas depressinha e entro no meu quarto. Deposito as sacolas em cima da cama, liberando os pesos nos meus braços. O dia está bem quente hoje, e mesmo tendo ficado o tempo todo debaixo do ar-condicionado do shopping, me sinto nojenta e suada. Decido tomar um banho rápido antes de ir dar um oi para os convidados.

Uma ducha de cinco minutos, coloco um vestido de corte reto e gola fechada rosa claro e sapatilhas, então desço para o jardim, atravessando a enorme sala e a cozinha gourmet cheia de aparelhos modernos e todo o aparato que faria qualquer chefe se sentir no paraíso. Moramos nessa casa grande com três quartos, um escritório, uma sala de estar, uma de jantar, além de um jardim espaçoso e uma garagem para cinco carros desde que eu nasci. Não diria que somos ricos - bom, não do tipo esnobes - mas vivemos num bairro de gente chique e o emprego de advogado do meu pai nos dá uma boa vida, o suficiente para pagar minha escola e minha mãe não precisar trabalhar.

Saio para o jardim, e imediatamente sou recebida pelos acenos frenéticos da minha mãe, que está sentada na nossa mesa grande de jardim que dá até para oito pessoas. Há uma mulher mais ou menos da sua idade sentada ao seu lado, e um garoto que parece ter a minha idade à sua frente.

Vou até a mesa, que está disposta com uma variedade de coisas para comer; frutas, sucos, iogurtes, biscoitos, e vinho – para os adultos – por cima da toalha chique de renda branca que minha mãe ganhou de presente da minha avó no dia do seu casamento, uma herança de família.

- Boa tarde – eu digo com toda educação para a mesa, sorrindo amigavelmente.

Todos me cumprimentam de volta.

- Olha, mas essa é a Perrie mesmo? – pergunta a mulher sentada ao lado da minha mãe, para ninguém em particular – como ela está crescida!
Da última vez que te vi, você era pequenininha. Ah, mas você nem deve se lembrar de mim, sou Karen, prazer – ela sorri para mim com os dentes branquinhos.

Sue Me - Volume 3 | ✓Onde histórias criam vida. Descubra agora