- Eu vim... Na verdade, eu acordei decidida a falar com você, eu tenho tantas coisas para te falar, mas, eu quero começar pedindo desculpas pelo meu comportamento ontem.
- Não precisa me pedir desculpas, você não fez nada demais, e você nem é uma bêbada chata! – caímos na risada.
- Sério que não?
- Te juro.
- Desculpas pelo meu pai, ele passou dos limites com você.
- Eu até o entendo... Não sei como eu agiria se minha filha chegasse bêbada em casa.
- Eu já cheguei alegrinha... Outras vezes e ele me xingava... Mas não quem estava comigo, foi algo totalmente desproporcional e a bronca que você levou não era para você, era pra mim, meu pai acha que por eu ser uma cadeirante, eu voltei a ter 4 anos de idade.
- Tudo bem.
- Sério?
- Sim, afinal foi uma das poucas vezes que você saiu, eu imagino que ele ficou um pouco tenso.
- É, na verdade, ontem foi a primeira vez que eu sai para um barzinho desde que eu me tornei cadeirante.
- Sério?
- Uhurum... Minha vida era calma até eu esbarrar em você – demos uma risada.
POV CLARA
- Luiza, eu não sei o que se passa na sua cabeça, eu só sei que... Que eu me sinto atraída por você, desde o momento que eu te vi no consultório da sua irmã – falei de uma vez, e ela parecia nem respirar.
Aproveitei o silêncio dela para falar mais.
- Eu não sei se você gosta de alguém... É que quando eu estou com você, eu me sinto viva, você me trata como se não tivesse uma cadeira de rodas nos diferenciando. E de certo modo, era para todo mundo me tratar assim, mas, não fazem isso. Eu lembro de tudo que eu falei ontem, de tudo o que eu fiz e eu posso estar bem errada, mas, eu senti uma reciprocidade... Meu Deus, que vocabulário velho é esse? Tá vendo? Não sei nem mais flertar com alguém! Eu só sei que eu...que eu quero muito te beijar.
Luiza que sempre foi falante, resolveu ficar muda olhando para minha cara.
Se eu estiver passando vergonha, pelo menos foi porque eu disse o que eu quero.
Ela se aproximou, colocando a mão na minha cintura e foi aproximando seu rosto do meu.
E nos beijamos... A boca dela é tão gostosa, sua língua... Nos afastamos para tomar um ar, senti seu corpo se arrepiando quando comecei a fazer carinho na sua nuca.
Honestamente, achei que não sabia mais beijar, mas, pelo visto sei.
- Seu beijo é muito bom – ela sussurrou quando desfizemos o contato.
- O seu também.
- Passa o dia comigo?
- Passar o dia? Fazendo o que?
- O que você quiser fazer! Se quiser ficar aqui em casa, vendo alguma série de serial killer ou documentário, eu juro... Eu vou adorar! Eu só quero ficar com você. Só a gente.
- Me parece uma boa programação – sorri.
- Tem hora para voltar para a casa?
- Não, eu preciso acordar cedo amanhã... Mas não tenho hora.
- Ótimo, vamos passar o domingo juntas – ela me roubou um selinho.
As horas foram passando e eu me senti em um filme lésbico naquela parte em que tudo dá certo.
Luiza é tão fofa, me mostrou todos os cômodos do apartamento, e todos comigo no colo porque tem lugares que a cadeira de rodas não passa.
A tarde ela foi para a cozinha, fez um risoto e comprou sorvete para nós duas.
Ficamos assistindo um documentário na Netflix, e por mais que o assunto estivesse interessantíssimo, eu as vezes me pegava olhando para ela. Ou para a sua mão fazendo carinho no meu ombro ou no meu cabelo.
- Seu pai ainda não ligou, estou impressionada – ela comentou.
- Eu disse que vinha atrás de você.
- Ele deve estar agoniado, eu sei que de fato ele não tem motivos, mas, ele é superprotetor e isso não é ruim. Mande uma mensagem para ele, diga que você vai jantar aqui comigo, e que depois eu te levo.
- Mas meu Deus, que coisa... Está virando fã do Senhor Tadeu?
- Bom, primeiro que eu acho sim que ele erra na medida, mas, ele erra porque ele se importa muito com você... E isso é fofo. Segundo que ele sabe que você está comigo, e eu quero que ele tenha uma boa impressão de mim, que ele perceba que eu sou uma boa companhia, que eu posso cuidar de você... Não que você precise de cuidados porque você é cadeirante! Não estou falando disso, eu falo de cuidados... Porque todo mundo precisa de cuidados.
- Você precisa? – A interrompi.
- Preciso – ela disse séria. – Cuida de mim?
- Cuido - a puxei para mais um beijo. – Vou mandar uma mensagem para meu pai... Você me convenceu.
Mais horas se passaram, jantamos comida japonesa e já estava na hora de ir.
Viemos conversando, cantando músicas antigas de uma estação de rádio.
- Chegamos – eu disse.
- Sim, a princesa retorna ao castelo.
- Obrigada por hoje, foi muito bom.
- Eu que agradeço – ela segurou a minha mão e deu um beijo. – Posso te fazer uma pergunta?
- Pode.
- Eu te achei muito corajosa, de bater na porta da minha casa e dizer que queria me beijar. De onde veio essa atitude toda?
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Carvão
Romance"... Surgiu como um clarão Um raio me cortando a escuridão E veio me puxando pela mão Por onde não imaginei seguir Me fez sentir tão bem, como ninguém..." Um romance Lésbico entre Luiza e Clara. O acaso pode trazer boas surpresas