03 -Um café e um cappuccino

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POV LUIZA

- Estava com saudades de você – Helô me abraçou.

- Também estava, achei que essa quarentena nunca acabaria... Não vejo a hora de apertar as bochechas da minha sobrinha.

- Ah, mas se prepare, que eu caí na besteira de comentar que você iria jantar com a gente hoje, ela tá toda ansiosa.

- Somos uma boa dupla.

- Sim, e duas lindas – minha irmã apertou minha bochecha. – Volta quando para a agência?

- Na verdade, estou pensando na possibilidade de não reabrir.

- Como assim, Luiza? – Helô parecia assustada.

- Calma, eu amo a agência, eu amo as pessoas que lá trabalham, mas eu percebi que com Home Office a gente se entendeu bem! Infelizmente, eu não tenho condições de ser um modelo de startup com piscina infinita de bolinha, comida japonesa e geladeiras de doce e Coca Cola... Talvez, os manter em casa trabalhando, possa vir a ser uma possibilidade.

- É de fato... Mas agora que a gente pode sair... A última coisa que eu quero é ficar em casa.

- Não tinha pensado por esse ponto de vista... Bom, mas, vou falar com eles.

- Sim, sua equipe é muito parceira, é muito incrível, vocês vão chegar a um denominador comum.

- E você, Dra. Heloisa... Sentiu saudades de atender?

- Está brincando comigo? Claro! E hoje foi uma volta tão gostosa... Só atendi pacientes que eu tenho mais do que uma relação de trabalho, são pessoas queridas de verdade.

- Feliz em te ver feliz... E essa última paciente sua?

- Clara, o que tem ela?

- Eu já vim aqui outras vezes, não me lembro dela por aqui.

- Vocês devem ter desencontrado, cuido dela desde que ela sofreu o acidente e ficou paraplégica.

- Ela é muito bonita.

- Sim, e muito gente boa.

- Sabe se ela tem Instagram?

- Deve ter, quem não tem? Eu só não sei qual é o dela – minha irmã me encarou – Luiza, ela não.

- O que?

- Você não vai dar em cima de paciente minha.

- Mas Heloisa, ela é linda, simpática.

- Sim, ela é maravilhosa... Mas você não é para o bico dela.

- Que isso mana, tá me ofendendo!

- Ué, ok, não mostrar nenhum namorado ou namorada pro papai até entendo, mas, você nunca me apresentou ninguém que você levasse a sério.

- Pois fique sabendo que eu já namorei!

- Quando? Quem?

- Jeniffer, quando nós duas tínhamos 14 anos.

- E hoje você é uma mulher de 31!

- Fala como se ter 31 fosse um absurdo.

- Não, porque eu já tô na casa dos 40, mas mesmo assim... A Clara não.

- Ok

- Luiza, sério, não vai procurar ela em rede social, deixa quieto.

- Tá bom, doutora! – levantei as mãos em sinal de rendição.

Um mês depois

Janeiro de 2021, depois de uma intensa comemoração de final de ano, 2020 foi para o ralo, graças a Deus.

Acabo de sair da agência, e realmente, resolvemos reabrir, ninguém aguentava mais ficar olhando para as paredes da própria casa.

Como todo começo de ano, passo na livraria para comprar agenda, canetas coloridas e alguns livros sobre publicidade e variedades.

Perco horas e horas nos corredores, mas, saiu sempre feliz, sou a louca da papelaria.

Hoje não seria diferente.

Andando pelos longos corredores, caminhando para a fila do caixa a sorte me sorriu e quem eu encontro toda concentrada tentando pegar um livro em uma prateleira mais alta.

Me aproximei com cuidado.

- Quer ajuda? – sorri e ela ficou me olhando. – Oi, eu sou...

- Luiza, irmã da Dra. Heloisa – ela completou a minha frase.

- Isso! Posso te ajudar?

- Claro!

- Qual livro você quer?

- O terceiro a sua esquerda.

- Prontinho – entreguei e tentei prestar atenção no título - Lady Killers?

- Sim, por favor, não me ache estranha, eu amo histórias de serial killers, geralmente eu compro pelo site, essa editora mesmo, Dark Side é maravilhosa, mas aproveitei que estava por aqui e resolvi levar os que não tenho.

- Gosto peculiar – comecei a rir. – Eu acho interessante o assunto, mas, eu tenho medo.

- Sério?

- Sim, não é como histórias de fantasmas... Serial Killers são possíveis!

- Fantasmas também – ela disse séria... começamos a rir. – Não quero te atrapalhar.

- Não me atrapalha! Você está sozinha? Cadê seu pai?

- Está me tratando como uma criança indefesa e incapaz – ela disse séria me encarando.

- Desculpa, eu não quis dizer isso – fiquei tensa.

- Eu sei... Gosto de brincar assim, quando alguém dá uma brecha – ela deu uma risada. - Mas meu pai está em casa, com o malinha do meu irmão, eu vim comprar os livros que vou estudar esse semestre, mais, coisas úteis e inúteis de papelaria que eu amo ter.

- Veja minha cesta, eu nunca vou usar esses lápis de cor, mas são tão lindos.

- Exatamente!

- Você estuda o que?

- Psicologia, caminhando para o 6° semestre.

- Uau, você é inteligente então... Eu sou publicitária, ou seja, o seu oposto.

- Imagina, não fala assim, você pensa em como dar cor, forma, movimento ao mundo... E eu, estou aprendendo a como cuidar das pessoas que vivem nesse mundo... em tese.

- Por que em tese?

- Quero me formar, não sei se vou atender, mas, vou emendar minha pós graduação, quero me tornar psicóloga forense.

- Nossa, muito interessante.

- Acha mesmo?

- Sim... Vai ficar muito tempo por aqui?

- Bom, já comprei o útil, estou agora olhando alguns livros, passeando... Aproveitando que não saiu muito.

- Posso te fazer companhia?

- Claro, se você quer... Claro, pode sim.

- Quero, depois podíamos tomar um café aqui na livraria, o que acha?

- Dispenso o café, troco por um capuccino.

- Fechado, um café e um capuccino.

CarvãoOnde histórias criam vida. Descubra agora