06 - Sem TV

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POV CLARA

Acordei um pouco tonta, dor de cabeça forte... Dois minutos de pausa para minha alma se acoplar ao corpo, sorri.

Meu Deus, eu bebi demais. Comecei a gargalhar no quarto... Parece algo idiota, mas desde que eu me acidentei eu não me sentia tão viva! Tão igual a todo mundo!

Eu saí pra um bar, socializei, bebi... Fui para praia, entrei no mar, flertei, voltei para a casa carregada (literalmente) e cá estou de ressaca.

O silêncio se fez presente na minha mente, e foi aí que eu me lembrei da parte ruim, meu pai... Ele expulsou a Luiza de casa. Pôs a culpa nela por algo que eu fiz.

Eu vou tomar um banho e ir enfrentar o Senhor Tadeu... Depois eu preciso ir até Luiza pedir desculpas pessoalmente.

Tomei um bom banho, me arrumei e fui para a cozinha.

- Oh filha – Meu pai veio em minha direção me dar um abraço apertado. – Graças a Deus, eu já estava quase chamando um médico para te examinar.

- Pai, calma.

- Filha você chegouaqui em um estado... Deplorável! Eu fiquei muito preocupado. Filha, sejasincera, aquela... aquela moça passou dos limites com você?

- Hã? Como assim, pai?

- A descabeçada da moça que te trouxe! Ela te embebedou e te ofereceu algumadroga? Ou até mesmo, tentou algo?

- Pai, não... A Luiza cuidou de mim a noite toda, inclusive, me aconselhando anão misturar bebida. Eu quis entrar no mar, e ela me carregou e ficou mesegurando o tempo todo. Luiza cuidou de mim até o último momento! Até o senhorchegar e tratá-la como uma psicopata.

- Filha! Entende meu lado!

- Pai! Entenda o meu! É a primeira vez que eu saí desde que fiquei desse jeito,eu curti, eu dei risada, eu conheci pessoas, eu bebi porque eu quis! Eu jácheguei um pouco alegre em casa outras vezes... Ou bêbada, como o senhor quiserdizer. E o senhor nunca agiu dessa forma!

- Mas é diferente! Antes você andava, era policial, hoje você é... – meu paipercebeu a besteira que ele tinha dito, o rosto dele desmoronou.

- Inválida? Incapaz? Dependente?

- Filha, eu me expressei mal... Desculpa... É que eu não gosto daquela Luiza!Estava tudo tranquilo até ela aparecer!

- Só para o senhor saber e não mandar o FBI atrás de mim. Eu estou saindoagora.

- Toma um café, filha, e a gente conversa melhor.

- Escuta, eu estou saindo agora, vou tomar café no shopping, vou passar em umafloricultura e vou atrás da Luiza, pedir desculpas pelo meu comportamentoontem... Mas principalmente pelo o comportamento do senhor! Não me ligue, euposso e vou chegar tarde.

Fui saindo de casa.

- Pai, eu te amo... Luiza me traz vida, ela me trata como alguém normal, e paraadiantar... Eu estou apaixonada por ela, lamento... Mas eu estou saindo agoradisposta a ficar com ela, não digo namoro... Mas de estar com ela, espero que osenhor a trate melhor da próxima vez que você vê-la, porque se depender de mimela vai estar muito presente na minha rotina.

POV LUIZA

Não consegui dormir muito, sai da casa da Clara um pouco triste, preocupada.

Parei na padaria para tomar um chá, e quando percebi já estava sentada a trêshoras comendo o terceiro pão na chapa.

Voltei para a casa, sem um pingo de sono... Acho que tomei uma xícara de chá edois litros de café.

São quase onze da manhã e nada do sono vir! Queria ligar para a Clara, mas, eladeve estar dormindo... Ou com o pai dela vigiando cada movimento.

Ela estava tão linda ontem... No mar, no meu colo... Por que eu não a beijei?Merda!

O interfone tocou.

- Oi

- Dona Luiza, bom dia, a Clara está aqui.

- Clara? Sério?

- É, ela falou que esse é o nome dela... É uma moça cadeirante. Deixo elasubir?

- Claro! Claro.

- Tá bom.

O porteiro desligou e eu não consigo acreditar! Como ela conseguiu meuendereço? Como ela veio? Por quê? Meu deus... Eu preciso escovar os dentes...Meu cabelo está todo embaraçado.

Vou pentear! Não dá tempo! Vou fazer um coque!
E escovar os dentes... O resto, o resto deixa... Meu Deus a casa está umabagunça.

A campainha tocou.

- Oi. – Clara está sorridente e com um buquê de flores do campo. – Possoentrar?

- Claro, meu Deus, me desculpa não ter te chamado para entrar antes.

- Tudo bem, atrapalho?

- Não! De jeito nenhum. – Fechei a porta.

- São para você – ela me entregou as flores.

- Eu amo flores do campo!

- Feliz que acertei.

- Como você descobriu meu endereço?

- Liguei para sua irmã – suas bochechas coraram. – Eu precisava te ver.

- Eu queria te ligar, mas fiquei com medo de atrapalhar.

- Me ligue sempre que quiser.

- Está bem. Me dê sua mochila, vou colocar aqui em cima da mesa... Quer ver TVcomigo? O sofá aqui é bem bom – ela me deixa nervosa de um jeito que eu meatrapalho toda.

- Quero – ela sorriu.

Coloquei as flores em um vaso e deixei no centro da mesa, peguei sua mochilaenquanto ela me observava.

Quando voltei com um pouco de suco, ela já tinha se ajeitado no sofá.

- Eu ia te ajudar a ir para o sofá!

- Imagina, consigo super fácil. Obrigada pelo suco, estou morrendo de sedemesmo – ela deu uma risada.

- Quer ver o que na TV?

- Na verdade eu queria conversar com você... Sem TV.

- Tá – deixei o controle de lado. – O que você tem pra me dizer? – Sorri paraquebrar o gelo

CarvãoOnde histórias criam vida. Descubra agora