No meu horário de almoço, eu voltei pra minha casa porque tinha esquecido um documento importante. No entanto, logo depois de entrar pelo portão, eu me deparei com uma cena no mínimo bizarra.
Meu vizinho estava reunido com uns outros seis caras, todos meio mal encarados e brigando com espadas de madeira entre si. Eu levei minha mão ao rosto, sem saber o que eu deveria fazer. Eu era mais magro que um bicho-pau. Se eu dissesse qualquer coisa, eles podiam me comer na porrada com a maior facilidade.
Reuni toda a minha coragem mais uma vez e me aproximei do meu vizinho. Ele parecia estar coordenando tudo, dando gritos ao longe e consertando os movimentos de seus colegas.
— Er, boa tarde.
— Olá, vizinho! — ele se virou pra mim com uma expressão alegre, enérgica — Que ventos o trazem aqui?
— O que... é isso? — apontei para os caras.
— Estamos treinando para a batalha de amanhã.
— Batalha?...
— Sim. Vai ser na avenida central. Está convidado para participar.
— Eu? Lutar? — dei um riso amarelo — Não, não, não, eu nunca briguei com ninguém, nem na escola. Vou deixar o trabalho pesado pra vocês, mesmo.
— Bom, se você diz... — ele deu um sorriso travesso — Mas seu espírito guerreiro ainda vai despertar, vizinho.
— Não vai não. Passar bem.
"Espírito guerreiro"? Esse cara é no mínimo maluco." foi o que eu pensei enquanto procurava meu documento. "Conta outra, vai. Até meu psicólogo fala umas coisas menos idiotas".
Enfim. Peguei o documento e voltei pro trabalho. O dia passou como normalmente: papelada pra corrigir e assinar, chefe querendo cortar gastos fazendo besteira e clientes achando que eu tenho cara de santo pra fazer milagre. Não tenho e nem quero ter.
Quando cheguei de novo em casa, meu vizinho estava com a porta aberta, e deu pra ver ele e os coleguinhas dele jantando e conversando. Eles conversavam alto, mas eu estava tão cansado que nem me dei ao trabalho de reclamar. Eu só queria jogar minhas coisas num canto e dormir, nem que fosse no sofá.
O sono foi bom. No dia seguinte, eu acordei com meu celular tocando. Era uma das minhas colegas.
"Alô?"
"Cadê você?"
"Foi mal, o despertador não apitou."
"Venha logo pra cá. A gente tá com um problema sério."
"O que é?"
"Só vem logo. É melhor você ver com seus próprios olhos."
Eu já estava com a roupa do trabalho, então apenas peguei algo da geladeira, comi e saí de casa. Fui com meu carro até o trabalho, e antes mesmo de chegar lá, eu já conseguia ver o problema.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Meu vizinho é um viking
AdventureEntre seu apartamento e o trabalho, nosso protagonista vive sua vida numa espiral tediosa e estressante. Entretanto, a dedicação barulhenta do seu vizinho a uma batalha iminente faz com que ele tente dialogá-lo para uma saída mais pacífica. O que no...