_________A Chave Dourada________
Três dias haviam se passado desde que Arthur encontrara a porta misteriosa no jardim da mansão dos seus avós. Continuava intrigado com o fato dela estar localizada numa parede bem no centro do labirinto, aparentemente sem dar acesso a lugar nenhum. Perguntava-se também o porquê da porta ser tão pequena, mas nunca chegava a uma conclusão satisfatória. Pensou em voltar ao local onde a encontrara, para ver se achava ali alguma pista de como abri-la; alguma chave ou outra coisa qualquer. Mas ele não voltou. Tinha uma sensação estranha toda vez que decidia ir até a pequena porta, e então desistia. Mas sua curiosidade só aumentava à medida que os dias passavam.
- Onde está aquele marcador...? - Arthur perguntou pra si, enquanto revirava os lençóis da sua cama atrás do marcador de páginas que estava usando havia pouco. Impaciente, ele pegou uma meia da gaveta e depositou-a entre as páginas do livro, colocando-o em seguida de volta na prateleira ao lado do guarda-roupa. Sentou-se na cama. O quarto amplo possuía duas grandes janelas que concediam uma bela visão do vilarejo. Prateleiras com livros e retratos da família dividiam, com quadros belos e antigos, uma das paredes do quarto. Era um ótimo lugar para ler e descansar, mas Arthur já estava farto disso. Não fizera outra coisa desde que chegara no velho casarão e seu humor não havia melhorado. Ele precisava fazer algo diferente, algo que o tirasse daquela monotonia. Só não sabia o que era, exatamente. Porém, algo lhe dizia que a pequena porta misteriosa, era a resposta.
- O que está fazendo? - perguntou uma voz doce que vinha da porta do quarto. Arthur levantou o olhar e contemplou o rosto corado de Emma, que estava usando sua roupa preferida: o vestido lilás com muitos babados que tinha ganhado da Tia Marge, no seu último aniversário.
- Estava lendo - respondeu Arthur e indicou com a cabeça o livro que tinha nas mãos há poucos minutos: Contos dos Irmãos Grimm.
Emma entrou a passos rápidos e sentou-se na cama ao lado do irmão, olhando para os próprios pés enquanto mexia nos babados de seu vestido.
- Diz o que você quer - falou Arthur, percebendo a inquietação da irmã.
- Eu vim chamar você para brincar. Mas fiquei com medo de você ficar bravo comigo - respondeu Emma, ainda sem olhar para Arthur.
- E por que eu iria ficar bravo com você? - Arthur indagou, confuso.
- É que... você anda tão esquisito esses dias... não fala comigo direito. Achei que não ia gostar se eu incomodasse você...
Arthur se sentiu culpado, pois embora ficasse irritado com Emma, as vezes, quando ela o dedurava para seus pais ou mexia em suas coisas, nunca a tinha tratado mal. Ele não percebeu que, desde que vieram para Southwind, havia se afastado da sua irmã, passando todo esse tempo apenas preocupado consigo, com suas perdas e seus problemas, sem nem se perguntar como Emma estava lidando com toda aquela situação. Ela era uma garotinha inocente de apenas 7 anos e estava no meio de um furacão; certamente ela sentia que as coisas não estavam indo muito bem. Do jeito dela, certamente sentia.
- Ei, olha pra mim - pediu Arthur e Emma assim o fez, com o rostinho triste emoldurado pelos cabelos dourados. - Me desculpe, eu não queria que você se sentisse assim. As coisas estão meio complicadas na nossa família...
- O papai e a mamãe estão brigando muito... - disse Emma, com a voz triste.
- Sim, é verdade. Mas não importa o que aconteça, eu sempre vou estar aqui, com você, porque sou seu irmão.
- Promete?
- Prometo.
Emma sorriu e abraçou o irmão, que retribuiu o gesto de carinho. Arthur então pensou que, mesmo que seus pais se separassem, ele sempre teria Emma ao seu lado, e enquanto eles permanecessem juntos, de algum modo, a família ainda estaria unida.
VOCÊ ESTÁ LENDO
As Crônicas do Bosque Encantado | O Refúgio dos Sábios
AdventureArthur Wettergrey é um garoto feliz de treze anos, que vive com seus pais e sua irmã mais nova, Emma, em Londres. Ou pelo menos era assim... Depois que o casamento de Gabriel e Helena Wettergrey começou a desandar, fazendo com que a vida tranquila e...