Capítulo V

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_______O Bosque Encantado_______

Quando finalmente parou de gritar, Arthur passou a respirar com dificuldade e levou a mão ao peito. Deu dois passos para trás, sendo imitado pelos quatro homenzinhos, que olhavam para ele com certo receio. De olhos arregalados e fixos no felino cinzento a sua frente, o garoto tentava articular alguma frase, sem sucesso. Depois de alguns instantes, conseguiu falar, fazendo sua voz soar mais como um suspiro apavorado do que qualquer outra coisa.

- Você fala?!

- Falo fluentemente 12 idiomas. Incluindo alguns do seu mundo, jovem Wettergrey - respondeu Cybele, mostrando seus pequenos, brancos e afiados dentes.

Arthur não podia acreditar no que seus olhos e ouvidos estavam lhe mostrando. Virou-se e contemplou as quatro estranhas criaturas que o receberam. Seu olhar ia dos chifres às barbas compridas, às orelhas e novamente aos chifres. Voltou-se para Cybele, e embora ainda estivesse em choque por ouvir um gato falar, convenceu-se de que estava na hora de aceitar que aquele não era um dia normal. Depois de atravessar um buraco oculto atrás de uma porta na parede do jardim, certamente iria se deparar com coisas estranhas. Ele só não imaginava que seriam tão estranhas como estavam sendo.

- Me diz... onde eu estou, exatamente?

- Estamos no Bosque Encantado - respondeu Cybele.

- E onde isso fica... exatamente?

- Não estamos mais em Londres, Arthur. Na verdade, não estamos na Inglaterra, muito menos no planeta Terra. Estamos em outro mundo. Um mundo muito diferente do seu. Bem-vindo ao mundo de Inne!

Arthur arregalou os olhos.

- Outro mundo? - perguntou, atônito com a declaração da gata cinzenta. Seus olhos se moviam de um lado para o outro, mas ele fitava o nada, boquiaberto. - Mas como isso é possível? - disse voltando seu olhar novamente para Cybele.

- A porta que você atravessou no jardim da mansão de seus avós. Ela é o que chamamos de fenda. Um rasgo no tecido do espaço, uma rachadura na realidade, que serve de passagem entre dois mundos. Nesse caso, entre a Terra e Inne.

O jovem Wettergrey levou a mão ao queixo e contraiu as sobrancelhas. Estava fazendo muito esforço para dar algum sentido àquelas palavras, que para ele soavam como fruto da mais pura loucura. Ele próprio estava duvidando de sua sanidade, mas tudo ali era muito real. O bosque, as criaturas, e o maldito felino falante. Tudo era real e isso o assustava.

- Sei que é muita informação para você, mas...

- Você me queria aqui. Por quê? - Arthur interrompeu-a bruscamente.

- Na verdade, inicialmente eu não tinha interesse algum em você. Era seu avô quem eu queria trazer de volta para cá...

- Trazer de volta? - Arthur interrompeu novamente a gata, que soltou um miado baixo de descontentamento.

- Mas - recomeçou Cybele, num tom um pouco mais alto - passei a observar você na Mansão e cogitei a hipótese de que talvez fosse você o escolhido, ao invés de Henry. Essa hipótese murchou quando vi que a fenda não se abriu para você na noite passada. - Arthur sentiu uma pontinha de vergonha ao recordar de si mesmo perseguindo Cybele na noite anterior, quando não fazia ideia de que ela pudesse ser uma criatura fantástica. A gata continuou: - Mas hoje, quando vi você abrindo a porta e atravessando o túnel, soube que minha hipótese estava correta e você é mesmo aquele que todos estão esperando.

- Eu não sou quem vocês pensam que eu sou. Não tenho nada de especial!

- Tem sim, Arthur - Cybele deu alguns passos na direção dele. - Você ainda não sabe, mas tem dentro de si a força e o poder capazes de salvar um reino inteiro da opressão das trevas. Você é o guerreiro profetizado! Aquele que todos em Ergon aguardam há dez anos!

As Crônicas do Bosque Encantado | O Refúgio dos SábiosOnde histórias criam vida. Descubra agora