●𝑈𝑛𝑒

576 68 21
                                    


○𝓣𝓸𝓭𝓸𝓼 𝓶𝓮𝓻𝓮𝓬𝓮𝓶 𝓼𝓮𝓻 𝓯𝓮𝓵𝓲𝔃𝓮𝓼,𝓲𝓷𝓭𝓮𝓹𝓮𝓷𝓭𝓮𝓷𝓽𝓮 𝓭𝓸○ ○𝓼𝓲𝓼𝓽𝓮𝓶𝓪 𝓮𝓶 𝓺𝓾𝓮 𝓿𝓲𝓿𝓮𝓶.○

"Você não acha que é hora de você estar dormindo?" A mulher fala assim que as cortinas balançam,soprando junto ao vento. A criança sentada na cama sorri largo e salta do colchão para correr em direção a ela. Todas as noites eram assim. A menina esperaria sua mãe apagar a luz do quarto fingindo que estava em um sono profundo,estão ela acenderia a luz novamente e esperaria até tarde sentada em sua cama,a espera da bela mulher de preto.
Inês se colocou de joelhos com os braços abertos para receber o corpo minúsculo da criança risonha. Ela riu também,quando a menina passou suas pequenas mãozinhas por seu rosto,afastando seus cabelos para olha-la melhor.

"Você está bonita hoje." Disse a criança,e Inês ergueu as sobrancelhas fingindo ofença.

"Então quer dizer que ontem eu não estava?" Ela viu a menina sorrir timidamente,suas bochechas estavam vermelhas e ela percebeu que cometeu um erro. Ela riu. "Vamos não fique chateada,eu estava brincando."

"Eu sei disso." A menina ergueu a mão novamente alisando as mechas castanhas de Inês com vislumbre nos olhos. A mulher observou a pequena apertar os lábios em linha reta.

"Eu disse a você para me contar o que pensa." Mesmo que ela pudesse ler sua mente. A menina suspirou e timidamente olhou para o chão,sem parar de alisar os longos cabelos de Inês.

"B-bem… é que… é que eu gosto muito de alguém," A feiticeira sorriu divertida olhando para o pequeno ser. Como essa criança tão pequena saberia o que está sentindo tão bem quanto ela? Mesmo com milhares de anos de idade,ela não poderia dizer se estava apaixonada ou não. Talvez o tempo tenha roubado esse dom.

"Muito bem?" Ela perguntou quando percebeu as mãozinhas da criança juntas,esfregando-se para se livrar da timidez. Inês abraçou os dedos da menina com os seus,fazendo com que a criança rechonchuda a olhasse. "Criança..."

"Me desculpe…" Seus olhinhos estavam cheios de lágrimas e um biquinho moldava seus labios rosados. Ao ouvir um soluço,Inês emitiu um pequeno som reconfortante puxando a figura encolhida para um abraço de urso.

"Eu te disse para não pedir desculpar sem ter culpa. Vamos pequena,meu cabelo precisa de uma linda trança." Ela disse afastando o queixo para olhar para o serzinho em seus braços. A menina sorriu animada,parecendo esquecer do acontecimento anterior. A bruxa caminhou até a cama e deixou-a sentar confortável sobre o edredom rosa,logo ela se sentou ao chão, esperando. Não demorou muito para mãos ageis e minúsculas movesse suas mechas. Um silencio se instalou no quarto, mas ainda sim era possível ouvir a noite lá fora. E estava calmo.

O despertador foi arremessado contra o chão e um som de resmungo acoou pelo quarto quando Márcia percebeu que não era aquilo que a incomodava em seu sono. Seus olhos se abrem derrepente e ela salta da cama apressada para pegar o celular acima da mesa.

"Alô…" Sua voz sonolenta respondeu. Do outro lado da linha uma voz chorosa pode ser escutada.

"Márcia… a mãe e-ela…" Márcia sentiu um aperto em seu peito tão forte que levou a mão ao local para tentar amenizar. Rapidamente ela se recompôs.

"Onde você está?" Enquanto corria pelo quarto procurando uma calça para vestir com o celular espremido entre o ombro e a orelha,seu irmão lhe passava as informações do hospital. E logo ela estava a caminho.

Enquanto dirigia,batia os dedos contra o volante de forma incessantemente nervosa. Ela podia sentir que tremia,e sabia bem por que. Sua relação com a mãe não era boa desde que teve que morar na rua quando foi expulsa de casa. Por ser quem ela é. Márcia tinha prometido a sí mesma,quando conseguiu sua própria casa,que nunca mais pisaria de onde foi desertada. E assim foi. Já faziam anos dês da última vez que ela realmente viu a mãe,sem ser por fotos. Ela mal se lembrava do som da voz,da cor dos olhos. Ela se perguntava se ainda era tão alta quanto a mais velha. Pensando nisso Márcia riu,lembrando-se de quando seu irmão brigava com ela por conta de ele ser muito mais baixo,como seu pai era. Era uma época boa. Quando Márcia podia correr e jogar bola até tarde,se empanturrar e assistir programas de TV ruins com sua mãe e irmão. Porem nem sempre tudo dura. Ela descobriu que não podia confiar na própria mãe quando aquela palavra foi direcionada a ela,enquanto sua mãe andava por seu quarto empacotado suas roupas. As quais mais tarde ela jogaria pela janela do terceiro andar do prédio. Ela não se lembra de ter chorado tanto em outro momento de sua vida. Se lembra de ter se sentido traída,pois a mulher que jurou a amar acima de todos a descartou assim que percebeu que ela não era mais uma garota maleável como antes.

Suspirando pesadamente,Márcia sente a maçaneta fria da porta contra seus dígitos e ela também podia ouvir a forma como a mesma tremia junto a ela. Ela engoliu em seco,fechou os olhos com força e adentrou o quarto de hospital.

"Theo!" Ela abraçou o irmão quando o viu,soltando uma risada imperceptível ao perceber que ele ainda era mais baixo. Ela percebeu que seus cabelos estavam mais escuros que antes,quase pretos. E sua pele era mais morena. Ela olhou em seus olhos e pode se lembrar que eram azuis. Logo seus olhos passaram pelo quarto para a figura de sua mãe deitada na cama. Ela sentiu o ar sumir de seus pulmões quando percebeu o que o tempo tinha feito. A mulher que antes tinha cabelos loiros,ondulados e curtos,agora possuía mechas lisas e finas com tom esbranquiçado. Seu rosto já não possuía a mesma estrutura firme de antes,ela percebeu as enormes bolsas abaixo dos olhos fechados. Lágrimas brotaram em seus olhos e ela levou a mão a boca com o Senhor franzido.

Márcia parou para pensar em algo. O que repente ela esperava ver? Sua mãe ainda jovem,da mesma forma que esta a quando a jogou pra fora? Ela caiu na real e percebeu que da mesma forma,o tempo passou para as duas partes. Mas parecia que tinha sido mais a favor dela do que de sua mãe.

"Venha aqui pequena." Seu irmão a chamou segurando em sua mão. Márcia percebeu que ele estava a puxando para perto da cama onde fios se conectavam ao braço e nariz da mulher detida.

"Ela consegue nos escutar,mas não pode falar muita coisa por conta do respirador." Ele explicou. Márcia acenou com a cabeça e nervosamente limpou as maos suadas na calça jeans clara que usava. "Diga algo Márcia…" incentivou quando viu a irma relutante com o toque. Ela sabia que deveria dizer algo,mas o que ela diria?

"Obrigado? Mas pelo que?"

"Perguntar se esta tudo bem? Claramente não está."

"Eu senti sua falta? Ela não sabia disso."

O que ela diria? Márcia abriu a boca incerta do que realmente diria:

"E-eu…" Seu telefone vibrou no bolco traseiro da calça,e pela frequência personalizada ela sabia que deveria atender. Seu irmão a olhou em descrença quando ela saiu quase que correndo do quarto. Com um certo alívio mas também pesar,Márcia atendeu a chamada da delegacia.

"Albuquerque." Limpou a garganta engolindo em seco.

"Márcia precisamos de você com urgência."

𝑬𝒕 𝒒𝒖𝒂𝒏𝒅 𝒋𝒆 𝒅𝒐𝒓𝒔 ...Onde histórias criam vida. Descubra agora