One Chance - Urridalgo

1º Capítulo

Liverpool, Inglaterra.

- Então você aceitou esse desafio? - Linsey fala mais alto que o normal por ainda estar em seu quarto. - Acha mesmo que conseguirá salvar o time?
Nós já estamos atrasados, a festa de comemoração do Liverpool começou tem alguns minutos e, claro, ainda nem saímos de casa. Essa será minha última noite com todo o time e seus dirigentes, depois disso, arrumar as malas e me mudar para o México.
- Eu fui contratado para isso, logo, terei que dar resultados! - Finalmente respondo a minha irmã enquanto olho novamente para o relógio de pulso percebendo que iremos nos atrasar mais do que o previsto. - Não acho que tenha sido a melhor ideia essa venda, mas não sou eu quem define, não é mesmo?
Sair do Liverpool, ainda mais com uma Champions League ganha, não era o que eu esperava, principalmente agora que sei para onde irei. Chivas, um time de Guadalajara, no México, conseguiu me contratar, pagar o que meu trabalho vale para o time inglês. Pelo pouco que pesquisei, estão precisando de um jogador de ponta para tentar alavancar o time, e, ao que parece, esse cara sou eu!
- Linsey, estamos atrasados, eu preciso estar nessa festa antes das nove! - Desvio de meus pensamentos, tentando apressa-la.
- Você pode ter calma, por favor?? - Ela responde, finalmente saindo do quarto, mostrando toda sua beleza, que é de família, claro. - É a noite do capitão do time e acontece que ele é meu irmãozinho!!
Minha primeira reação foi simplesmente revirar os olhos para o que Linsey havia dito. Com tudo pronto, finalmente pudemos sair do apartamento e ir para o Anfield, a diretoria decidiu que esse ano a comemoração pela vitória seria no próprio estádio, e eu, como capitão, terei que levantar a taça novamente, além de fazer um breve discurso sobre como foi a temporada. Só não contava em ter que me despedir de todos...
- Já mandou mensagem para todas as mulheres que você pega regularmente? - Linsey me fez voltar para a realidade, deixando meus pensamentos em segundo plano.
- Minha querida, você sabe que eu sempre deixo tudo em aberto - Respondo arqueando uma de minhas sobrancelhas com um sorriso de canto, olho para minha irmã e sua reação é a mesma de sempre, revirar os olhos e rir. - Não é um adeus, elas sabem disso, uma hora ou outra eu vou voltar!
- Ansiosa pra saber quais serão os nomes das mulheres que você irá quebrar o coração no outro continente, estavam faltando as mexicanas mesmo! - Ela responde em tom de ironia, o que me faz rir de imediato. - Daqui a pouco você completa o álbum de figurinhas, falta, o que, o oriente né?
- Assim você me coloca como um homem ruim, que isso, parece até que não gosta de mim!! - Respondo com um leve drama em minha voz, Linsey da um leve soco em meu braço, fazendo-me rir em seguida. - Vou pedir para o motorista parar e te deixar aqui mesmo, não se agride fisicamente o ganhador da champions!!
- Você pode ser o ganhador da champions league para as mulheres que são loucas para terem algo contigo, mas, pra mim, você é só o Noah!
Seguimos para o estágio ainda com muitas provocações, eu e Linsey sempre fomos assim, quando me mudei para Inglaterra achei que nossa relação esfriaria, entretanto, foi o contrário, todos os dias nos falamos, ela sabe de tudo, ou melhor, quase tudo, que acontece em minha vida e vice-versa. Cheguei a cogitar a possibilidade de chama-la para morar comigo no México, mas não quero estragar nossa relação, ela funciona perfeitamente assim, com a distância que existe entre a gente. Acredito também que o México merece conhecer o Noah Urrea jogador, sem alguém para pegar em meu pé e estipular limites, eu vou chegar lá para mudar o time.

Guadalajara, México

Bato mais uma vez na porta do quarto, claro, sem sucesso. Encosto minha cabeça na porta e fecho meus olhos tentando encontrar algo que possa deixa-lo tranquilo, suspiro fundo tentando acessar qualquer memória de momentos iguais a esse que acabaram bem, e, óbvio, não consegui encontrar. Pepe nunca soube lidar bem com perdas, isso quando essas são relacionadas ao futebol, claro.
- Meu amor, abre a porta, por favor! - Tento mais uma vez, não vou desistir tão cedo e isso já é algo que tenho em mente. - Foi apenas um jogo, sempre tem um que ganha e o outro acaba perdendo, isso é normal, não é o fim do mundo!
- Não é o fim do mundo??? Você está louca? - Escuto ele gritando do outro lado da porta, recuo um pouco, me afastando da mesma, não esperava uma resposta, era silêncio até agora. - Sabina, parece que você não sabe de nada, meu Deus do céu, mas também, claro, fica com aquele seu estúdio de dança estúpido, quando que entenderia algo que eu passo!
Chego à conclusão que era melhor o silêncio, ou talvez eu simplesmente não entenda mesmo e tudo que falei até agora foi em vão, ou tremenda besteira. Respiro fundo mais uma vez, tinha dito pra mim mesma que não desistira e seguirei fiel ao meu pensamento.
- Vocês vão ter outra chance, daqui a pouco chega um novo campeonato, o Chivas não é ruim em campo, eu e você sabemos disso - Falo agora mais perto da porta para que Pepe consiga escutar claramente o que tenho a dizer. - Vocês só precisam encontrar uma unidade, algo está faltando, você mesmo disse pra mim, irão encontrar o que é e seguir para a próxima campanha melhor que essa última!
Silêncio. Alguns segundos se passam e esse silêncio é quebrado por risadas vindas de dentro do quarto, suspiro com um tom de derrota, ele claramente não quer levar a sério o que digo, essa não é a primeira e nem última vez. Encosto meu corpo no batente da porta, a Sabina que jurava que conseguiria concertar as coisas dessa vez foi embora dando espaço para a Sabina derrotada de sempre.
Escuto passos e esses foram se intensificando ao que chegam perto da porta, engulo seco e tento enrijecer meu corpo para parecer que existe algum tipo de controle dessa situação, logo percebo a porta finalmente sendo aberta.
- Você diz tudo isso porque é muito difícil saber o que é ganhar, o que é a glória - Pepe diz olhando-me fixamente, fazendo com que cruze meus braços e preste atenção em suas palavras. - Para entender o que sentimos, o que eu sinto, precisa ganhar, ver os torcedores gritando por você e pelo time, mas se depender do seu estúdio, nunca irá sentir isso, logo, não entenderá tudo que se passa no momento de derrota depois que já conheceu a vitória, entende?
Ainda com meus braços cruzados, aperto meu braço tentando processar tudo que Pepe despejou para cima de mim, eu nem deveria ter falado algo, não é do meu entendimento, não é da minha alçada, só não queria vê-lo naquele estado, entretanto, piorei tudo. No fim, ele está certo, eu não entendo, talvez nunca vá entender.