One Chance - Urridalgo

5º Capítulo

Casa do Noah, Guadalajara

Depois de duas horas tentando dormir, sem nenhum sucesso, decidi tentar resolver minha situação com a tal Sabina. Pego meu celular para ver se a mexicana respondendo, claro que não, então acabei por mandar mais algumas mensagens e com certeza me arrependerei dessa decisão.

só quis ajudar
e fica tranquila, eu não sou homem de me apaixonar não

Não esperava uma resposta, na verdade, eu não esperava nada. Mas é claro que aconteceria total o contrário, percebo que meu celular começa a vibrar, duas da manhã e uma ligação? Claramente não é a Linsey, ela tem mais coisa pra fazer, minha mãe já falei hoje, não tem ninguém que precise falar comigo agora, ou melhor, achei que não tinha. É Sabina, ela está me ligando, uma ligação, isso mesmo. Finalmente pego o celular e acabo observando brevemente a tela com o nome da mexicana, depois de poucos segundos, atendo.

- Alo? – Início a conversa, minha voz acabou saindo um pouco confusa demais, isso não foi bom.
- Oi, aqui é a Sabina, mas disso você já sabe. – A mexicana fala do outro lado da linha. – Eu queria saber o que exatamente aconteceu para você chegar me falando tudo aquilo.
Tento absorver toda a fala de Sabina, mesmo sem sono, minha cabeça está trabalhando um pouco mais lenta que o normal. Respiro fundo e decido iniciar a conversa da maneira mais espontânea possível.
- Não tem como eu te contar – Respondo o mais sério possível, mesmo estrando propenso a rir. – Você começou a nossa amizade da maneira errada, tem que me conquistar, eu sou difícil!
Consigo escutar a mexicana rir do que acabei de falar e, por alguns segundos, o silêncio se fez presente, entretanto, logo ele deu lugar para a voz de Sabina.
- Vai se foder tá bom! – Sabina fala bufando logo em seguida. – Que inferno.
Acabo por soltar uma risada, essa conversa já começou interessante, me acomodo melhor em minha cama para poder responder a altura.
- Nossa minha cristal mexicana, que boca suja é essa hein – Finalmente quebro o silêncio, Sabina teve uma rápida reação, rindo de minha fala. – Você é assim só por telefone ou na cama também?
Mais uma risada, dessa vez cheia de deboche por lado da mexicana. Silêncio. Esperei mais alguns segundos e percebi que teria que reverter o que acabei de falar.
- Ta bom, desculpa, foi desnecessário, eu sei – Falo tranquilamente enquanto presto atenção na pintura do teto, ela não foi bem feita. – Culpo a bebida por isso!
- Você não tem vergonha na cara! – Hidalgo fala, agora em um tom mais baixo.
- Está falando baixo porque? – Tento chegar no mesmo tom que ela. – Está falando escondido comigo é?
Escuto uma risada genuína de Sabina, ponto pra mim, eu sempre consigo fazer alguém rir, principalmente as mulheres.
- Primeiro que eu nem deveria estar te ligando! – Sabina continuou falando mais baixo, suspirou e continuou. – Mas eu precisava saber o que estava acontecendo naquela festa, ou pior, o que ainda pode estar acontecendo.
- Olha, sobre agora eu não posso falar nada, já estou em casa. – Respondi logo em seguida. – Mas te digo que ele estava bem bêbado quando sai....
Foi um movimento arriscado? Sim, mas acho que precisava falar, vai saber o que pode acontecer quando ele chegar na casa dela não é mesmo?
- Típico do Pepe, nada que eu já não saiba lidar. – A mexicana respondeu, agora bem mais séria que antes, em sua voz dá até para perceber um resquício de medo. – Bom, muito obrigada Noah, ajudou em nada!
Solto uma risada baixa por conta da última fala de Sabina, parece que ela sabe exatamente o que precisa falar e qual a melhor hora para isso.
- Magina cristal, eu to aqui para isso!
- Eu não sou sua cristal, Noah! - Sabina responde mais ríspida que em todo o resto da conversa.
- Boa noite cristal mexicana! - Respondo rindo logo em seguida.
Sabina apenas bufou e finalizou a ligação. Deixo meu celular na mesa de apoio ao lado da cama e volto a olhar para o teto. Não esperava que Sabina fosse assim, ela claramente é uma mulher forte, cheia de si e com muita certeza do que quer.

Casa da Sabina, Guadalajara

Desliguei o telefone rapidamente, deixei o celular na bancada do banheiro e fixei meu olhar no espelho. O que você tá fazendo Sabina? Mesmo eu só querendo saber a verdade, não tem como ficar ligando para estranhos simplesmente para descobrir se Pepe está ou não fazendo algo de errado. Respiro fundo e observo meu reflexo no espelho. Chega, você não vai tornar essa atitude rotineira.
Finalmente saio do banheiro e volto para a sala, encontro Heyoon e Sina em seus celulares e torço para que não tenham percebido a minha demora.
- Estava falando com quem Sabinoca? - Heyoon fala assim que sento ao seu lado no sofá. - Você acha que eu sou burra né!!
- Não estava falando com ninguém, por favor! - Respondo olhando-a e tento não transparecer meu nervosismo. - Só estava resolvendo algumas coisas, nada demais.
- Estava resolvendo coisas a essa hora da manhã, conta outra! - Yoon responde rapidamente.
- Deixa ela Heyoon, que saco vocês duas! - Sina entra na conversa tentando finaliza-la antes que vire uma briga.

[...]

Tentei fazer as meninas irem embora o mais rápido possível, não queria que o Pepe chegasse e elas ainda estivessem aqui, tudo seria pior. Consegui deixar a casa o mais arrumada possível, como se elas tivessem ido embora a algumas horas e não a poucos minutos.
Quando finalmente acho que a casa está visivelmente apresentável, me jogo no sofá sem muita educação, fecho os olhos e suspiro, agora e só aguardar o show. Esse não demorou a começar, após alguns minutos de silêncio, escuto Pepe abrir a porta de casa e logo preencher o silêncio com suas palavras agressivas.
- O que a Sina e a Heyoon estavam fazendo aqui? - Ele diz aproximando-se do sofá onde me encontro.
Sem me levantar, apenas olho para Pepe e respondo o mais tranquila possível:
- Então, como você já sabe, elas são minhas amigas, não vou afastá-las de mim. - Respondo calmamente, agora é a chance de colocar as cartas na mesa. - E a sua festa, foi boa?
Finalizo a frase já com remorço de ter falado aquilo, toda a tranquilidade e segurança que tinha, ou sonhava que tinha, vão embora dando lugar ao medo e insegurança. Pepe começa a rir e balançar a cabeça negativamente para, aí sim, falar:
- Nós já conversamos que sobre as festas que vou, você não precisa perguntar ou querer saber.
Levanto-me do sofá e nesse momento ele aproxima-se de mim. Medo. Tento ficar o mais forte possível para não dar brecha para mais falas agressivas, ou algo pior.
- Você pode ficar tranquilo. - Início minha fala com a voz trêmula. Merda Sabina. - Uma hora ou outra eu acabo sabendo de tudo.
Silêncio. Consigo sentir a respiração de Pepe, ele está próximo demais, deixo o medo me consumir, mesmo tentando lutar muito contra isso. Ele afasta-se e sobe as escadas em direção ao quarto e finalmente posso respirar aliviada. Passo as mãos pelo cabelo tentando encontrar a calma interior que deixei ir embora enquanto ele estava presente.
Pego meu celular e entro em meu grupo com Sina e Heyoon, preciso delas nesse momento.

Marias chuteiras e sabina

estúdio
Yoon: ele fez alguma coisa?
Sina: Sabina?
Sina: estamos indo pra lá

[...]

- Sério, eu vou sair no soco com esse idiota - Heyoon fala levantando do banco da área externa do estúdio.
- Calma Heyoon - Sina diz tentando deixar o ambiente mais calmo. - Como você está, Saby? Ele não tocou em você, certo?
Respiro fundo ainda olhando para o chão e meus pés. Ergo-me para poder observar as duas e finalmente crio coragem para falar:
- Não, ele não encostou um dedo em mim, fiquem tranquilas!
- Dessa vez né Sabina! - Heyoon fala em um tom mais alto. Ela respira fundo e aproxima-se de mim. - Me desculpa, sério, você sabe como eu sou, só não aguento ver você nesse estado.
Observo Sina e ela apenas balança a cabeça em concordância com tudo que Heyoon falou. A loira coloca uma mexa do meu cabelo atrás de minha orelha e fala:
- Nos estamos com você Saby, hoje e sempre! - Ela olha para Heyoon que acena positivamente. - Não aguentamos ver ele fazer tudo isso com você...
- E você ainda estar com ele, desculpa, isso é um absurdo! - Heyoon finaliza o pensamento de Sina.
Volto a olhar para baixo e percebo meus olhos marejarem, logo as lágrimas rolaram por meu rosto, Sina e Heyoon preferiram o silêncio. Elas preferiram o som dos carros do que alguma fala e elas fizeram o que eu mais precisava, me abraçaram. Ficamos ali, quietinhas, sem verbalizar uma palavra.