Não, esta não é uma história de terror — pelo menos eu creio que não —, mas depende do seu nível de medo. Vai que o seu medo é de se apaixonar? Porque se for, essa história será melosamente assustadora.
Vou contar como foi que conheci um fantasma. Ao menos era o que eu achava que ela era, até ser tragado de maneira sobrenatural para algo que eu não acreditava.
Sim, estou velho para esse tipo de absurdo, mas, na época, eu não prestava muita atenção aos detalhes. Aliás, deixa eu me apresentar, sou Kayo Borges, 24 anos, estou no último ano do curso de Medicina e estou contando minha história para que você não caia no mesmo golpe que eu, ou que decida por mergulhar logo de ponta com direito a tocar no fundo do oceano.
Pode parecer loucura para um homem da ciência como eu, mas eu acabei escolhendo esse curso por causa dela. Nunca que, em sã consciência, eu pensaria em fazer Medicina. Eu queria fazer Direito e ser um bom advogado criminal como meu pai. Mas aquela fantasma me possuiu de tal maneira que me fez rever todo meu plano futuro de carreira.
Tudo começou ainda no Ensino Médio. Mesmo meu pai tendo dinheiro para me pagar uma boa escola, ele preferiu me preparar para a faculdade me fazendo entrar num instituto federal para eu ir me acostumando e, realmente, essa decisão mudou minha vida nove anos atrás.
Não sou do tipo galã, mas ser rico tem suas vantagens, como melhores condições de estudo e instrutores particulares, mas passei em segundo lugar no vestibular do instituto porque uma tal de Vanessa Aikyo Klein havia ficado em primeiro. Não que eu tenha ficado encabulado por ter ficado em segundo, apenas achei estranho um sobrenome japonês e alemão com um nome português e decidi pesquisar seu significado (sim, eu pesquisei a tradução do nome dela, eu acho que o nome influencia no caráter da pessoa. O meu por exemplo, significa “torre feliz”. Vai entender? Meus pais não ligavam, apenas acharam prático e bonito).
O nome dela traduzido seria “pequena borboleta de amor afetuoso”. Achei incrivelmente fofo e imaginei uma garota pequena, delicada e fofa — eu não sabia, mas deveria ter pesquisado o nome dela inteiro no Google. Se assim tivesse feito, não teria levado aquele choque de realidade.
Fiquei muito intrigado na época e doido para conhecê-la, mas acabei esquecendo disso. Afinal, ser o Kayo Borges, que chegou num Porsche com o famoso Dr. Borges em pessoa, chamou toda a atenção. Não vou mentir dizendo que eu não gostava de ter as atenções voltadas para mim. Eu amava naquela época, pois achava que quanto mais famoso, melhor era. Já havia até iniciado uma carreira de modelo graças aos contatos influentes do meu pai.
Enfim, no fim do primeiro dia de aula, fui com algumas garotas para o fundo da escola. Havia uma árvore grande atrás da quadra com uma sombra bem espaçada e flores alaranjadas dando destaque à folhagem verde contra o muro branco.
As meninas queriam fotos comigo, e tiramos várias. Ficariam ótimas, e a iluminação era perfeita. Estavam tão animadas que não reparamos que havia mais alguém ali. E, acredite se quiser, essa pessoa estava em cima da árvore e nos jogou água. Obviamente as meninas ficaram irritadas, xingaram e saíram às pressas. Eu não me importei com o problema, apesar de ter ficado surpreso, mas estava mais preocupado em escolher a melhor foto para postar, então fiquei lá escolhendo um efeito que destacasse mais minha pele. Quando resolvi sair, ao dar meia volta em direção ao prédio, esbarrei em alguma coisa e caí no chão. Além de molhado, agora ficaria com a bunda suja.
Ela não caiu, ficou como uma estátua me encarando. Se parecia com aquelas meninas de animes, usando saia de pregas compridas, meia preta na altura do joelho, camiseta de uniforme branca, franja e um grosso cabelo negro comprido e olhos puxados (mentiria se dissesse que já não tive uma quedinha por ela naquele momento, era um fetiche meu, estava praticamente rezando para ela ser extremamente fofa), mas já quebrando o protocolo da minha cabeça, seus olhos eram azuis e sua expressão, de puro desdém.
Olhos azuis como o céu de verão sem nuvens, brilhantes, calmos e profundos. Me senti como se estivesse mergulhando em um oceano enquanto voava pelo céu. Ela tinha um olhar sério e de deboche. Tudo o que disse foi:— Idiota!
E saiu como se nada tivesse acontecido.
Ah, não, eu não deixaria isso barato.— Ei, ninguém me trata assim! Aonde pensa que vai? Tem que pagar por isso, você sabe quem eu sou? — Questionei, puxando-a pelo braço.
Azar o meu, nem vi como fui parar no chão.
Merda, caí de novo e dessa vez doeu.— Ai!
Abri os olhos e vi seu rosto me olhando de cima com cara de nojo. Faltou só ter a tarja escurecida no olhar como nos animes. Como bom nerd que sou, cenas possíveis pipocaram em minha mente... se ela estivesse alguns centímetros mais perto, eu poderia ver a calcinha dela da posição em que eu estava. Fiquei vermelho ao pensar nisso e, como se adivinhasse meu pensamento, ela se afastou rapidamente, e novamente ouvi sua voz. Era suave e ríspida ao mesmo tempo:
— Idiota.
Foi a primeira vez que a vi.
Fiquei muito puto com a situação, mas, de algum jeito estranho, me senti feliz. Será que isso era porque eu, bem lá no fundinho do meu coração de otaku, gostaria que acontecesse aquelas cenas engraçadas de um shoujo comigo? Não, eu não seria idiota a esse extremo.Acabei sonhando com ela, provavelmente estava louco. Procurei por ela na escola a semana inteira, mas ninguém sabia de uma asiática com olhos que pareciam o mar.
De pop star, virei um maluco por causa dela. Os professores não quiseram me passar o nome dessa abençoada, então deixei de lado.
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O Idiota e a Fantasma - DEGUSTAÇÃO
Roman d'amourHistória concluída 🥰 Vocês acreditam em fantasmas? mas e num fantasma vivo? Não, não precisa me internar num hospital psiquiátrico, eu sei bem o que eu vi. Não é uma história de terror, é a minha história de romance, das confusões em que nos metem...