Capítulo 02 - 19. "O Peso de um Nome"

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Ainda estava de noite e um rapaz alto estava correndo numa rua não muito movimentada alí em Suwon. Ele carregava consigo uma bolsa preta cheia de salgadinhos e parecia estar cansado, muito cansado, tão cansado que sua respiração falhava e era como se alguém estivesse enforcando ele. Ele entrou num galpão vazio, caindo aos pedaços e correu até a escada de ferro enferrujada, não muito confiável. No topo da escada havia uma porta também de ferro, a qual ele abriu e se deitou em cima de um dos três colchões arrumados que tinham alí, jogando a bolsa em cima de uma mesa e apreciando a péssima vista que ele tinha dos vagões de trem.

– Estou cansado, e isso é tudo o que posso ver pra relaxar. — resmungou.

Ele pegou uma folha de jornal que estava alí em cima da cama e começou a ler a matéria que estampava a primeira página:

"Lee Junseo segue sem paradeiro. Seu filho mais velho, Lee Jangjun, procura novas formas de reerguer a marca LEE após o fiasco de vendas do novo LEE 30."

"Estou entrando em contato com vários acionistas para decidirmos o que fazer sobre o lançamento inegavelmente fracassado do novo dispositivo LEE 30. É esperado que meu irmão mais novo, Kevin Moon, se junte a equipe pra levantarmos nossa moral enquanto não localizamos o paradeiro de nosso pai."


Ele riu da matéria. Achava ridículo e sem nenhum fundamento que Lee Jangjun conseguisse reerguer a marca LEE sem os auxílios de seu pai. Sentia-se inquietamente cansado pra tudo, menos pra rir de todas as tentativas falhas daquelas pessoas de provarem que Lee Junseo estava morto. "Ah se eles soubessem..." Pensou ele, rindo profundamente e tão alto que ele ouviu o eco da sua voz se sobressair as paredes e fazer vez no balcão abandonando do lado de fora.

– Eu estou nos estágios finais pra concluir o plano Sr. Lee. — ele levantou e pegou de seu bolso um celular, cujo nele tinha uma foto a distância de Jacob, Kevin, Eric e Changmin, na cozinha de sua casa, jantando. – O senhor vai ter seu chip de volta.

Hyunjae abriu um sorriso cínico e com uma estranha e sufocante dor nos peitos, ele dormiu, esperando ansiosamente para que chegasse logo a meia-noite.




Kevin não esperava ver seu irmão, na verdade, ele não achou que um dia voltaria a estar no mesmo lugar que ele. Nunca foram tão próximos, o pai de ambos sempre separou muito os dois, dando-lhes tarefas opostas e isso abalou muito a convivência entre eles. Kevin achava estranho que ele estava alí, parado na frente dele, aparentemente nervoso com algo e por hora, esperava que fosse algo muito importante. Kevin fechou a porta atrás de si e virou para o irmão, não queria estender muito a conversa.

– Então... — começou Jangjun. – Feliz aniversário!
– Obrigado. — ele olhou desconfiado para o irmão. – Mas você não veio aqui só pra isso, não foi?
– Eu sei que a pessoa que você menos esperava ver hoje, sou eu, mas... Eu precisava vim aqui pra discutir uns assuntos com você.
– Então eu espero que seja uma discussão rápida, eu tô no meio de uma festa de aniversário, que no caso, é minha.
– Isso é mais importante que a sua festa. — disparou Jangjun. – Ah, desculpa.
– Não, não! Não precisa se desculpar. Você e o papai sempre foram assim. — um silêncio se espalhou pelo local.
– Não precisa ser desse jeito...
– Jangjun... Deixa de papo e seja breve, eu não quero enrolar muito por aqui.

Jangjun assentiu e retirou um envelope branco de dentro da sua bolsa, o mesmo parecia bem lacrado e muito importante, já que ele o entregou para Kevin com certa preocupação.

– O que é isso? — questionou.
– A Lee House tá indo em direção a decadência. De acordo com esse espelho de custos, a empresa gastou mais dinheiro com divulgação do que realmente lucrou com os produtos vendidos. Isso é muito grave pra gente, as pessoas não querem saber da Lee House sem o Lee Junseo. — disse Jangjun.
– Tá, mas... O que eu tenho a ver com isso? — questionou Kevin, olhando vagamente confuso para um Jangjun que parecia convicto de que o garoto iria entender.
– Você tem parte das ações da Lee House e ela é fundamental pra salvar a empresa nesse momento. Eu preciso de você nisso.
– Pode ficar, eu não ligo! Não tô afim de retornar naquele lugar. — Kevin entregou, agressivamente, o envelope de volta pra Jangjun.
– Não, Kevin, você não tá entendendo. Você, querendo ou não, é filho do Lee Junseo, você precisa tomar ação disso e me ajudar a reerguer a Lee House. — insistiu.
– Não, eu não quero! Jangjun, sinceramente, eu tô pouco me fodendo pra o que vai acontecer com àquela empresa. Eu quase morri lá e ainda querem que eu volte? Que finja estar feliz com tudo e todos lá dentro? E que nada aconteceu? Isso chega até ser hilário.
– Hyeongseo, isso pesa no seu nome! Está acima de qualquer motivo egoísta que você tenha.
– Você! Você tá sendo egoísta! Não eu! — ele se aproximou de Jangjun, com mais raiva do que queria sentir. – Eu finalmente tenho uma família que realmente gosta de mim, que me ama e que se preocupa comigo. Por favor, não tente destruir isso só por causa de uma empresa fajunta que só fez as pessoas sofrerem. Você quer que eu abra mão disso tudo?
– Kevin... — raivoso, Jangjun atirou o envelope no chão e depois encostou sua cabeça na parede da casa. Kevin levou um leve susto, mas logo entendeu a situação. – Desculpa por isso. De verdade! Desculpa arruinar seu aniversário assim, com essas picuinhas sobre empresa. Não quero que você abra mão de nada... Eu...
– Qual foi o real motivo que te fez vim aqui? — Kevin encostou na parede ao lado do irmão. Sabia que essas demonstrações repentinas de raiva significavam que seu irmão estava extremamente frustrado. – Essa história de que precisa de mim pra levantar a empresa... Nós dois sabemos que se eu te passasse todas as minhas ações, você não precisaria mais de mim.
– Realmente, foi uma desculpa muito esfarrapada. — ele sorriu e depois tirou outro envelope de dentro da bolsa, dessa vez ele era azul e estava mal lacrado. – Há nove meses, quando nosso pai desapareceu, dezenas de soldados também sumiram da Lee House instantes depois. Nenhum dos que sobraram sabem o que aconteceu ou pra onde eles foram, mas dentre eles estavam Juyeon, Younghoon e...
– Hyunjae! — exclamou Kevin, o envelope já aberto em suas mãos revelando fotos de um atordoado Hyunjae, andando pelas ruas da cidade. – De quando são essas fotos?
– Três dias atrás. Faz meses que eu mandei investigarem o paradeiro deles na esperança de encontrar alguma pista sobre o papai, mas obviamente eu não tive nenhum sucesso.
– Como encontraram ele?
– Isso também queríamos saber. Foi bem do nada. Como se ele tivesse saído da cidade e voltado na surdina e pelo visto ele sabia muito bem que alguém o seguia.

Kevin olhava atentamente para as fotos e logo ele percebeu que em todas, Hyunjae se encontrava em locais diferentes, entrando e saíndo como se estivesse — e realmente estava — sendo seguido.

– Ele entra e sai constantemente dos lugares, tem dias que ele parece parar em um lugar e só sai no dia seguinte e tem outros que ele entre e sai de vários lugares o dia todo. Ele é muito escorregadio, fica difícil saber aonde ele mora.
– E o que isso tem a ver comigo? — questionou.
– O detetive captou imagens suas correndo atrás dele hoje e por isso eu vim aqui. — Jangjun se aproximou de Kevin e olhou, atentamente para o irmão. – Temo que vocês todos que estão aqui estejam correndo perigo.
– O quê?
– Esse comportamento estranho, todos esses sumiços de soldados... Kevin isso não é um sinal bom.
– Você acha que isso tudo tem uma conexão?
– Quase que certeza que sim. — disse Jangjun, tocando agora em um ombro do irmão. – Nosso pai não morreu Kevin e eu tenho certeza que ele não desistiu de vim atrás desse chip. O fato de você ter encontrado Hyunjae por aí, não foi uma coincidência e não foi acaso. Escuta o que eu tô dizendo, fica atento nele e nos outros dois.
– Juyeon... Younghoon...?
– Sim. Não há nada sobre o paradeiro deles, mas sabemos que devem estar com o Hyunjae nessa. — ele se afastou e se aproximou do portão de saída. – No mais tardar, é só isso. Vejo você em breve.

E ele saiu.

Kevin ficou parado olhando o carro do irmão partir no horizonte. Estava completamente confuso.

Se aquilo fosse realmente verdade, Kevin sabia que seu encontro com o Hyunjae significava algo e que algo de ruim estava por vim. Se Hyunjae sabia todos os seus passos, quer dizer que o encontro dos dois foi planejado, mas provavelmente não do jeito que o mesmo queria.

Esses pensamentos martelavam a cabeça de Kevin enquanto toda a festa ainda rolava alí na sala da casa. Ele ficou tão atordoado, que nem reparou que só restavam ele, Jacob e Eric na sala ainda e que Jacob já estava desarmando todos os balões, fitas e enfeites.

– Tá tudo bem Kevin? Você tava bem distraído hoje. — disse Jacob enquanto lutava pra arrancar algumas fitas que estavam penduradas no alto da parede.
– Ah, eu... Eu estou bem. Provavelmente só estou cansado.
– Posso saber o que seu irmão queria? — questionou Jacob.
– Ah, o Jangjun? Não queria nada... Nada demais. — mentiu. – Nossa que cheiro forte é esse?
– É meu perfume, gostou? — sorriu Eric. Estava sentado no sofá, tirando fotos no celular. – Estou indo pra uma festa muito maneira agora.
– Nossa, numa segunda-feira? — Kevin sorriu.
– E tem dia pra diversão? — ele levantou do sofá, após ver o horário, e ajeitou sua roupa bem básica, pra não dizer o contrário. – Os meninos já vão passar aqui.
– Meninos? Que meninos? — perguntou Kevin.
– Sunwoo e Bomin. Vamos juntos na festa. — ele aproximou-se de Jacob e encostou bem de leve na sua costa. – Mano, eu prometo que volto vivo.
– É bom mesmo, porquê assim eu mesmo posso acabar com a sua vida se você voltar alcoolizado.
– Eu também te amo. — deu um abraço apertado no irmão e foi em direção a porta. – Já vou então. Divirtam-se vocês dois.
– Claro! — responderam Kevin e Jacob juntos.

Kevin olhou para a porta e viu Eric saindo devagar, como se o tempo na sua cabeça tivesse desacelerado. De repente ele viu um vulto embaçar sua visão e ele sentiu algo chutar seu estômago com muita força, tanta força, que o fez levantar do sofá, impulsivamente.

– ERIC! — ele gritou. Eric olhou pra trás, assustado com o grito.
– Que susto! O que houve? Quer me matar do coração? — perguntou.

Kevin olhou para os lados e percebeu que Jacob também o olhava confuso, assim como Changmin que acabara de chegar na sala.




















– Nada não só... Só toma cuidado!

THE KEEPER: ChaseOnde histórias criam vida. Descubra agora