Capítulo 23 - 39-2. "Reveal"

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Era um dia frio, na verdade, o primeiro dia frio da estação de outono. As folhas caíam devagar enquanto o céu ficava cinzento por conta de uma tempestade que estava por vim.
A jovem — que por sua vez anseiava ver o céu de outra perspectiva —, sonhava alto enquanto caminhava pelo jardim úmido. Ela usava um vestido azul perolado e seu cabelo estava solto, eram tão negros quanto seus olhos e tão macios quanto a palma da sua mão. Ela carregava consigo um livro, fino, de capa dura, dado a ela por uma mulher que ela admirava muito, e sonhava ser como ela.
De longe, ela era observada e admirada, por um rapaz alto, magricelo, que estava usando paletó e uma flor branca presa em seu peito. Ele usava óculos e agradecia aos céus por ter esse benefício de enxergar, mesmo que através de uma lente de vidro. Seria uma tristeza se ele não pudesse olhar a beleza daquela moça, que transformava aquela paisagem cinzenta no mais perfeito e alegre arco-íris.

– Você vai me observar até quando? — a jovem olhava sorrindo para o garoto, que estava meio atrapalhado alí atrás da árvore. – Pode se aproximar, eu não mordo.
– Eunhee... — ele sussurrou e ela sorriu.

Cheio de coragem, o garoto chamado Bae Dongsun foi até a moça e começou a dançar ao seu lado. Eles pareciam duas aves que estavam se preparando para voarem para um lugar onde o inverno frio não os alcançaria. Eles se encaixavam perfeitamente, era quase que perceptível a química que pairava no ar enquanto os dois dançavam.

– Finalmente, a gente conseguiu ficar um pouco a sós. — disse Dongsun, laçando seus braços ao redor dos ombros de Eunhee. – Você acha que vai ser assim? Quando nos casarmos?
– Eu queria... Mas é pouco provável, afinal, a gente precisa seguir os protocolos desse lugar abominável. — ela apontava para a grande fortaleza que os cercava.
– Pelo menos demos sorte de sermos nós dois. Eu não conseguiria me casar com outra, sabendo que amo você. — ele deu um beijo na testa da moça, que sorriu como uma boba. – Você é a mulher mais linda do mundo, Ji Eunhee.
– Você tá fazendo minhas orelhas esquentarem, seu bobo! Não nasci preparada pra tanta bajulação. — ela sorriu.
– Pois devia ter nascido. Enquanto estivermos vivos, eu irei bajular você até não querer mais. — ele investiu mais um beijo no rosto da moça, mas seu olhar estava fixado no livro que ela tinha em mãos. – O que estava fazendo?
– Eu tava vendo esse livro aqui, com nomes ocidentais e eu achei cada nome tão bonito. Foi a Sra. Yuri que me deu. — ela parecia animada.
– Uh, olha esse, "Eric"... Muito bonito. — ele apontava no livro. – Chelsea não é o nome de uma cidade?
– E eu que sei? — eles riram bem alto. – E o que você acha desse... Kevin?
– É muito bonito, é o nome do protagonista daquele filme lá, como é...
– Esqueceram de Mim? — ela lembrou animada.
– Sim! Eu amo esse filme, me divirto muito. Se um dia eu tiver um filho, eu quero que ele seja tão engenhoso quanto o Kevin do filme. — ele sorriu bobamente e ela também. – Olha, tem um nome marcado...
– Jacob? — ela lia curiosa. – "Aquele segura pelo calcanhar". Que exótico... Será que não foi a...
– Foi sim. — uma Moon Yuri, mais jovem, se aproximava dos dois que estavam sentados em um banco alí do jardim. – Eu que marquei esse nome.
– Por quê senhora? — questionou Eunhee.
– Era o nome do meu avô. — respondeu Yuri, enquanto olhava atentamente pro céu. – Na verdade, era Joonyoung, mas quando ele foi pro Canadá ele mudou para Jacob.
– Nossa, eu acho um nome lindo. — elogiou Dongsun.
– É mesmo... Se um dia eu tiver um filho, quero dar esse nome a ele. Ele tá marcado há anos. — ela sorriu para os dois, que retribuíram o sorriso como igual. – Jacob... Aquele que segura pelo calcanhar. Ele que vai ser livre pra lutar e lutar pra libertar os seus, que nem meu avô fez no passado.

Ela falava sussurrando, imaginando as milhões de possibilidades naquele nome simples e exótico.

– O que a senhora disse? — questionou Eunhee.
– Nada minha querida. Nada! — ela parecia sonhar.

... Nada! — e a voz foi ficando mais distante...

... Nada! — mais suave e ecoada...

... Nada! — vazia, sem qualquer significado...

Até que de repente ela abriu os olhou e se deparou com um lugar escuro e silêncioso, é claro, onde só se ouvia o barulho não tão irritante de hélices e motores em funcionamento.
Ela tinha acordado de um sonho, ou talvez, de uma lembrança. Estava tão imersa que podia jurar que era real o que estava acontecendo naquele momento. Podia jurar, que tinha voltado no tempo.
Mas não era real e ela nem sequer havia retrocedido sua vida. A sua realidade era bem diferente agora e aquele momento já tinha acontecido, bem antes de tudo desandar.

Ela levantou um pouco e caminhou até dois garotos que dormiam profundamente no chão da nave.

Ela tinha ternura no olhar, como se finalmente estivesse enxergando a luz que o cativeiro lhe roubou nesses vinte anos. E suas lágrimas não puderam ser contidas. Ela chorou alí mesmo. Seja de felicidade, ou de emoção, ou até mesmo de medo, mas chorou.

– Meu filho... — ela sussurrou pra si.







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