21. COELHO NA CARTOLA

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— Porque você é assim
Um coração pulsante de rocha

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21.

O pulso de Eliot Grant era uma mistura ascosa de uma ferida inchada, uma secreção amarelada e uma vermelhidão preocupante. O odor que acompanhava o ferimento também maximizava a sensação alheia de repulsa. O moreno tinha os olhos fundos e apoiava sua cabeça na mesa do refeitório enquanto suspirava, moribundo.

— Ele está ardendo em febre! — Audrey Lee adverte, com seu sotaque britânico, em uma voz extremamente aguda e infantil.

O metamorfo novamente suspira.

Posso sentir a sua aflição enquanto tento me concentrar em comer o meu café da manhã.

"Não vai conseguir cumprir os exercícios de hoje dessa forma!"  O pensamento de alguém, que tenho evitado durante semanas, invade a minha mente.

A silhueta magricela de Edward se materializa em nosso campo de visão, assim como os seus olhos azuis. O curandeiro se senta em nossa mesa, sem a companhia de Susie, já que esta ainda se encontrava na fila do café da manhã.
O garoto deposita sua bandeja ao lado da de Audrey e seu olhar encontra o meu, analisando-me secretamente.

Desvio os olhos quando percebo o cunho de seus pensamentos.

Audrey irá perguntar à Edward se ele poderá fazer algo por Eliot:

    — Edward, você não pode fazer nada? Sei lá, curar o pulso dele! — A preocupação é visível no semblante da garota.

Na verdade, era muito mais que um mero cuidado hospitaleiro. Audrey estava desenvolvendo um carinho "romântico" por Eliot e guardava isto a sete chaves.

Acho que eu devo ter as cópias delas. Penso e sorrio sozinha.

Mesmo estando há pouco tempo presa nessa base, consigo constatar que, você se atrair romanticamente por alguém, fazia parte do pacote de estar preso sob essa fortaleza subterrânea. Pelos pensamentos que escuto, este sentimento proporcionava uma sensação de vivacidade, cuja a vida continuava a passar mesmo que você não tivesse mais acesso ao mundo lá fora. Eu a definiria como uma miragem, uma vez que é apenas uma falsa sensação de que você ainda tem um ínfimo controle sobre o seu futuro.

— Não. O que está infeccionando a ferida é algo que está preso aí dentro, ou seja, seria preciso retirar o corpo estranho. — Edward responde, analisando o pulso de Eliot.

O moreno irá anunciar que é o rastreador, injetado em seu braço, que está causando aquela infecção.

— É o rastreador! O meu corpo o reconheceu negativamente desde o início. A ferida nunca fechou e só está piorando! — Ele levanta o seu rosto, lânguido.

A expressão de Audrey se transforma em uma careta enquanto os seus pensamentos expressam indignação.

— Eu sei que eles não se importam conosco, mas agir como se o pulso de Eliot não estivesse extremamente inflamado, é desumano demais! — A britânica vocifera. — Isso pode trazer sérias consequências!

O metamorfo sequer reage, apenas suspira enquanto luta para manter sua cabeça erguida.

Olho para o meu pulso subconscientemente e vejo a pequena incisão devidamente fechada.

— Por que não tentam falar com o Dr. Caleb Young? — Pela primeira vez, me manifesto.

O olhar dos três recaem sobre mim e seus pensamentos me julgam por conta de minha oração anterior.

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