– O que ceis duas tão cochichando? – Ele ergueu uma sobrancelha e sorriu, divertido. Era uma graça a mistura de jeito caipira de falar com o correto Doutor Veterinário.
– Eu acho que temos um problema de relacionamento entre nossos cavalos. – Eu ria abertamente e afagava minha menina.
– Só entre os cavalos, Dona Valentina? – Ele usou um tom irônico e deu um sorriso atrevido que me fez molhar a calcinha.
– Por enquanto sim, Dr. Marcos. Vamos lá!
Chamei a Leoa e fomos cavalgar. O lugar onde eu passei a morar é realmente lindo. Percorremos grandes distâncias, em meio a árvores. Eu nunca me senti mais livre. Perdi completamente a noção do tempo. Parei perto a um pequeno riacho para minha menina tomar água. Olhei para o lado e vi o peão chegando. Ele galopando é a imagem mais sexy que já vi na vida. Ele parou ao meu lado com Leão, que também foi refrescar-se. Ele veio até mim e me puxou pela mão.
– Venha, vamos pegar algo pra comer.
– Como assim? Onde a gente vai achar?
– Nossa, mas como você é urbaninha, menina! Nunca subiu numa árvore não?
– Não! E não vou subir agora... – Eu fechei o rosto e tentei tirar minha mão da dele.
– Calma, você vai sim e eu vou te ajudar. – Ele parou e olho diretamente para mim. – Confia em mim?
Eu senti todo meu corpo amolecer. Não precisei responder, ele sentia que eu faria qualquer coisa com ele. Fomo até uma mangueira enorme e imponente. Ele subiu primeiro e depois me puxou. Nossa, como ele é forte! Subimos mais um pouco, e sentamos em meio ao enorme tronco da árvore. O cheiro aqui é incrível. Estiquei-me até alcançar uma fruta. Comecei a comer e ouvi uma gargalhada rouca. Olhei para o peão e ele estava completamente divertido.
– O que foi? – Eu disse com a boca cheia.
– Cê tá toda lambuzada menina. Dá até gosto de ver!
Eu senti meu rosto queimar e tenho certeza que estou vermelho escarlate.
– Bom, vamos descer pra eu me limpar então! Seu inconveniente. – Tentei parecer brava, mas não pude deixar de achar tudo divertido. Sentia-me com 12 anos de idade. Estava quase no fim da minha fruta quando ouvi um galope aproximando.
– Eu não acredito! Eu sou o pai mais feliz do mundo com essa cena!! – Era meu pai com o Stone chegando até nós. O peão pulou com agilidade da árvore e foi até meu pai.
– Marcos, essa é uma imagem que nunca imaginei ver: minha filha linda, sentada em cima de uma árvore comendo manga!
– Hey, eu nunca achei que fosse tão legal, pai! Agora eu preciso descer daqui. – Comecei a descer sozinha, pois estou toda melecada, mas logo senti mãos fortes na minha cintura. O toque acendeu todo meu corpo e me senti corar.
Voltamos para os cavalos e aproveitei o riacho para me limpar. Ajoelhei na beirada e joguei água no rosto. Neste instante ouvi um grande e longo suspiro atrás de mim. Sabia que não era meu pai, pois ele havia voltado para a cocheira primeiro. Virei e vi por cima do ombro um peão com olhos penetrantes e semicerrados e boca semiaberta. Eu posso estar louca, mas aquilo parecia desejo. Subimos nos cavalos e voltamos em silêncio para as cocheiras.
– O que vocês estão fazendo? – Eu perguntei logo depois que desmontamos dos bichos.
– Estamos tirando os arreios, filha.
– Pai, me ensina? Eu quero saber tirar e colocar pra montar a Leoa quando eu quiser.
– Ei, garota, venha me ajudar com a Leoa então que eu lhe ensino. – Marcos gritou para mim quando ia para a Leoa. Fui junto e ele começou a explicar passo a passo. Depois de tirar tudo, começou a recolocar. Meu pai olhava com um grande sorriso, mas não parecia se tratar apenas do fato de eu estar em meio a bichos. Resolvi não analisar muito e continuei minha aula. Por várias vezes o peão segurava minha mão para que eu fizesse tudo certo e me senti esquentar em todas elas. Depois de tudo feito, abracei meu pai e fomos para casa.
– Filha, terá uma festa em uma fazenda aqui ao lado hoje a noite. O que acha de irmos?
– Hum, pai. Não é muito meu estilo essa coisa toda de bota, sertanejo, fogueira e etc.
– Apenas tente filha! Traga a Polly para dormir em casa e venha conhecer um pouco mais do meu mundo, e pelo que vi, você está gostando de algumas coisas dele.
– Tá bom pai.
Entramos em casa rindo e minha mãe estava no computador.
– Por que estão tão felizes?
– Porque vamos numa festa hoje amor! Os Oliveira estarão fazendo uma costela no chão com música boa e...
Minha mãe ficou vermelha de raiva e levantou de uma vez.
– Eu não vou a lugar algum! Você sabe como eu odeio tudo isso Rubens! Ainda mais por saber que os Ferreira estarão lá. – Ela saiu pisando duro para o quarto.
– O que foi isso pai?
– Ah, filha, é uma longa história.
– Eu tenho todo o tempo do mundo enquanto faço algo pra comermos.
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Debaixo do Pôr do Sol
RomanceEla é urbana, com alma de concreto. Ele é do campo, com alma de cowboy. Ela é arisca, inteligente e tenaz. Ele é bruto, rústico e sistemático. Mas o cupido resolveu pragar uma peça e juntar esses corações tão diferentes.