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Vou até pertinho dele e esfrego o nariz em seu peito. Inalo o cheiro de macho que exala de seus poros. Ele ainda está com os braços cruzados, mas beija meus cabelos. Eu estou com as mãos nas costas, dedos entrelaçados. Olho para cima e seus olhos cor de ônix derretem minhas entranhas. Ele dá alguns passos para trás, liberando minha entrada na casa. Vou até a sala e sento no tapete, recostada no sofá. Cruzo as pernas igual índio e encaro minhas mãos em meu colo. Meu estômago torce e meu coração se aperta. Uma sensação de que as coisas não terminarão muito boas. Ele fecha a porta e senta numa poltrona de frente para mim. As pernas esparramadas e cotovelos apoiados nos joelhos. Mãos unidas à frente. Ele está tenso.

– O que aconteceu ontem menina? – Seu tom de voz é calmo, mas não consigo olhar em seus olhos.

– Você agiu de uma forma que não gostei. – Depois de colocar as palavras para fora tive força para encará-lo. Toda minha indignação de ontem vem à tona.

– Como assim? - Ele diz, recostando na poltrona, meio indignado. – Você some, não dá sinal de vida e quando ligo você informa que vai dormir fora de casa. Isso está meio errado, não está?

– Não. Primeiro que nós nos esquecemos de trocar os números de celular no fim de semana. Segundo que eu trabalho e estudo, portanto passo o dia todo fora de casa e você sabia disso. Terceiro que eu não tenho que pedir pra fazer as coisas nem pra você e nem pra ninguém.

– Tá. – Ele está visivelmente irritado, mas mantém o tom calmo. – Vamos inverter os papéis. E se eu lhe informasse de última hora que vou ficar na casa de um amigo? Você iria gostar?

– Ué, eu não iria ligar. Olha Marcos, eu sou uma pessoa que baseia as relações em confiança. Se fosse o inverso eu não diria nada. Toda a minha confiança está depositada em você. Se você me der um único motivo sequer para quebrar isso, não terá mais volta. Portanto, eu não vou ficar te pedindo para sair, ver meus amigos, fazer minhas coisas. Posso avisá-lo por consideração quando for em um dia que nos atrapalhe de ficarmos juntos, mas fora isso, esquece.

Ele passou a mão pelo rosto. Ficou um tempo me olhando e eu também não desviei o olhar.

– Eu não sei se vou conseguir ficar assim Valentina. Eu gosto de você e me preocupo. Preciso saber seus passos para ficar calmo. E se acontece alguma coisa e nem sei onde está?

– Eu sou adulta e vacinada peão. Não sou responsabilidade sua. Lide com isso.

– Meu Deus, mulher. Você é frustrante e encantadora ao mesmo tempo. – Ele veio sentar em minha frente. – Eu nunca lidei com ninguém tão independente assim. Vou precisar me acostumar. Estou sempre cuidando das pessoas. – Ele apoiou as mãos nas minhas coxas.

– Eu quero que você cuide de mim peão. Você ganhou meu coração no dia em que me levou para o quarto e me colocou na cama. Você me fez sentir protegida. – Passei a mão pelo seu rosto. – O que quero que entenda é que quando confiamos no outro, as coisas acontecem naturalmente. Nós vamos estar sempre nos falando, e um saber da vida do outro será apenas uma consequência e não uma obrigação.

– Eu acho que realmente é assim. – Ele tirou o boné e coçou a cabeça. – Posso te fazer um pedido?

– Pode.

– Dorme comigo?

– Vamos com calma Marcos. Não quero ser desrespeitosa com meus pais. Hoje é segunda-feira.

– Você tem razão.

Ele me puxou para o seu colo e embalou-me por um tempo, enquanto eu fazia desenhos imaginários em seu braço. Depois deitamos no sofá e vimos tevê, namorando e rindo.

Debaixo do Pôr do SolOnde histórias criam vida. Descubra agora