Capítulo 01

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Sevilha 1893

2 ANOS ANTES


O dia ensolarado resplandecia sobre a ruidosa cidade. A agitação fazia das ruas, ambiente impossível para a mais simples das conversas. Cada carruagem levava cidadãos ansiosos e ocupados, vide a importância do dia. Os arredores da Praça de Toros "La Maestranza" ferviam de gente, sujeira e apostas.

Ali, com os corações quase saltando pela boca, três damas desacompanhadas, faziam uma incursão conscientemente proibida. De braços dados, elas caminhavam entre as pessoas, que se espreitavam para entrar na praça, sabendo que não deviam estar ali. Mas a insistência e a teimosia foram protagonistas na grande mansão dos Fuentes essa manhã, e assim Isabel se viu arrastada junto a prima Letizia e sua dama de companhia Juana.

— Ainda não posso crer que concordei com essa loucura. — Isabel diz puxando a barra de seu vestido azul enquanto se apressa ao caminhar.

— Um pouco de loucura fará bem a sua saúde prima, desde que chegou de Madrid têm estado presa em casa, não foi a nenhum dos eventos sociais conosco... Estou feliz que tenha decidido finalmente sair do luto e mudar suas cores. — a jovem diz, enquanto ajeita o lenço em sua cabeça que esconde os fios acobreados firmemente.

— Ainda não sei se sair do luto foi uma boa decisão, afinal passaram-se apenas três meses que papá se foi... — Isabel volta a cochichar mas é interrompida por um empurrão de um homem. — Isso está cheio demais, Juana você parece-me mais sensata que minha prima como concordou com esse despropósito? — Viu-se obrigada a terminar sua frase aos berros por estarem rodeadas de pessoas que não paravam de empurrá-las de um lado para o outro.

— Não vai encontrar sensatez em Juana quando se trata de touradas, é fascinada por elas. — gritou Letizia.

A jovem de pele escura sorri com timidez.

— Aqui é onde eu fico. — disse com o rosto próximo ao de Letizia.

— Tudo bem.

— Lembre-se, mantenha a mantilha sobre a cabeça, ninguém...

—Sí... si... eu sei, não devo ser reconhecida.

— Aonde ela foi? — questiona Isabel ao ver Juana correr entre a multidão após despedir-se brevemente.

— Foi ver um amigo. Precisamos entrar e achar um bom lugar para sentar.

La Real Maestranza de Sevilha estava coberta de pessoas, que apontavam aos berros para um espaço circular coberto de areia. O vento soprava poeira para o lado mais alto da praça, o terraço, o local onde Letizia havia guiado Isabel. De mãos e braços dados as duas espreitavam o espetáculo a céu aberto anônimas entre uma larga pilastra.

— Como faremos para encontrar Juana antes de voltarmos?

— Não se preocupe, ela irá nos achar. Ao menos, ela sempre me acha. — murmura Letizia com um sorriso.

— Espere, já fizeram isso outras vezes?

— Shiii — ela põe um dedo sobre os lábios.

Isabel não gosta da ideia da prima andando sozinha entre uma multidão nas corridas de touros. Juana e Letizia tinham quase a mesma idade, mas afinal o que ela sabia da silenciosa dama de companhia desde que havia chegado na casa do tio, três meses antes?

Viera de Madrid e conhecera Juana, a quem antes só ouvira falar pela prima que dizia ser alguém que vivia na fazenda da família. Mas Juana deixava Letizia andar sozinha em plena corrida de touros. Para ver um amigo? Bom, talvez houvesse outra explicação...

A Promessa de Uma Dama (Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora