Capitulo 02

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— Que demônios acontece aqui? — uma voz grave ergue-se na viela.

Com os olhos fixos no chão de pedras, Isabel ouve passos aproximarem-se pesados e ruidosos, seguidos de mais pés com botas barulhentas.

Um homem alto e forte, ela poderia jurar que assim ele era, se detém frente a seu algoz. Com os olhos fixos no chão, Isabel apenas continua sua rápida prece mentalmente, enquanto escuta os soluços baixos de Letizia ao seu lado.

O silêncio dos homens parece ainda mais assustador, do que qualquer ameaça já dita. O aumento da tensão no ar é palpável, e Isabel sabe que quem quer que seja o homem que acaba de chegar, ele tem poder suficiente para enfrentar o estranho que as persegue. Só lhe resta saber, qual dos dois podem representar um risco menor para ela e suas companheiras.

— Dramático, como sempre. — O oficial diz, no seu tom há escárnio. — Não há nada demais acontecendo aqui.

— Nada? Então porque as damas estão no chão assustadas? — a voz do recém chegado se faz ainda mais inquiridora. Em tempo, todo o ambiente parece tornar-se menor com seus passos. Firmes e expansivos. Ele andava entre todos, como se tudo que tocasse o chão pertencesse a ele.

Suas botas eram bem lustradas, caras. Com coragem, Isabel se permitiu levantar os olhos para observar o estranho. Seus trajes eram alinhados como um de cavalheiro, mas as cores delatavam a indisciplina de um aventureiro. Um casaco azul sobre a calça bege, que evidenciava pernas longas e coxas poderosas. Respirando fundo, Isabel continuou um rápido reconhecimento no desconhecido. Sua aparência denotava uma bruta sofisticação, seus cabelos eram negros tal qual a parte mais escura da noite e longos, até o ombro para seu espanto. Não usava cartola, mas prendia os fios junto a nuca. Seu rosto tinha traços duros e olhos profundos, enquanto aparentava uma carranca. Parado a poucos metros dela, o homem irradiava uma presença avassaladora em uma áurea cheia de masculinidade. Era como se o perigo estivesse materializado, a um toque de suas mãos.

— Damas? Por favor, não passam de prostitutas. Não vê a negra?

O tom de mofa no homem a sua frente, fez a cena de instantes atrás voltar a mente de Isabel. A chegada do novo indivíduo, indicava ainda mais perigo a incursão das jovens. Ao seu lado, Letizia continuava a rezar, com seus grandes olhos claros semi-cerrados, e Juana tinha sua cabeça voltada para as pedras no chão. Seus olhos não piscavam, seu peito nem ao menos movia-se com a respiração mas Isabel podia jurar que ela estava conscientemente alerta, embargada em busca de uma pequena chance para escapar.

Foi quando ela soube que as chances estavam desfavoráveis para as três. O destino de todas elas dependia da resolução entre os dois sujeitos. Eram como cabeças a prêmio, não importava que fossem de carne e osso, o que acontecesse a seguir, independia de suas vontades.

Era como quando seu pai lhe ensinava a fazer curativos nos doentes que o ajudava a atender. "Apresente ao enfermo o toque para a cura e deixe que a enfermidade descubra o caminho para passar."

Isabel sabia que ali, teria apenas uma chance. Por isso quando o estranho corpulento aproximou-se ainda mais, seu rosto manteve-se altivo. Seu olhar ganhou um ar de curiosidade sobre ela, e Isabel soube que era a hora. Lentamente pôs-se de pé.

— Afinal, o que quer? Desde quando se preocupa tanto com prostitutas? — disse o oficial ao lado, ainda em tom jocoso.

Olhando atentamente para Isabel, o desconhecido manteve seu maxilar tensionado, ele parecia altamente desgostoso. Sua vista pousa brevemente sob Letizia e Juana que ainda jaziam sobre o chão, para em seguida encontrarem seus olhos outra vez.

A Promessa de Uma Dama (Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora