1 • Eles

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•Hana

Hoje é meu primeiro dia, não sei como agir, não sei o que falar, não conheço ninguém, então posso dizer que minha ansiedade está me afetando bastante. Minha mãe falou que tudo daria certo, não sei se devia acreditar nela, nunca passei por isso, e estou tentando não criar expectativas com essas pessoas, Seattle pode ser totalmente diferente de São Francisco, e isso está acabando comigo.
Antes de sair do carro eu repito para mim mesma, "Respire, erga a cabeça, olhe ao seu redor"
Agora não tem mais volta, nunca teve...
"Tchau mãe, bom trabalho"
"Fica tranquila filha, vai dar tudo certo, confia em mim! Qualquer coisa me liga! Anda logo que você vai chegar atrasada!"
Ela literalmente me empurra para fora do carro e só me resta andar em direção a aquele prédio estranho e cinza.
Entrando, eu percebo o quão perdida eu estou, começo a olhar ao meu redor e tento achar a sala do 1º ano, só que pelo visto não será tão fácil... distraída, só sinto algo me empurrando em direção ao chão, e quando olho para cima, tenho certeza de que nunca vi ninguém tão lindo, com uma feição preocupada, suas mãos me erguem do chão.
"Hey, sinto muito mesmo, eu não tinha te visto... calma, eu acho que não te conheço! Sou o Noah! E você...?"
Com as pernas bambas, tento responder com meus tom de voz mais normal, embora eu estivesse bem chocada. Ao mesmo tempo, olho ao redor, para ver se alguém me viu cair de bunda no chão.
"Oi, eu sou... a Hana! Sou nova na escola, por isso você não me conhece, obviamente..."
Aí que terrível, eu só conseguia olhar para aqueles olhos azuis e pensar na vergonha que eu estava passando, e também em como eu iria chegar atrasada na aula.
"Bom te conhecer! Você parece bem perdida, quer ajuda para achar sua sala? Acho que o 2º ano é no mesmo corredor que a minha classe"
"Não, na verdade, sim, eu estou perdida, só que eu estou no 1º ano." Ele só assentiu e saiu puxando minha mão, até que chegamos em um corredor com uma única porta, com várias meninas amontoadas conversando.
"Aqui estamos, desculpa por ter te derrubado... a gente se vê." Ele só saiu andando, e me deixou ali, pensando em como eu nem consegui falar obrigada.
Tomei coragem e andei até a porta e me deparei com uma grande sala cinza, carteiras duplas, e muita gritaria. Entrei e me deparei com um único lugar vago, ao lago de um garoto extremamente bonito e sereno, e naquele momento eu cheguei na conclusão de que a água de Seattle devia ser mágica ou algo do tipo, porque de onde surgiam esses meninos?
Eu fui até lá, parei na frente dele, e perguntei se o lugar estava ocupado, ele encarou meu rosto e só fez que não com a cabeça.
Me sentei, e passei a observar as pessoas ao meu redor, muita meninas com roupas apertadas de academia e meninos com camisas de times, até que uma mulher com cara fechada parou na porta, e esperou as pessoas perceberem sua presença.
Ela mal entrou na sala e já começou a passar a matéria, eu peguei meus livros e não pude evitar sentir um perfume incrível vindo daquele menino ao meu lado... eu passei a observá-lo pelo canto dos olhos, ele mexe nos cabelos de tempos em tempo, usa um moletom preto bem largo e seus olhos cor de mel me deixam um pouco desnorteada.
O tempo passa e a hora do recesso chega, algumas pessoas se levantam, outras só se viram para os lados e conversam. Sem saber o que fazer, percebo que ele ainda esta do meu lado. Ele se vira e me encara novamente. Dessa vez, eu olho para ele e encaro também. Estamos a uns 30 cm um do outro, eu começo a ficar vermelha.
"Você é nova" Sem saber se isso é uma afirmação ou uma pergunta, eu só concordo com a cabeça.
"Hum, e você também não fala muito. Sou o Nicolas, você é?" Ele chega a ser grosseiro, mas não de um jeito ruim...
"Hana" respondo de uma forma bem vaga, até mais do que eu gostaria.
"Ok" ele vira para frente, pega seu celular e começa a navegar nas páginas do Instagram. Ok??? Quem responde com um ok? Na hora, não deixo de olhar para seu celular, e vejo o nome de seu perfil, Nicolas_Baker, pego meu celular, e peço para segui-lo. Observo seu celular novamente, e só vejo a notificação surgir, ele para por um estante, olha para mim e solta um leve riso, quase como um suspiro.
Ele me segue de volta e eu, como se não bastasse, ainda curto a única foto de seu perfil, ele vê a notificação, e dessa vez ele ri de verdade.
"Você é bem divertida sabia? Eu digo, de um jeito bom!"
Bem nessa hora minha mãe me liga, mãe coruja é um problema as vezes... eu levanto e começo a andar em círculos no pequeno corredor entre as carteiras.
"Alô? Alô? Hana, você tá no intervalo?"
"Oi Mãe, estou, o que você precisa?"
"Querida, como está sua aula? Deixa eu te falar, tenho uma reunião agora que vai demorar bastante, você acha que consegue ir sozinha para casa?"
"Mãe, como assim? Eu nem conheço a cidade!!"
"Não tem como Hana, tenta usar o GPS querida, tenho que ir, beijooo"
"Mãe, Mãe..." ela desligou na minha cara, eu olho com raiva para o celular e reparo no Nicolas me encarando.
"Hum, então a novata vai andar pela cidade hoje?"
"Pelo visto sim, só espero não me perder."
"Eu vou a pé também, posso ir com você." Ele é gentil e fofo, quem diria!
"Mas você nem sabe onde eu moro!"
"Onde você mora?" 
"Moro no prédio Downtown"
"Caramba novata, que coincidência, eu moro na casa da esquina, na mesma rua, então acho que você vai ter que me aturar mais um pouco hoje!"
Pelo visto ele gosta de encarar as pessoas, e quando ele me chamou de novata, eu até me arrepiei.
Acho que ele será um bom amigo afinal...

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