PARK JIMIN
Quando o sono escapou eu me sentei na cama. A vista paradisíaca que aquele quarto me proporcionava fez um sorriso genuíno nascer em meu rosto. O sol estava em seu ápice e eu me arrependi de ter passado o dia inteiro dormindo. Jungkook estava ao meu lado, dormindo feito um anjo. As mãos estavam embaixo do rosto e o corpo espichado. Por incrível que pareça, ele me trazia segurança.
Quando me levantei precisei me esforçar para não rir quando encontrei a maleta branca de primeiros-socorros estirada no chão. Aquela casa estava cheia de pequenas coisas memoráveis. Escovei meus dentes com uma escova de procedência duvidosa e, depois disso, analisei com cautela o ferimento de meu braço coberto pelo curativo. Sem complicações.
Rumei até a praia e durante o caminho reparei que muita coisa já estava arrumada. Os móveis estavam nos lugares certos, o chão já não carregava manchas de sangue e os cacos de vidro desapareceram. Hoseok teria feito um ótimo trabalho. Me sentei na faixa de areia, sentindo os raios ㅡ quentes ㅡ do sol baterem contra minha pele e, pela posição do astro, julgava ser próximo às três da tarde. A brisa do mar jogou meus cabelos pra trás e aquilo soou como um sopro da vida, foi a primeira vez em algum tempo que eu senti o ar entrando em meus pulmões para me avisar que eu estava vivo. Sem medos, apenas a vida.
A praia não me trazia recordações tão boas até então, mas depois de ontem era impossível continuar com tudo aquilo sem fazer o que Deus teria me sugerido; tirar um tempo para pensar e tomar uma decisão. Minha mente estava cheia de pensamentos e dúvidas diferentes, todas envolvendo a mesma pessoa. Jungkook.
A minha quase morte me fez refletir muito. O que seria de minha vida se eu tivesse morrido ontem? Eu não teria nada pra contar, seria apenas um garoto de idade mediana que viveu a vida inteira estudando e tomando decisões pelos outros. Minha vida se resumiu a isso, em nada. E pensar nisso me fez perceber o quão insatisfeito. Eu queria viver, ser lembrado mesmo depois de minha morte, deixar memórias boas.
A verdade era que Jungkook estava acabando com a minha sanidade. Eu sinto algo por ele, porra, é claro que eu sinto! Mas eu tenho medo, muito medo do que poderia acontecer depois disso. Eu não posso me tornar dependente do Diabo, não posso ficar com alguém que, hora ou outra irá embora. Eu vou me tornar um louco, contando a todos que um dia conheci o Diabo e que ele quebrou o meu coração da forma mais poética possível. Contarei apenas essa história porque ela terá sido a única coisa interessante que terá acontecido na minha vida medíocre.
Ele foi a coisa mais interessante que aconteceu. Mas eu não podia continuar com isso.
Não sou inocente ao ponto de não saber no que me meti, demônios e o inferno não são coisas boas, isso é óbvio. Fomos ensinados a vida inteira a temê-los, desde pequenos sabemos a diferença entre o bem e o mal, e fomos instruídos desde sempre a se afastar do mal. Mas ninguém me ensinou que, as vezes, o mal me ensinaria a nadar, me salvaria da morte e vestiria um macacão de unicórnio. Coisas que pessoas do "bem" jamais ousaram fazer.
Não sei no que devo acreditar. Todos o descrevem como impiedoso, persuasivo e sádico. O deus da tortura, rei do inferno e pai da mentira. Ele é reduzido a isso. Mas eu não o conheci assim, ele não era nada disso. Pelo menos não em minha frente, e essa era a questão. Se ele for mesmo o pai da mentira, tudo isso não passa de uma grande farsa e, quando eu ceder ele irá rir de mim e ir embora. Eu ficaria sem ele, sem o céu e aos pedaços. Eu teria sido apenas mais um.
Por um lado, eu sei tudo sobre sua vida. Sei como caiu no inferno, os acontecimentos mais importantes e até mesmo quando ele irá morrer, mas ao mesmo tempo eu não sei absolutamente nada, não sei como ele é quando não está na Terra, o que ele come, faz nas horas vagas, o que pensa quando vai dormir; não sei como age nas mínimas situações. Nada.
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NOITCELFER | PJM • JJK [CONCLUÍDA]
Fanfiction[CONTÉM TRAILLER] A história começa quando um anjo engana o diabo, e ele acredita. • Park Jimin, um humano comum, jamais poderia imaginar que naquela madrugada iria esbarrar com o Diabo em uma rua apagada de Las Ve...