.
Medo de não ter medo
Cobertor sobre a cabeça
Segurança
Seguro é não viver?
Ou viver é mais seguro?
.
As cinco da manhã Germano caminhava pelos corredores do hospital, era dia de plantão, mal tinha começado e sua cabeça doía de tanto pensar em Lili, e assim foi durante todo dia.
- Hora de ir doutor, que tal a gente comer alguma coisa hoje a noite?
Aline era enfermeira a quase dois anos no hospital em que Germano trabalhava, era encantada pelo homem, não perdia oportunidade de tentar algo, não era nada fácil, mas em sua cabeça ele era o homem da sua vida, não importava que as colegas se divertissem com as tentativas falhas da enfermeira em fisgar o doutor.
- No mesmo lugar? - Sorriu a ela, atencioso como sempre.
Germano tinha carinho pela companheira de trabalho, já tinha percebido que a enfermeira o via com outros olhos, mas concordou em serem somente amigos, e assim ele mantinha uma convivência boa. Estava cansado, mas não queria deixá-la triste.
- Sim, venho te buscar depois que eu me trocar.
.
Lili acordou com a filha chamando, estava atrasada, as dores que a semanas vinha sentido voltaram, não deu muita importância, deveria ser pela pequena cama em que tinha dormido. Se arrumou e foi ao trabalho. O dia foi corrido, teve tempo apenas de almoçar com a filha.
Ao final do dia, olhou para o celular buscando alguma mensagem de Germano, tinha apenas mensagens de Ana querendo explicar e ainda contar o que estava acontecendo em sua vida. Lili sabia que aquilo tudo com o médico era confuso, ela tinha pedido mais de uma vez para que ele a deixasse em paz, que não sentia nada por ele, mas não podia esconder a frustração por não ter ganhando nenhum "bom dia" do doutor, volta e meia em seus pensamentos lembravam que também existia a tal loira envolvida na história, queria confiar, acreditar, mas era muito cedo para ela voltar a acreditar em alguém novamente. Pegou suas coisas cansada de pensar tanto e nada decidir, como boa Ariana que era foi atrás de sua resposta, talvez se arrependesse, mas isso seria coisa para Lili do futuro resolver.
.
- Vamos Germano? - Germano esperava Aline encostado em sua mesa.
- Vamos pra onde? - Lili entrou ao ver a porta do consultório entreaberta.
- Lili?
- Quem é a senhora?
- Senhora não, Liliane -Estendeu a mão para Aline em cumprimento. - Liliane Bocaiuva.
- Pode me dar um minuto Aline? - Germano sorriu para a loira, Lili revirou os olhos.
- Tudo bem, até depois senh... Liliane. -
- Muito simpática sua amiga, vocês vão sair? Não se incomode por mim.- Germano riu.- Ta rindo porque? - Falou brava. - Eu devo ser muito engraçada mesmo, causando risos agora.
- Os seus ciúmes não tem fundamento.- Germano se encostou na mesa olhando Lili.
- Quando foi que você ficou convencido assim? Porque abusado sempre foi, agora convencido? Ciúmes de você doutor? é claro. - Debochou.
- Então?
- Então o que?
- O que veio fazer aqui? Aline está me esperando para jantarmos. - Ele sabia muito bem como ativar o "modo bomba" de Lili.
- Nada. - Falou ao respirar fundo e se conter.- Não tenho motivos e nem deveria estar aqui, então, nada!- Foi em direção a porta com a intenção de sair.
- Não sabia que você conseguia ficar ainda mais linda. - Lili voltou o olhar para ele. - Mas você com ciúmes é a coisa mais linda que eu já vi.
- Eu não sou obrigada. - Antes que ela saísse ele puxou a loira com certa brutalidade, enlaçando sua cintura sem tirar os olhos dela. - Você não está atrasado? - Jogou o cabelo para trás.
- Não esperava que você viesse aqui, você atrás de mim é novidade.
- Não estou atrás de você, nem toda mulher se atrai por um jaleco doutor. - Ele se divertia com aquela Lili que ele ainda não tinha conhecido.
- Me diz porque veio até aqui Lili . - Ainda com ela em seus braços, buscando contato com seus olhos.
- Se tivesse me mandado UMA mensagem, saberia.
- Você queria que eu mandasse alguma mensagem ou que eu fosse atrás de você? - Colocou uma das mechas do cabelo dela para trás.
- Eu não sei o que eu queria, eu só... não sei, queria conversar, mas agora nem sei mais se quero, eu não sei Germano. - Olhou para Germano pela primeira vez. - Você não me ligou e nem ia me ligar porque você está a ponto de sair com sua amiga. Eu sei muito bem o que é uma mulher apaixonada é essa garot...
Antes que ela terminasse o longo diálogo Germano a beijou. Ao sentir os lábios dele contra os seus, o corpo todo de Lili amoleceu, as línguas passeavam sentindo o sabor uma da outra.
Lili não sabia o que sentia por Germano, mais como beijava bem aquele velho, pensou, estar com ele era como um sopro de alívio, um momento de paz, tudo com ele era leve, lutava dentro de si contra o que a sua mente sofrida e negativa dizia sobre Germano, o medo era seu principal rival, tinha tanto a perder se arriscando naquele beijo, naquela atitude, conhecia tão pouco aquele médico que entrou em sua vida do dia para noite, sem pedir permissão e que batia insistentemente para entrar em seu coração.
- Você não precisa ter certeza, não agora, eu sei que você tem medo, depois de tudo que você passou, quem não teria, mas eu te garanto, eu vou fazer de tudo para sanar todas essas dúvidas, eu só quero cuidar de você, amar você do jeito que você merece, porque você merece tanto ser amada, só me deixa tentar - Acariciava o rosto dela. - Se você descobrir que não sou eu quem você quer, tudo bem, mas eu estou disposto a me arriscar por nós dois.
- Então quer dizer que você não vai mais sair pra jantar com a loira? - Germano sorriu de Lili.
- Eu prometi que ia Lili, ela é só uma amiga, e eu estou com muita fome, um plantão de 12 horas, cuidando de criancinhas...
- Que velho safado... apelando pras criancinhas.
- Vem com a gente, por favor. -Deu selinhos em Lili. - Hm? Depois eu deixo você em casa. - Parou de agarra-lá.
- Tudo bem, sua amiga vai adorar. - Sorriu sarcástica.- Espantar essa loirinha de uma vez. - cochichou.
- O que ?
- Nada, vamos!
Aline esperava do lado de fora, nunca tinha visto Lili, mas sabia que existia algo entre ela e Germano, bufou de raiva ao imaginar que o médico poderia estar namorando alguém.
- Vamos Aline. - Germano falou sorridente ao sair do consultório. - Lili também vai com a gente, tudo bem?
- Claro, estamos entre amigos, sempre cabe mais um.
- Não sou uma amiga. - Lili entrelaçou suas mãos as mãos de Germano que ficou surpreso.
- Não sabia que o doutor estava com alguém.
- Nem eu - Germano sussurrou sem que nenhuma das duas ouvisse. - Enfim, vamos.
- Eu acho que tá meio tarde, eu tenho que passar em um lugar ainda Germano, não vou atrapalhar vocês.
- Que pena, marcamos uma outra vez então.
- Sim, até mais senhora.- Aline saiu.
- Piranha, fugiu.
- O que disse?
- Que estou com frio, porque os hospitais são tão frios?
- Andamos assim agora? - Germano olhou para as mãos deles, entrelaçadas.
- Não se ache muito. - Lili tentou tirar a sua mão da dele, mas ele não deixou.- Abusado, vamos antes que eu me arrependa.
O jantar foi divertido, Germano conseguia arrancar risos fáceis da loira, que pensava se aquele homem era de verdade, a desconfiança só crescia dentro dela, como um homem assim estaria solteiro e interessado por ela, tinha algo de errado, ele tinha que ter algo de errado, não passava nem um minuto por sua cabeça que ela merecia ser amada por mil Germanos. Queria se livrar de todas as inseguranças, mas era muito difícil para ela, Rafael ainda estava em seus pensamentos, e mesmo não permitindo, Germano também estava. Não sabia o que sentia por aquele homem, nunca se imaginou ficando com um homem mais velho, seu primeiro marido era cinco anos mais novo que ela, seus namorados de escola também sempre foram mais novos, nunca tinha se interessado por alguém reservado e meio que "conservador" como Germano, talvez estivesse ali por pura carência ou solidão? não queria enganar ninguém, também não queria ele longe.
- Então, você nunca se interessou mesmo por ninguém depois que sua mulher...
- Me deixou? - Lili ficou desconfortável.- Tudo bem, isso não me dói mais.
- Quero um dia poder dizer isso também.
- E vai. - Germano pegou na mão dela, os dois já tinham terminado de comer e tomavam um leve vinho branco. - Respondendo a sua pergunta, sim, já tive algumas mulheres, mas nenhuma que valesse o risco.
- Faz quanto tempo?
- Vai fazer 25 anos. - Lili olhou assustada e tomou mais um gole do vinho.
- Uma vida toda e você ainda fala dela com amor.
- Quando a gente ama de verdade, é pra vida toda.
- Você é muito maximalista doutor Germano.
- Já amou alguém de verdade Lili? Amar ao ponto de ser feliz apenas com lembranças boas?
- É assim que você vive esse tempo todo? Apenas de lembranças? Esperando o dia que ela volte?
- As minhas lembranças fazem parte da minha história, não me interprete mal. Sim, nos primeiros anos esperava que ela batesse em minha porta com uma bela desculpa, uma que fizesse sentido a tudo, porém, por mais que não pareça, eu a superei. Isso não quer dizer que eu apaguei tudo que vivemos, nem quero, foi tudo muito bom.
- Você existe? - Germano sorriu e se aproximou dela deixando a taça de lado.
- Quer comprovar - Lili riu beijando aquele homem encantador.- Seus beijos são uma boa lembrança.- Lili acariciou o rosto dele.
- Não quero magoar você Germano. - Suspirou.
- Você pretende?
- Depois de tanto tempo, sem ter ninguém, porque eu?
- Porque era você quem eu estava esperando. - Lili se afastou rindo, colocando mais vinho na taça.
- Aí meu Deus, no que estou me metendo.
.
Germano levou Lili até em casa, os dois se despediram com um beijo, Germano estava exausto, tinha que trabalhar novamente ao amanhecer. Lili subiu, colocou a filha pra dormir e foi dormir também. A noite tinha sido muito leve, pegou no sono mais rápido do que esperava, se sentia mais cansada que o normal aqueles meses.
.
- Como você é burro Rafael, porque você fez isso? E agora o que vamos fazer.
- Eu pensei que já tinha me livrados deles, sai da minha cidade porque devia demais aqueles desgraçados, nunca imaginei que eles me achariam aqui.
- Você deu todo o nosso dinheiro mesmo?
- Se eu não tivesse dado eles iriam me matar Sophia! Pelo menos ainda temos o apartamento.
- Como assim? E o carro?
- Eles destruíram o carro, não serve nem como sucata.- Sophia sentou na cama com as mãos no rosto.
- Você é um imbecil, os anos que passamos enganando aquela corna não serviu de nada, e agora?
- Eu vou dar um jeito meu amor, a Lili ainda é louca por mim, pode confiar, e além do mais eu ainda sou o pai da filha dela, calma, tudo vai se resolver.
.
Lili e Germano não se viam a dois dias, apesar de concordar em ir devagar, Germano sentia vontade de vê-la todos os dias, a saudade estava quase matando o doutor. Lili andava ocupada e entendia que ele também, a loira tinha uma coleção para lançar em breve e sua cabeça estava a mil, cada dia se sentia mais próxima da filha.
.
- Eu queria contar a muito tempo, mas você andava tão ocupada amiga. -
- Eu fico realmente feliz por você e por Luiza, um filho foi o que vocês sempre desejaram.
- Será que ele vai gostar de mim tia Ana? - Eliza que estava no colo da mãe, perguntou ansiosa.
- Claro meu amor, vocês vão ser primos.
- Agora eu já tenho alguém pra entrar com as alianças no casamento da minha mãe.
- Casamento? - Lili olhou para a pequena ruiva que levantou do colo dela, se sentando no sofá.
- Sim mamãe, seu casamento com o tio Germano.
- Já estamos assim? - Ana riu da cara que Lili fazia.
- Quem falou em casamento sua pestinha, eu e o Germano somos só amigos.
- Ele disse que um dia vai casar com a senhora, e eu acredito em tudo que ele diz - Ana riu.
- Vai, anda, vai tomar seu banho que depois eu vou colocar você na cama.
- São dois contra um Lili, não tem jeito.
- O pior é que ela acredita nisso.
- E você não?
- Você me conhece Ana, e sabe o que eu penso sobre.
- É por te conhecer que eu sei, você não é totalmente indiferente a ele, não mesmo.
- Isso não quer dizer que eu vá me casar com ele.
- E quer dizer o que? - Lili ficou calada.- Só não espera muito amiga, você é uma mulher maravilhosa e merece demais ser amada, mas ele não vai te esperar pra sempre, a concorrência tá aí, tem pouquíssimos héteros no mercado. - Alfinetou Lili.
- Não pedi pra ele me esperar, ele pode sair com quem quiser.
- Pode mesmo? Você tá a dias sem ver ele, com quem você acha que ele almoçou? - Ana sabia como atacar a amiga.
- Não sei e nem quero saber. - Lili tinha o tom de voz completamente diferente.
- Só digo pra você não esperar demais porque outro desse aí vai ser difícil de encontrar, quando você decidir pode ser tarde demais.
.
- Você tá insuportável Germano, nunca te vi falar assim de uma mulher, uma mulher que não te quer.
- O fato dela não me querer não muda que eu quero ela.
- Tanta mulher no seu pé meu amigo, as enfermeiras loucas por você, se aproveitasse a vida como eu.
- Mulherengo nunca foi opção de vida pra mim, a gente quer o que a gente não tem, não é assim.
- Porque é que eu sou seu amigo?
- Porque eu cozinho pra você, é uma boa.
- Tô indo, tem uma enfermeira linda me mandando mensagem desde cedo, vou levar ela pra dar uma volta.
- Sei, amanhã a gente se fala . - Abriu a porta e deu de cara com Lili. - Lili?
- Então essa é a famosa?
- Famosa? - Lili estava meio sem graça por estar ali, na frente da porta do apartamento de Germano.
- Esse é um amigo meu lá do hospital, Hugo.
- Prazer!
- O prazer é todo meu - Germano olhou desacreditado para o amigo. - Bom, eu já estava de saída , até qualquer dia, Lili certo?. - Chegou perto de Germano antes de sair.- Agora eu entendi, que mulher é essa... - Cochichou fazendo Germano o encaminhar mais rápido para fora.
- Quer entrar? - Germano olhava Lili com admiração, estava linda.
- Se não for incomodar. - Ela observava a casa e não imaginaria nada diferente, tudo muito organizado e os tons pastéis demonstravam a personalidade de Germano.- Já está tarde... vocês estavam sozinhos? - Lili passeava o olhar sobre o apartamento enorme dele.
- Sim, fiz algo para jantarmos e jogar um papo fora.
- Dois homens jogando papo fora? Isso pra mim quer dizer que falavam de mulher.- Germano sorriu.
- Quer sentar? - Os dois sentaram no sofá cinza que dava para a frente de uma lareira elétrica.- Vinho ou Whisky?
- Whisky por favor.
- Forte. - Entregou o copo para a mulher sem conseguir tirar os olhos dela, estava linda.
- Então você cozinha?
- Sim, se você deixar um dia cozinho pra você. - Germano sentou no sofá mantendo uma boa distância.
- Você tem algum defeito doutor Monteiro? - Levantou para pegar mais bebida e voltou se sentando mais perto dele.
- Não é melhor pegar leve na bebida? Como vai voltar para casa assim sem conseguir se levantar?
- Quem disse que eu vou pra casa hoje?
VOCÊ ESTÁ LENDO
Recomeço
RomanceUma mulher endurecida pela vida, que ama cegamente ao ponto de esquecer de seu amor próprio.