2.0 | m a e v e

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MAEVE VASILESQUE

Terça-feira, 26 de abril de 2022 ─ 07:28 P.M
Ernetmoos, Nidwald, CH

ACORDEI EM UMA SALA BEM iluminada, apesar de não ter janelas, e extremamente branca. As paredes, os móveis, as cobertas, tudo era branco e cadavérico. Os poucos objetos na sala que eram de outra cor, eram prata e de metal. Como a fechadura e a maçaneta da única porta, a torneira na pia no canto direito da sala, a câmera de segurança na extremidade esquerda do quarto, perto do teto, e a cama onde eu estava.

Joguei as cobertas para longe com dificuldades. Eu usava apenas uma daquelas camisolas de hospitais, só que pior. Também era branca e parecia chegar aos meus pés. Precisei de mais força do que pensei para conseguir sair da cama, estava fraca e meus ossos pareciam geleia, minhas pernas tremiam. Fixei meus pés no chão e tentei me firmar sobre eles, mas me senti tonta no mesmo instante. Sentei na cama e forcei minha mente a se tornar coerente.

A última coisa de que me lembrava era de Nora, do grito dela. Dmítri também estava lá. E eles. Todos nós crescemos ouvindo suas histórias, de como eles nos caçam e nos matam sem nem pensar duas vezes. É óbvio que nem todos de nós somos santos, é para isso que existe o Conselho, para cuidar daqueles que saem da linha ou tentam nos expor.

Mas não os Siad-Fiach. Eles matam qualquer um, sem se importar se somos bons ou ruins, se temos alguém que se importa ou depende da gente.

Desde criança aprendemos a odiá-los, mas principalmente a temê-los.

Tentei novamente ficar em pé e dessa vez eu consegui. Caminhei devagar, um passo de cada vez até a porta que estava somente encostada. A porta dava a um corredor que se estendia tanto para a minha esquerda quanto para a minha direita. Também era branco e os únicos detalhes que eu podia ver eram as câmeras de segurança a cada cinco metros, mais ou menos.

Segui o corredor pela esquerda, passei por três portas fechadas e não vi uma pessoa sequer. Uma porta dupla estava no fim do corredor à minha frente, mas ela abriu antes que eu pudesse tocá-la. Um homem alto, de pele negra e cabeça raspada, vestindo um jaleco branco e segurando uma pasta, saiu por ela.

Quando falou, o sotaque alemão-suíço me fez lembrar de casa. Afinal, Meier-Sicherer Akademie era onde eu tinha morado a maior parte da minha vida.

─ Senhorita Vasilesque, como se sente? ─ o homem perguntou, percebi que em seu jaleco havia uma identificação.

Dr. H. Butler.

Seu cheiro me dizia que éramos iguais.

─ Como se um caminhão tivesse me atropelado. ─ assim que as palavras saíram da minha boca, eu soube que eram verdadeiras.

O doutor Butler pegou um tipo de lanterna pequena e apontou para os meus olhos, me mandou seguir a luz, eu o fiz.

─ Seus reflexos estão bons. ─ ele guardou a pequena lanterna e abriu a porta pela qual tinha acabado de passar. ─ Queira me seguir, por favor. A Senhora Diretora quer encontrá-la. Te daremos algo para a dor logo.

Ele manteve a porta aberta enquanto eu passava por ela. Entrei em uma verdadeira recepção hospitalar. Juntos, seguimos até o outro lado da sala e entramos no elevador.

─ O que aconteceu? ─ perguntei, interrompendo o silêncio incômodo no qual nos encontrávamos.

─ Não tenho permissão para te dar esse tipo de informação, senhorita ─ ele disse e eu pensei em retrucar, mas a porta do elevador já estava abrindo.

a l e a s a - livro umOnde histórias criam vida. Descubra agora