Relógios

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Os ponteiros do relógio pareciam zoar com a minha cara passando de maneira lenta, aqueles eram os cinco minutos mais longos de toda minha vida. O balcão já estava limpo e as prateleiras perfeitamente arrumadas, tudo para que eu não recebesse bronca. O olhar do velho carrancudo era duro sempre procurando algum pequeno erro para brigar comigo.Algumas pessoas saiam do bar mesmo não sendo tão tarde, o movimento tinha sido fraco o dia todo. Quando o relógio finalmente marcou sete horas joguei meu avental sobre a mesa e sorri pegando minha mochila do chão.

— Até amanhã Sr. Danvers— me despedi do meu patrão mesmo não gostando muito dele.

Minha casa não ficava distante do bar onde eu trabalhava e eu poderia andar até lá sem pedir um táxi. Passei por um beco escuro para poder chegar mais rápido, o cheiro de bebidas e algo pobre invadiu meu nariz, a luz estava fraca, tinha alguns mendigos jogados perto a umas latas de lixo, em outra parte tinha um cara fumando um cigarro. Passei direto por ele sem olhar para trás.

— Ei, gati...nha—sua voz era um pouco falha me fazendo supor que ele estava bêbado.— Vem se divertir comigo.

Ele puxou meu braço fazendo com que eu desse dois passos para trás, minha paciência já estava pouca. Eu tive um dia cheio atendendo um monte de gente que vem falar dos seus problemas comigo como se eu me importasse, um chefe insuportável e agora um bêbado que acha que manda em alguma coisa.

— Olha cara e melhor me soltar— aviso.— De preferência agora.

Ele sorri e aperta o meu braço.O cheiro de cigarro em álcool de suas roupas estava me deixando enojada, o mesmo passou sua mão pelo meu rosto. Respirei fundo e puxei do meu bolso meu canivete levando ao seu pescoço fazendo o mesmo se assustar deixando o cigarro cair levantando as mãos em sinal de rendição.

— Calma ai gatinha— o homen se afastou.— Só quero que a gente se  divirta uma pouco.

— Não obrigada.

Ele tenta passar as mãos em mim novamente com um sorriso safado.E aperto mais o canivete em seu pescoço fazendo o mesmo recuar.

— Já entendi o recado—diz.

— Se eu souber de você assediando outras garotas por  aqui você vai se ver comigo— tiro meu canivete do seu pescoço dando uma ótima olhada naquele embuste antes de partir.

Continuei meu caminho desviando dos mendigos na rua, até o pequeno apartamento antigo que eu chamo de lar. Subo as escadas de forma lenta e cansada e lata piorar eu morava no quarto andar, abro a porta e vejo o David  lendo um jornal sentando em sua poltrona azul. Os fios grisalhos denunciavam sua idade, lendo seu jornal despreocupado com uma xícara de chá.

— Boa noite querida—ele fala sem tirar os olhos do jornal.— Como foi trabalho?

— Chato como sempre.

David não é meu pai.Na verdade eu não tenho pais, fui adotada aos doze anos por ele é sua esposa. Sou muito grata aos dois por isso é tento ao máximo ajudar em casa com as despesas, posso não demostrar o quanto eles são importantes pra mim mais não tenho palavras para descrever o como sou feliz por ter saído daquele orfanato que me perturbou por tanto tempo.

Meu quarto é pequeno apenas minha cama de solteiro com várias colagens na parede, minha guitarra em um canto junto com meus tênis. Trabalhei muito para poder comprar ela mais valeu cada centavo.

Joguei minha mochila no chão e tirei meus tênis indo tomar um banho quente para relaxar os músculos.

Grace arrumava a mesa de jantar, o cheiro da sua comida estava me dando água na boca, ela sempre foi uma cozinheira de mão cheia, diferente de mim que não possuo nenhuma habilidade culinária.

— Venha Sky— me chamou e me sentei ao seu lado na mesa.

Meu nome é algo que me faz pensar por muitas vezes na razão pela qual ele foi escolhida pra mim, e me deixava desconfortável, principalmente quando as pessoas me perguntavam o porquê desse nome. Já pensei em mudar mas isso talvez fosse machucar meus pais adotivos. A Grace e David me adotaram depois que o filho deles morreu, por ironia do destino o filho deles se chamavam Sky, o que talvez tenha sido a razão por eu ter sido adotada. Se me incômodo com isso? Um pouco. Eu tenho um nome de garoto e pior um garoto morto.

— Foi tudo bem no bar?—Grace pergunta e apenas dou de ombros sem querer falar do assunto.

— Como foi na padaria?—mudo de assunto.

— Foi muito bom, a vizinha do 303 veio me contar uma novidade— Grace começou a falar sem parar sobre alguma coisa que eu não estava dando a mínima.

O restante do jantar foi feito com muita conversa, vez ou outra eu comentava alguma coisa. Fui para o meu quarto e me sentei perto da minha cama, meu caderno de anotações estava ao meu lado, a capa rosa com caveiras era a minha cara. Começei a tocar minha guitarra enquanto escrevia a letra de uma música, sabia que daqui alguns minutos algum vizinho estaria reclamando do barulho.Deixei minha guitarra de lado pegando minha única lembrança da minha família, um colar dourado em forma de V com alguns símbolos e duas pedras vermelhas, atrás uma frase estava escrita.

Mia nipote.

Era simplesmente lindo.

Já tentei por muitas vezes descobrir quem sou eu e porque fui abandonada mas sempre acabei em um beco sem saida, seja lá quem me deixou fez questão para que eu não o encontrasse.Eu apenas gostaria de saber quem sou eu e qual foi o nome que minha mãe escolheu para mim, tenho certeza que foi algo melhor que meu nome atual.

— Boa noite Sky—escuto Grace e David falarem.—Amamos você.

— Boa noite, também amo vocês— respondo.

Voltei a tocar minha guitarra e tentar terminar minha música. Ela já está quase pronta só faltava algumas partes que eu tenho que acertar.

— Pare com esse barulho—o vizinho do andar de cima grita.Um velho rabugento que ninguém suporta, vive reclamando de todo mundo. Eu tenho um problema com velhos rabugentos.

— Cuide da sua vida velho chato—respondo.

                  ×××———×××

Sempre tive algum problema com relógios, desde eles nunca chegam a hora que eu quero ou sempre passam da hora que eu deveria acordar. Eu estava a alguns minutos de estar muito atrasada e já era a terceira vez só essa semana, eu possivelmente vou levar uma suspensão daquele professor chato de Sociologia. Vesti uma roupa o mais rápido que pude e sai apressada ajeitando meus cabelos e pegando meu lanche em cima da mesa. Corri pelas ruas e o vento frio me fez lembrar que esqueci meu casaco, cheguei na escola e pude respirar em alivio por ter conseguido chegar a tempo. Recebi alguns olhares tortos em minha direção mais não dei atenção.Ajeitei minhas vestes e percebi que meus tênis estavam desamarrados me abaixei para amarrar os mesmos até ver dois pares de botas.

— Oi, meu nome é Alice Cullen— me levanto vendo uma garota pálida de cabelos curtos e espetados.—Você poderia mostrar a escola para mim e meus irmãos?

— Ahm, Oi. Olha eu queria mesmo fazer isso mais se eu chegar atrasada mais uma vez na aula de Sociologia estou muito ferrada— por um lado eu estava mentindo, eu não queria mostar a escola mais por outro eu realmente não podia chegar atrasada.—Mas a secretaria fica logo ali e tem uma garota chamada Melissa que tenho certeza que adoraria mostrar a escola pra vocês.

— Tem certeza que você...—antes que Alice pudesse terminar o sinal tocou me fazendo correr pra sala deixando a mesma falando sozinha.

Passei como um foguete pelos corredores empurrando algumas pessoas que estavam na minha frente até chegar na sala.O professor ainda não tinha chegado e comemorei internamente.

— Por muito pouco senhorita Meyer—  escuto a voz do meu professor atrás de mim e me viro vendo o mesmo com uma cara nada boa.—Agora ande tenho uma aula pra dar.

Me sento na minha cadeira e finalmente posso respirar de forma calma. Não é dessa vez que eu vou para a diretoria.

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A Sky me representa, eu tenho um dom para me atrasar.

Bem-vindos ao meu novo livro. Espero que gostem, não esqueçam de votar e comentar.

Sky ×Jasper HaleOnde histórias criam vida. Descubra agora