Aplicativo? Pra quê?

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Eu tô constantemente pensando em coisas que não vão acontecer. Como por exemplo: Corro todo dia as 7 da manhã, e sempre acho que vou encontrar o amor da minha vida, ou que vou ser atropelado por um ônibus desgovernado, ou que um pedaço de avião vai cair do céu e esmagar minha cabeça, ou que vou bater de cara com o valentão que me atormentava quando tinha 11 anos...
Exceto dias atrás quando pensei na possibilidade quase inexistente de beijar alguém naquela festa, e que o Josh iria ver, e apesar dessa visão impossível acabar se realizando, nós continuamos próximos e fazendo as mesmas coisas que fazíamos antes: fumar unzinho aqui ou ali, conversar na beira da piscina sobre todo tipo de assunto, ele até passou a jogar Mario Kart comigo as vezes apesar de sempre perder - Fato curioso sobre mim: consigo fazer qualquer pessoa gostar de games apenas escolhendo um jogo baseado no perfil psicológico, ou como meus amigos gostam de chamar: o sommelier dos video games, Apelido um tanto exagerado já que na maioria das vezes apenas escolho algum jogo legal da Nintendo -.
Então no final de uma dessas sessões enquanto ele reclamava por perder da minha princesa Peach motociclista mais uma vez, Josh me lembra de uma promessa que tinha feito, mas que eu havia esquecido totalmente.
-Que tal ir pro ensaio da banda comigo amanhã? Vamos tocar a set list do show de sábado, e só assim você sai de casa um pouco.
Como vocês sabem eu sou inseguro pra caralho e detesto incomodar os outros, e apesar de sentir que Josh realmente quer que eu veja a banda dele tocar, fico me perguntando o que os outros integrantes vão achar de ver um desconhecido chato que não entende nada de música analisando a performance deles.
-Não sei cara, o show já é sábado, melhor deixar pra ver vocês no palco, não?
Ele faz uma cara emburrada como se alguém tivesse acabado de colocar merda na boca dele. Já conheço bem aquela expressão, ela aparece sempre que ele escuta a palavra "não" sair da minha boca.
-Não vem com besteira Sam, ou te arrasto nem que seja a força.


                                                                                                  ...


-Tem certeza que os outros caras não vão achar ruim? - Pergunto pelo que parece a milésima vez enquanto caminhamos em direção ao estúdio no dia seguinte.
-Nem, eu sou o líder da banda, faço quase tudo, eles não têm nenhum direito de reclamar - O sorriso soberbo brotando mais uma vez. Josh nunca se gaba de nada exceto suas habilidades como músico e seu suposto reinado de líder. Não demora muito até chegarmos a calçada de uma casa normal.
-Algum dos membros mora aqui? - Pergunto nervoso enquanto me preparo pra engrossar a voz e a dá um aperto firme de forma automática como sempre faço quando conheço um homem hétero.
-Não, aqui é o estúdio - Ele fala enquanto toca a campainha da casa branca, simples e com portões vermelhos, praticamente idêntica as outras casas da rua, fico com vergonha de comentar que imaginava um lugar totalmente diferente, com paredes de vidro cheia de caras cabeludos carregando seus instrumentos pra lá e pra cá.
O portão se abre, e Josh entra sem dizer nada, o sigo admirando como o lugar é silencioso, será se não tem mais nenhuma banda praticando por ali? Caminhamos por um corredor bege completamente vazio até chegar numa porta comum, de madeira, com o número sete pichado de tinta vermelha na superfície.
-Fica tranquilo Sam, os caras são todos legais, eles vão gostar de você - Ele fala segurando a maçaneta, só então noto os pingos de suor escorrerem por minha testa.
Nem sempre eu fui assim tão aterrorizado por interações sociais, na verdade eu costumava ser o centro das atenções aonde eu ia, como um palhaço sem a maquiagem feia e as roupas bregas, mas agora que paro pra pensar, eu sempre estava bêbado nessas ocasiões.
Josh abre a porta e dá um grito, escuto risadas graves e o vejo correr em direções a outros três marmanjos que se enturmavam ao redor da bateria. Um deles, o primeiro a se virar em nossa direção, é um cara baixinho, de cabelos azuis e piercing na sobrancelha, ele também grita algo que não consigo entender e corre pra abraçar Josh, eles se parecem tanto que poderiam muito bem se passar por irmãos. O segundo, um cara também baixinho, mas com cabelos pretos, lisos e bem compridos que acena pra mim logo antes de cutucar Josh para abraçá-lo também, mas o último, um homem barbudo, grande, forte e encorpado, permanece sentado no banco da bateria, Josh e ele trocam olhares e um oi, sem alarde, e pra meu desconforto ele me puxa e me apresenta para todos.
-Sam, esse é o Carlos, nosso guitarrista solo - Ele fala apontando para o cara de cabelos azuis que se parece muito com ele, estendo a mão já me preparando para o aperto forçado, mas Carlos abre os braços e me dá um abraço bem apertado, quase como se a gente já se conhecesse a muito tempo.
-Olha o grude - Eles comentam em meio as risadas, solto um sorrisinho bobo enquanto sinto minha cara queimar e uma vontade enorme de cavar um buraco e me enterrar ali mesmo.
-Esse é o Mike, nosso baixista - Ele fala encarando o cara cabeludo, que diferente do outro apenas estende sua mão e aperta a minha com cuidado, quase como se estivesse segurando uma estátua frágil de porcelana - E esse é o Dan, nosso baterista - Ele acena pra mim, sem demonstrar nenhum sinal de que quer levantar dali apenas pra parecer educado, e como não quero forçar, não vou até ele, apenas aceno de volta. O observando mais de perto noto que até nos parecemos fisicamente: somos dois caras grandes e barbudos, mas Dan é ainda mais alto e mais forte que eu.
-Chega de enrolação então, O filho da puta do Mark já tá contando o tempo. - Eles tiram os instrumentos das capas, ligam os cabos e começam a afinar, Josh aponta uma caixa de som velha na ponta da sala que aparentemente é o lugar onde os "convidados" se sentam para assistir o ensaio, caminho fingindo que não existo e me sento, decidido a apenas observar.

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⏰ Última atualização: Mar 06, 2021 ⏰

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