Desde os meus dez anos de idade eu tenho um hobby, observar estrelas, e para mim o principal intuito era encontrar constelações que eu passava o dia pesquisando sobre em revistas, internet, livros... sim, eu era uma criança estranha e passei a ser uma adulta ainda mais estranha, pois foi um costume que permaneceu após o passar dos anos.
Hoje por exemplo, me encontro no meu segundo lugar favorito do mundo desde que conheci Jennie Kim e ele não é nada bonito como o parque Yeouido, não mesmo. Sempre com uma manta velha que escondo em meu armário pessoal do laboratório, uma garrafa de chocolate quente, um velho toca fitas que eu comprei há um tempo atrás em um mercado de pulgas e um caderno desgastado debaixo do braço, eu venho para esse mesmo lugar, "um terraço alto e frio suficiente para uma pessoa melancólica como Lalisa Manoban". Pelo menos é o que Roseanne me diz sempre que eu tento mentir para ela, dizendo que vou trabalhar até tarde pela sei lá quantas vezes durante a semana.
Enrolada nessa manta que o tempo não foi nada gentil, bebericando vez ou outra esse chocolate de péssima qualidade e ouvindo uma fita antiga do Elvis Presley (que coloco sempre para repetir a mesma música incontáveis vezes), eu observo as estrelas. Sempre quando o céu de Seul está limpo e escuro suficiente e nesse momento única melodia que preenche meus ouvidos agora é a de "Can't Help Falling In Love". Sempre que eu quero estar mais perto de você, é para cá que eu venho, para observar as estrelas.
Eu posso parecer louca, mas o observar as estrelas para mim se ressignificou desde que estivemos aqui pela primeira vez, assim como todas as coisas da minha vida que obtiveram um sentido muito mais bonito desde que você chegou, com as estrelas não poderia ser diferente. Diferente de quando eu era mais nova, meus olhos não ficavam bem abertos e alertas, e muito menos eu trazia comigo uma luneta que seria eficaz o suficiente para ter uma visão ampliada desses lindos pontinhos dourados que enfeitavam o céu. O observar passou a ser de dentro para fora.
Eu lembro de todos os detalhes da última vez em que eu te trouxe aqui, seus cabelos estavam presos em um rabo de cavalo desleixado, mechas despreocupada caiam livre sob o seu rosto, exatamente como você. Eu lembro do seu sorriso gengival e pomposo. Lembro que se agarrava a mim e reclamava a cada cinco minutos o quão frio estava, mas amava poder se esquentar nos meus braços e lembro de quanto me interrompeu para dizer a seguinte frase: "Lisa-ah, isso está chato! Deixe-me te contar uma história sobre as estrelas, bem mais legal que essa que tu conhece" e você continuou, sem nem mesmo se preocupar se eu estava interessada em saber ou não, mas tudo bem, eu amava tudo o que saia da sua cabecinha. "Há muito tempo os egípcios e os índios americanos acreditavam que nas estrelas moravam os Seres Espíritos, onde exerciam grande influência nas vidas das pessoas. Algumas tribos acreditam que de tempos em tempos, as estrelas se tornam seres igual a nós e visitam a Terra, há quem diga que esses seres tornam-se maridos e esposa de humanos...", "Então você claramente é filha de uma estrela, Nini" a interrompi beijando a pontinha do seu pequeno nariz, e ela respondeu da seguinte forma: "Que bom, porque isso me torna uma estrela, tipo essa que você me compara, e a minha história favorita sobre é de que elas simbolizam o eterno". E mais uma vez eu sorria igual uma boba apaixonada, o coração bombeava o sangue tão rápido para as minhas veias, que todo o frio que eu sentia naquele momento, se tornou calor. "Lisa, a melhor forma de observar as estrelas é fechando os olhos e me sentir, bem aqui..." ela disse tocando no meu peito, "dentro de você, é onde eu sempre vou estar".
Desde que você teve que ir, no clarão da noite eu venho para cá, olho para o céu e vejo as estrelas e deixo com que minha imaginação forme os mais diversos desenhos, porque era isso que você gostava de fazer, e olhando fixamente para elas, eu tenho certeza que estão brilhando somente para mim. Eu sinto a luz das estrelas através dos meus olhos, como se cada átomo do meu corpo fosse preenchido por um energia conhecida, um verdadeiro déjà-vu que só me remete unicamente a você. E exatamente como você disse, é de olhos fechados que eu realmente as enxergo, sinto a luz das estrelas saindo de dentro do meu tão cansado coração e envolvendo tudo que é possível tocar e não tocar, tudo se torna tão vivo e claro. Até que a mesma luz se expande de tal forma que fica fácil cobrir o sistema solar, então a galáxia, então o universo, onde tudo se mistura com a luz das estrelas.
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Nossas verdades não tão verdadeiras assim.
FanfictionLisa era cética. Cética ao ponto de acreditar apenas nas coisas que poderiam ser provadas pela ciência, tocadas ou vistas. Mas um pequeno acidente faz com ela comece a ver a vida de uma forma completamente diferente. Talvez ela culpe a lei de Murphy...