Não eram nem 11 horas da manhã e Milo já estava de pé em frente a minha baia com olhos famintos como se o desgraçado não tivesse comido nada no café da manhã, o olhar de cachorro abandonado que consegui ver sem me dar o trabalho de olhar pra sua cara não foi o suficiente pra tirar minha concentração do relatório da Tessa. Eu estava atrasado então Milo que esperasse.
"Você não vai olhar pra mim mesmo?" disse Milo por fim.
"Milo, é você ou meu pescoço na mesa da Tessa até o fim do dia! Preciso informar minha opção?", respondi com olhos vidrados na tela.
"Ah qual é Thommie? Vamos comigo na barraca de hot-dog na avenida. Ela nem vai perceber que você saiu!"
"Não!" – respondi.
"Mas Thommie, porque você quer me ver..."
"Não!" respondi antes mesmo que ele pudesse terminar a frase.
"Thommie... eu sou seu amigo! Porque quer me ver sofrer?" choramingou Milo, enquanto colocava uma perna sobre a minha mesa e fazia algo que deveria ser, mas estava longe de parecer, um coração com as mãos.
Milo era meu amigo de infância. E quando digo infância me refiro a mais breve lembrança de infância que eu tenho: o jardim de infância. O momento na vida de todo ser humano que as lembranças começam ser formadas. A idade dos primeiros traumas, mamãe dizia.
Eu chorava na porta da escola sentindo o momento que ia ter que me separar dos meus pais. Eu não sabia o que era escola, e talvez nem soubesse o que era ódio, mas eu já odiava a escola. Eu tinha poucos primos, e todos eles moravam longe o suficiente para que eu tivesse crescido entre meus brinquedos, amigos imaginários e a vovó. A escola tinha gente demais e aquilo me incomodava um pouco. No primeiro dia, minha primeira lembrança foi de olhar pela janela do carro enquanto minha mãe estacionava o carro e ver uma criança roliça comendo uma barra de chocolate sorrindo, deliciosamente, enquanto a mãe perguntava de onde é que ela tinha tirado aquilo.
Aquele era o Milo.
Os bracinhos rechonchudos se apertavam num uniforme azul-claro. A gola da camiseta esgarçada já no primeiro dia mostrava a dificuldade que tinha sido passar com aquela cabeça por ela. A mão suja de chocolate junto com metade da bochecha mostrava rastros do crime que o pentelho tinha cometido no primeiro dia de aula. Mas duvido que tenha sido o primeiro da pequena vida dele.
Mamãe me tirou do carro com uma força descomunal. Lembro que o estofado cedera ao meu ataque de desespero, e foi uma doce lembrança até o dia que papai vendeu o carro 8 anos depois.
Entrei chorando na escola, de mãos dadas com a professora que havia me "raptado" de minha mãe, já criando imensas possibilidades de como fugir dela ao menor sinal de descuido. Mas eu não era tão inteligente e não tinha colocado na equação o cadeado da escola, e que pra chegar até ele talvez eu tivesse que passar por uma barreira de 5 inspetoras. Desisti antes mesmo de tentar.
Esse era eu.
Estar no meio de tantas crianças me aterrorizava. Elas choravam, gritavam, riam, se batiam, deixavam as professoras malucas e eu só queria brincar com meus bonecos em casa com a vovó.
Sentei na quina da sala, me sentindo levemente protegido pelos armários que se uniam naquele espaço. Peguei uns pincéis na mesa e comecei a desenhar qualquer coisa que parecesse com uma bola. E então Milo veio se juntar a mim. A boca suja de chocolate, faltava-lhe o dente da frente e ele sorria igual um bobo. Sentou na mesa todo sorridente e veio ver o que eu estava desenhando. Quando lhe disse que era uma bola ele disse que parecia mais com o cocô do seu cachorro do que uma bola. Ele caiu na gargalhada. Eu também. Eu amava essa lembrança dele.
"Vamos?", insistiu Milo me tirando de minha epifania.
Bufei coisas ininteligíveis e dei um tapa na sua perna sobre a mesa.
"Vamos, mas se a Tessa perceber que saí e eu levar uma bronca vou fazer você estar na próxima equipe de trabalho no final de semana!" disse já enfiando as mãos no blazer.
"Mi hermosa Carmelita, caso nossa amada e venerada chefe apareça, diga que levei Thommie para uma ajuda no depósito. Voltaremos antes que você consiga soletrar meu nome!" disse Milo a nossa secretária. Uma senhora argentina, rechonchuda, que nos observava por cima dos óculos.
"M-I-L-O!" retrucou a velha.
"Carmelita, não seja tão cruel... eu lhe trago um maço de cigarros!" disse Milo já me empurrando pra dentro do elevador.
O sorriso de canto de boca de Carmelita era a confirmação de que o crime poderia ser executado sem muita dificuldade.
"Milo, vamos rápido! Tessa vai parir uma criança se eu não entregar esse relatório hoje ainda. Estou atrasado e não posso ficar saindo!"
"Ninguém mandou ficar enrolando o mês todo. Eu não tenho culpa de você ser um procrastinador!", riu Milo.
Ele tinha razão. Eu tinha passado os últimos dias analisando se um Camaro ou um Ford tinham mais a ver com meu novo corte de cabelo, e tinha postergado o quanto pude para fazer o relatório na esperança que ele se fizesse por si. Mas infelizmente não eram assim que as coisas funcionavam e as consequências vieram no exato momento em que a Tessa pediu o relatório da contabilidade na mesa.
Puxei Milo pelo braço e agarrei seu pescoço bagunçando o cabelo dele enquanto ele se contorcia querendo sair.
Já havíamos descido 4 andares quando a porta do elevador se abriu, e ela apareceu.
O terno bege, a saia preta e o sapato verde eram uma combinação terrível e um contraste com os cabelos esvoaçantes, os olhos verdes e o belo par de seios que ela tinha. Eu fui arrebatado no momento em pus meus olhos sobre ela. Uma deusa trabalhava no 12 andar e eu não sabia.
Larguei o Milo envergonhado e ajeitei o nó da gravata. Acenei com a cabeça mas deve ter sido tão imperceptível que não causou nenhuma reação nela.
Ela passou a mão pelos cabelos, ajeitando os óculos no rosto. Kaya era um pouco mais baixa que eu. Cabelos cacheados até a altura dos seios, a pele bronzeada, lábios carnudos, olhos verdes. As bochechas salientes e rosadas subiam e desciam enquanto ela mascava chiclete. Estava vestindo uma blusa cinza decotada que deixava a mostra a parte desinteressante dos seios. Entrou no elevador como se nós não estivéssemos ali. Virou de costas e vi que ela não era bonita apenas vindo até mim, a visão também seria sublime quando ela saísse daquele elevador.
Estava com os olhos presos aos quadris de Kaya, quando Milo me deu um cutucão silencioso me tirando do universo fantasioso que se desenhava dentro da minha mente e apontou com a cabeça pra lateral do elevador. Meus olhos se encontraram imediatamente com os de Kaya e senti meu rosto ruborescer. Há quanto tempo eu estava olhando pra ela? Há quanto tempo ela estava olhando pra mim e tendo a certeza de que eu era um idiota? Porque me esqueci que o elevador era todo espelhado?
Burro.
Nossos olhos se demoraram por breves segundos, ela com um olhar que estava entre a tentativa de me seduzir mais ainda ou me matar, ou ambos. E eu envergonhado de ser um pervertido.
O rosto dela se desenhava como uma pintura, os olhos coloridos de marrom, delineados por uma fina linha preta e cílios volumosos se destacavam mais ainda enquanto nossos olhos se cruzavam.
Enfim a porta do elevador se abriu, e o majestoso hall do imenso prédio da Bulwark Bank se abria na nossa frente.
Kaya manteve seu olhar fixo ao meu através do espelho por talvez mais meio segundo antes de sair do elevador e tive que ser empurrado por Milo a fazer o mesmo.
"Cara... você foi pego no flagra! Que vergonha!" riu Milo, passando um dos braços pelos meus ombros e batendo com o outro no meu peito. "Eu achei que ela ia te matar!" continuou.
"Quem é aquela garota Milo?" perguntei.
"A Kaya? Ela é assistente de produção no setor do Jason. Não mexa com ela. Ela é a queridinha da Tessa. Você vai preferir cinquenta relatórios á Tessa saber que você anda olhando pro rabo da Kaya no elevador. Hey, Jones? O que temos pra comer nesse delicioso inverno nova-iorquino?"
Milo estendeu as mãos ao homem da barraca para cumprimenta-lo.
Jones era o dono da barraca de cachorro-quente em frente ao banco.
Magro, alto, na casa dos sessenta anos, Jones sabia mais do que acontecia no banco do que nós que trabalhávamos lá dentro. Seu carrinho de hot-dog era um ponto de encontro daqueles que queriam beliscar algum lanche no meio do trabalho e queriam fofocar sobre o chefe que comia a secretária e não tinha a decência de dar um aumento de salário no fim do mês. Ouvia e apreciava todas as fofocas que escutava enquanto as pessoas comiam ali. Mas arrancar algo dele beirava o impossível. Ele dizia que era como um consultório de psicologia e por respeitar o código dos psicólogos de barracas de cachorro-quente não podia contar nada sobre seus clientes.
"Quer dizer então que alguém se impressionou com a Kaya neste recinto? Milo, você prefere com ou sem molho?" disse Jones.
"Como era possível eu não conhecer essa mulher até hoje. Eu trabalho aqui tem mais de 5 anos. Como eu nunca vi essa mulher aqui? O meu sem ervilha por favor!" completei.
"Se você prestasse mais atenção ao seu setor teria visto que ela não sai da sala da Tessa. Meu Deus Jones, como você consegue deixar a salsicha desse jeito?" disse Milo, se arrependendo no minuto seguinte quando Jones lançou um olhar malicioso.
"Thommie" – começou Jones – "não brinque com a Kaya. Ela é uma garota maravilhosa. Se fizer mal pra ela vai ter que lidar comigo."
"Você a conhece bem?" disse abocanhando o lanche e quase mordendo o dedo na investida.
"Ela vem aqui todos os dias há pelo menos 4 anos..."
"Ela namora? É casada? É lésbica?"
"Meu Deus!" riu Jones. "Quanta afobação! Não, não e não também! Kaya mora sozinha desde que deixou os pais em Illinóis. Thommie, vou repetir: ela é uma garota legal. Não seja um babaca!"
"Ah Jones... quando que eu fui babaca com alguma mulher?", disse.
Milo e Jones se entreolharam e eu comecei a ver uma lista se formando na cabeça deles.
"Ok! Ok! Talvez alguns POUCOS casos. Mas eu não tava preparado pra nenhum relacionamento sério. E elas queriam casar, filhos, essas coisas todas. Eu era jovem ainda!", retruquei.
"Então você não é jovem mais?" Jones apoiou os cotovelos no carrinho e esperou pela minha resposta com um olhar torto e desconfiado.
"Jovem eu sou, mas talvez tenha aparecido aí uma oportunidade, não é mesmo?" respondi.
"Jones, nem se preocupe! Que chance o Thommie teria com a Kaya?", disse Milo.
Eu não vi quando ela se aproximou. Os braços se encostaram no meu blazer e senti a pele eletrificar quando vi que era ela do meu lado. Engasguei com o pedaço de batata-palha e tive que ser acudido por Milo que sufocava o riso enquanto me puxava de lado.
"Bom dia Jones! Dia lindo né? Jason pediu pra avisar que não vem hoje. Está com azia!" disse Kaya.
"Não se preocupe, minha querida! Vai querer algo hoje?" disse Jones num tom amável que nem eu conhecia.
Que mulher era aquela? Ela parecia mais linda com a luz do sol batendo nos cabelos ondulados. O reflexo do sol nos óculos dela não me deixaram perceber a piscadela que ela deu ao Jones quando me olhou com os cantos dos olhos.
"Agora não! Tenho que voltar pra minha mesa rápido antes que o Jason perceba que sai! Nos vemos mais tarde!" e saiu apressando o passo.
Tirei o dinheiro do bolso e coloquei no bolso de Jones, engolindo de uma só vez o pedaço que faltava do lanche.
"Fique com o troco Jones!" disse me apressando pra entrar no banco novamente.
"Thommie..." chamou Jones, mas eu já estava dentro do banco.
Passamos nossos crachás pelo segurança, e tentei manter uma distância segura que não a fizesse perceber que estava seguindo. Quando viramos pra subir a escada dos elevadores senti Milo do meu lado, ofegante.
"Calma cara... você tá parecendo... um serial-killer atrás da próxima... vítima!" disse Milo sem ar.
Olhei pra Milo com desdém e balancei a cabeça em desaprovação. Eu também não estava sendo tão exagerado assim. Estava? Não queria parecer mais idiota do que já tinha sido quando descemos o elevador. Talvez não estivesse conseguindo.
Ficamos na fila do elevador apenas eu, Milo e Kaya.
"Tente não ser idiota dessa vez Thommie e olhe pra qualquer lugar menos pra ela!" sussurrou Milo.
Quando o visor do elevador mostrou que faltava um andar pra chegar até nós me virei pra Milo e disse:
"Não está esquecendo de nada?"
"Não... o qu... Droga!!! O cigarro da Carmelita" bateu na testa.
Abri um sorriso largo, e talvez levemente psicopata para Milo.
"Se você subir sem o cigarro dela seu nome estará na escala de sábado. Eu voltaria correndo..."
"Desgraçado! Não faça nenhuma idiotice!" disse Milo me dando um soco na costela e olhando pra trás para mim e para Kaya.
Eu tinha total confiança nos meus sentidos quando falava qualquer coisa para Milo, mas foi ele se afastar que comecei a sentir as pernas perderem o apoio e o ar começar a ficar rarefeito. Afrouxei o nó da gravata, arrumei a coluna e levantei o queixo. O que que eu estava fazendo?
Ela devia pensar que eu era um idiota. Com toda razão. "Mas e se ela parou na barraca do Jones porque me viu?" - Não! Eu era um idiota. Foi uma feliz coincidência, pelo menos pra mim.
Puxei o ar que foi possível e aguardei a porta do elevador abrir. Só eu e Kaya estávamos na fila. E ela não olhou pra trás um único segundo.
-
No último momento uma cliente se empertigou do nosso lado e entrou no elevador conosco. Kaya apertou o botão 12 e se instalou numa das quinas do elevador. Foi então que ela me viu. Vi seu queixo se levantar, se arrumando inconscientemente para parecer mais formosa. E meu Deus ela era!
Não escutei quando a senhorinha que entrou conosco me perguntou onde ficavam os caixas e vi Kaya sorrir pra ela e apertar o botão do quinto andar. A velha abriu um sorriso para Kaya e me olhou emburrada, segurando com força a bolsa e virando de costas pra mim imediatamente.
Fui pra quina oposta a Kaya no elevador e tudo o que pensei em fazer naquele momento tinha ido por água abaixo. Como eu iria puxar conversa com ela enquanto aquela velha não parava de tagarelar?
Eu achei que aquela cara de brava quando me pegou olhando pro seu quadril seria uma das melhores piores caras que Kaya pudesse fazer e então fui agraciado com o sorriso mais arrebatador que eu já vi na vida. Claramente ela não estava sorrindo pra mim e sim para a senhorinha que não parava de falar, se dividindo entre elogios e reclamações no banco. Mas eu aproveitei cada segundo daquele sorriso como se ele tivesse sido enviado pra mim.
Quando as portas se abriram, Kaya se postou do lado de fora do elevador e eu tive que controlar o impulso de pedir que ela ficasse. Droga! Aquela velha desgraçada tinha pedido ajuda dela e era só o que me faltava. Consegui despistar Milo, e ia morrer na praia sem conseguir ter um único momento a sós com ela.
Kaya ergueu os braços a fim de segurar a porta do elevador e, quando dei conta que ela iria retornar fui direto no botão que liberava as portas do elevador pra que ela não precisasse se segurar na porta. Ocupei o lugar que antes era dela enquanto segurava o botão, e vi ela me olhar rapidamente enquanto indicava a senhorinha com quem ela devia falar. Cumprimentou brevemente a senhora e ocupou o lugar que antes era meu.
Quando as portas fecharam pude sentir o aroma açucarado que o perfume dela deixou no canto do elevador. Eu estava envolto numa aura surreal daquela mulher. Olhei pros meus sapatos a fim de encontrar qualquer assunto pra falar com ela. Que tal começar perguntando sobre o tempo? Que idiota! O clichê "Nossa que frio está fazendo estes dias não é?" Óbvio seu idiota, é inverno! "Você vem sempre aqui?" também não era um bom início porque ela simplesmente TRAVALHAVA aqui. Pense Thommie, pense seu idiota.
"Os lanches do Jones são maravilhosos, não são?"
Dei um salto e me segurei na barra do elevador pego de surpresa. Ela estava falando comigo? Claro seu imbecil, só estão vocês dois dentro do elevador. A menos que ela fale sozinha e tenha problemas mentais iguais a você seu idiota.
"Sim! Ele... ele é bom mesmo!" gaguejei.
"Eu costumo ir na barraca dele duas vezes por semana apenas. Se fosse todo dia como a vontade manda eu não conseguiria passar por essa porta" ela riu.
"Err... Não sei se isso seria possível!" a frase saiu mais séria do que deveria. Suor escorria pelo meu rosto.
Tratei de corrigir.
"E... me desculpe por mais cedo. Eu fui um idiota! Não quis ser tão..."
"Babaca?" ela disse entre um sorriso irônico.
"Bom, não era essa a palavra que estava em mente, mas ela serve!" respondi.
Ela estendeu a mão e se apresentou:
"Meu nome é Kaya! Qual o seu?"
A mão dela era macia e suave. Os braços longos vieram até mim como uma dançarina de ballet ao se apresentar durante um espetáculo. Sua mão continuava parada no ar até eu me dar conta de que ela estava aguardando que eu a segurasse.
"Eu? Eu me chamo Thommie. Desculpe!", respondi.
Senti que ela tremia tanto quanto eu quando apertei sua mão. Ondas de choque percorreram meu corpo e senti os pelos dos braços eriçarem diante daquele contato. Segurei as mãos dela até ela puxar levemente a mão completamente desconfortável. Meus Deus que idiota que eu tinha me tornado em meia-hora?
O apito do elevador indicava nossa próxima parada.
Kaya sorriu e saiu do elevador. Num ímpeto apertei o botão pra manter as portas do elevador aberto e disse:
"Eu sei que fui muito babaca mais cedo, mas queria saber se posso compensar minha grosseria. Você não quer tomar um sorvete qualquer dia desses comigo?", perguntei.
Kaya olhou pros lados e se aproximou do elevador com um olhar desconfiado:
"Você está convidando a mim ou meu quadril pro sorvete?" disse.
"Eu estou convidando você, mas ele pode vir junto se quiser!" respondi e me arrependi no exato segundo em que proferi. Minhas bochechas queimavam e eu sabia que meu nervosismo estava sendo entregue naquele momento.
Thommie, seu retardado! O universo te dá uma segunda chance e você responde isso pra ela? Meu Deus!
"Desculpe, eu fui babac..." fui interrompido pela risada dela.
"Ok! Sábado, as 9, no Candy Roll! Te encontro lá.", disse ela.
Kaya saiu pra sua mesa e não olhou pra trás. O que tinha acontecido ali naquele exato momento? Ela aceitou meu convite? Fácil assim? Não era possível! Eu tinha um encontro com Kaya no sábado, ainda era segunda. Passei a mão sobre a testa e enxuguei o rio de suor que descia pelas têmporas. Afrouxei ainda mais o nó da gravata quando uma voz ecoou no interfone do elevador.
"Será que é possível o nobre galã soltar o botão das portas do elevador para que as pessoas possam subir nesse maldito prédio?"
Demorei poucos segundos para reconhecer a voz de Milo no alto-falante.
Esperei a porta se fechar e arreganhei o dedo do meio para a câmera. O desgraçado ficou acompanhando meu sofrimento pelas câmeras de segurança da portaria.
"Muito obrigado Dom Juan! A Bulwark Bank agradece a sua compreensão" riu Milo e pude ouvir nos fundos a risada do segurança com ele.
Levantei então o outro dedo do meio para a câmera, e não tive tempo de descer as mãos quando a porta se abriu e vi Tessa sentada na minha cadeira, fitando o elevador a minha espera.
Olhei para Carmelita que acenava atrás de Tessa indicando que ela já estava ali tinha algum tempo. Fui me desculpar avisando que estava retornando do depósito quando vi o fiscal do depósito de pé, ao lado de Tessa. Carmelita percebeu minha intenção e passou as mãos cerradas pelo pescoço já indicando que eu não teria sucesso na empreita.
Tessa apontou a sala dela e foi na minha frente abrindo o caminho enquanto eu passava como um cachorro abandonado atrás dela. O dia ia ser longo.
Mas pelo menos eu tinha conseguido o meu encontro com a Kaya.
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A man behind the horse
RomanceO mundo de Thommy se mistura entre o passado e o presente. Uma vida de amor e confidências com Kaya transformado num mundo de sombras e areia. O que teria feito pra chegar nesse ponto? E o quê Nagy, sua égua de estimação, teria a ver com a conexão e...