Posto de gasolina

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   Quando meus pais decidiram mudar de cidade, eu quase enlouquece. Não é fácil deixar pessoas importantes para trás principalmente seus melhores amigos que você conhece desde a infância. Claro que manteremos contatos pelo telefone ou vídeo chamada, mas não é mesma coisa.

   Entrei no carro batendo a porta, enquanto me acomodava no banco  detrás e coloquei fones de ouvido no volume máximo impedindo que os sermãos da minha mãe pudesse ser ouvido.

Meu pai dirigia concentrado e as vezes cantarolava a música que tocava na rádio. Meu irmão pirralho de 8 anos ficou me cutucando com um brinquedo de super herói dele que quase o joguei pela janela.

Se tivéssemos indo para Chicago, Flórida ou até Nova York não iria me importar, mas estávamos nos mudando para uma cidadezinha do interior. Ele disse o nome do lugar, mas meu cérebro parecia congelado quando escutou "vamos nos mudar" que não conseguir guardar o nome e sinceramente não me importa.

Eu poderia fazer novos amigos se eu fosse sociável, levei anos, da minha vida para conseguir ter alguns amigos e tive que deixá-los sem nenhuma escolha.

   Meu pai parou no posto de gasolina onde aproveitei para esticar minhas pernas, tínhamos percorrido mais de uma hora de viagem e pelos meus cálculos ainda faltava duas.
Sair do carro batendo a porta querendo irritar minha mãe, ela detesta barulhos.

  - Quer quebrar a porta? - Perguntou colocando a cabeça para fora me encarando.

  Seus cabelos curtos e lisos que vive pintando de loiro estavam desbotados, seus olhos verdes me fuzilaram provavelmente ouviria outra bronca, mas me virei decidindo ignorar ela adentrando no local.

Abrir a porta ouvindo um sininho o que ocasionalmente chamaria a atenção do atendente o que não aconteceu. O lugar estava vazio, as luzes piscavam causando um calafrio em mim, o lugar parecia está caindo aos pedaços, o balcão estava com tinta vermelha descascando, havia um líquido esbranquiçado escorrendo pela mesma caindo no chão, a textura era gelatinosa e quando estava prestes a me virar sentir alguém caminhando atrás de mim, parecia ofegante pois conseguia escutar sua respiração mesmo um pouco afastado, eu podia ouvir seus passos se aproximando lentamente e fechei os olhos tomando coragem para encarar quem era.

    Eu tentava me acalmar mentalmente me convencendo que meus pais estavam do lado de fora e que só bastaria um grito para que pudessem me socorrer.

   Virei-me encontrando o vazio, não tinha nenhuma pessoa ali isso me causou tanto medo que a única coisa que conseguir fazer foi sair correndo na direção dos meus pais.

  - Cadê o rapaz? Quero pagar a gasolina e ir embora.

  - Não tem ninguém ali. - Eu falo ofegante pela pequena corrida.

  - Não iriam deixar o posto sem supervisão. - Meu pai protestou começando a apertar a buzina insistentemente. - Tem cliente aqui.

  De repente um homem alto, usando um boné azul dificultando enxergar seus cabelos, magricelo e com estatura mediana começou a caminhar na nossa direção, não conseguia enxergar seu rosto estava de cabeça abaixada.

  - Por pouco não fui embora sem pagar. - Meu pai brincou sorrindo. - Foi dois galões. Quanto custa?

  - Dez dólares. - Respondeu ainda encarando os próprios pés como se tivesse medo de olhar meu pai.

  Ele pegou a nota entregando ao homem que praticamente voltou correndo para dentro do posto.

  - Cara esquisito. - Meu pai falou balançando a cabeça negativamente.

  - Vamos embora? - Pergunto entrando no carro e meu corpo relaxou completamente como se dentro do carro estivesse protegida.

  - Primeiro não concorda com a mudança, fica reclamando o tempo inteiro e agora está ansiosa para chegar na casa nova? - Minha mãe perguntou incrédula.

  - Chega Regina. - Meu pai interviu entrando no carro também. - Temos que ficar felizes por ela ter mudado de ideia.

  - Claro. - Ela falou virando o rosto para a janela encerrando o assunto.

  - O que foi? Você está pálida? - Meu irmão falou notando meu nervosismo.

  - Tinha alguma coisa naquele posto. - Digo cochichando para que meus pais não ouvissem.

  - O quê? - Ele falou curioso usando o mesmo tom de voz.

  - Eu não sei. - Respondo virando a cabeça para a janela.

  Seja o que fosse que estivesse ali dentro provavelmente não era coisa boa, eu só quero tentar esquecer o que aconteceu.

A obsessãoOnde histórias criam vida. Descubra agora