Havia passado meia hora que fiquei sentada na calçada dois quarteirões da casa. Coloquei no meu cantor preferido Shawn Mendes ouvindo Stiches, uma música que particularmente gosto bastante e meu fone de ouvido inseparável que me permite desconectar do mundo indo para o meu próprio. Ouvir músicas é meu passa tempo preferido, muito melhor que assistir televisão que não passa nada interessante e me permite também vagar pelas memórias e me fazer refletir sobre minha vida.
Minha vida como poderia descrever usando uma única palavra? Desastrosa, horrível, terrível? Acho que combinaria perfeitamente. Eu perdi meus únicos amigos verdadeiros que tinha, minha casa é uma espelunca que ainda temos que dividir com ratos gigantes, minha mãe me odeia, meu pai fica ocupado demais sobre assuntos do trabalho ele é engenheiro civil, conseguiu concluir a faculdade, enquanto minha mãe trancou a dela permanentemente.
Suspiro fundo ouvindo passos atrás de mim e quando olhei era Kubrick me ignorou completamente seguindo a passos rápidos pela calçada. Seu semblante mais triste que recordo quando o conhece e seus ombros permaneciam caídos como se fizesse esforço sobre humano para se manter em pé e andava mantendo a cabeça abaixada o tempo inteiro como se tivesse tido torcicolo e não pudesse mudar a posição.
- Oi. - Digo começando a me aproximar dele.
Kubrick não respondeu, muito menos levantou o rosto me olhando, ele agiu como se eu fosse invisível. Apressou os passos sendo praticamente impossível acompanhar pelo jeito não quer companhia e não vou ficar igual uma idiota mendigando atenção de alguém.
Quando o perdi totalmente de vista fora que comecei a caminhar a passos de tartaruga para casa, meus pés se arrastavam de má vontade dando a entender que estava indo direto para o matadouro, talvez eu estivesse.
Eu parei procurando alguma outra música interessante quando meu celular tocou quase me deixando surda. Olhei no visor vendo escrito o nome da minha mãe e resolvi ignorar deixando tocar até cair na caixa postal. Enquanto tivesse a oportunidade de evitar o inevitável eu faria, apenas para me preparar psicologicamente.
Coloquei no Ed Sheeran e deixei tocando quando resolvi guardar meu celular no bolso detrás sentir meus dedos roçarem algo sólido como se fosse cintura de alguém.
Sentir um arrepio percorrer minha espinha como poderia ser pessoa se não escutei nenhum passo, nenhuma respiração e não havia ninguém na rua quando passei.
Fechei os olhos tomando coragem para me virar, meu coração estava acelerado e minha perna fraquejou fazendo quase desabar. Quando tive coragem suficiente para olhar por cima do meu ombro não havia ninguém.
Eu apressei o passo chegando em casa em dois minutos, qualquer fantasma, criatura ou pessoa que estivesse ali ela conseguiu superar minha mãe.
- Que horas de chegar. - Disse ela aborrecida, mas naquele momento não me importei apenas a abracei fortemente sentindo meu coração ainda acelerado. - O que aconteceu? Acha que abraço vai resolver o seu problema e tirar você do castigo?
- Não. Eu só precisava de um abraço. - Digo me afastando dela.
- Tanto faz. - Respondeu simplesmente. - Está de castigo e sem celular. - Falou pegando meu smartphone fazendo eu protestar.
- Por que justo o celular? Não poderia ser sem assistir televisão? - Tento negociar.
- Você não liga para televisão. - Disse furiosa. - Está sem celular por duas semanas e vai ter que ajudar seu irmão nas tarefas escolares e não teste minha paciência se não vai ficar um mês.
Eu fico quieta, afinal acho que consigo sobreviver a duas semanas sem meu precioso celular, sem assistir minhas séries favoritas, sem meu único contato que tenho para conversar com meus amigos da outra cidade, sem minhas músicas, quer saber eu já estou surtando.
- Mãe. - Digo manhosa, mas me arrependo pelo olhar fuzilador que recebo de volta. - Nada não. - Falo cabisbaixa seguindo diretamente para meu quarto.
Minha grande surpresa fora encontrar meu closet e cama devidamente instalados e meu computador onde quase pulei de felicidade, eu posso conversar com meus amigos por facebook.
- Sem computador também. - Falou minha mãe entrando e pegou meu notebook.
- Mas...- Digo engolindo minhas palavras.
- Diga, eu estou louca para aumentar o prazo. - Recebendo silêncio de resposta resolveu acrescentar. - Tem mães que jogam chinelo nas costas dos filhos, cinto ou sentaria na porrada. Agradeça que eu só esteja tirando eletrônicos e arrume suas roupas no closet não sou sua empregada para fazer tudo por você. - Disse batendo a porta com força.
Eu realmente odeio minha mãe. Se não queria criança poderia ter abortado quando tivesse chance, não acho isso certo, repúdio qualquer tipo de abortos e jamais faria isso, afinal é uma vida e se eu fui mulher suficiente para fazer um deveria também para conseguir arcar com consequências, porém ter uma mãe amargurada que vive tratando você como lixo, nunca me tratou com carinho, nunca foi assistir uma peça de dia das mães que minhas escolas faziam, quando fazia algum desenho nunca me deu um elogio, claro que saiam coisas feias, sou péssima com desenhos, mas eu era criança até um está bonito ficaria feliz.
As vezes fico imaginando que podíamos escolher as famílias que quiséssemos, mas infelizmente isso não é possível.
Pego a mala que deixei as roupas devidamente arrumadas só teria trabalho de colocar no closet. Não demorei muito, não tenho tantas roupas assim, acho que se tivermos o básico porque teria mais? Podendo gastar minha mesada com pares de sapatos por exemplo se tenho dois pés? Prefiro gastar minha pequena mesada com comidas ou aparelhos eletrônicos que amo.
Deito na cama fitando o telhado encardido entediada. Sem celular e computador não tenho absolutamente nada para fazer. Aproveitando o momento de silêncio resolvi refletir sobre meu primeiro dia de aula.
Definitivamente não gostei das aulas, principalmente de história, nessa aula sempre tenho vontade de dormir e fico bocejando o tempo inteiro, uma péssima mania que tenho quando acho algo chato.
Um frio percorreu minha espinha quando lembrei do ocorrido quando estava voltando para casa. Tinha alguém atrás de mim, eu poderia não ter escutado os passos porque tinha aumentado o volume da música quando Kubrick passou deixando no último volume e poderia não ter enxergado ninguém porque estaria se mantendo afastado e resolveu se aproximar por algum motivo e demorei bastante tempo para virar porque não tinha coragem o suficiente sou bem medrosa.
Balanço a cabeça negativamente tentando afastar tais pensamentos se continuar pensando dessa maneira vou acabar tendo um treco, mas isso não foi suficiente para meus pensamentos desaparecerem.
Havia realmente alguém ali, perto o suficiente de mim, podendo fazer qualquer coisa que provavelmente não era boa, pois se fosse porquê iria querer se esconder?
VOCÊ ESTÁ LENDO
A obsessão
Teen FictionQuando Isabelle Monte se muda para melancólica cidade de Stranville, ela conhece Ryden um garoto lindo e bastante atraente que começa a ficar obcecado por ela fazendo Isabelle passar por situações desconfortantes, enquanto sua obsessão fica mais per...