As eleições naquele ano tinham sido tão acirradas que Mereias, o Grande dos Grandes, havia sido deixado em segundo lugar, por apenas 0,2 por cento de diferença dos votos. Outrora, imbatível nas pesquisas e no coração do povo cuja alegria eram os grandes espetáculos de luz radiante que enfeitavam os céus todas as manhãs, em seu lugar, um deus aspirante, mas de bom coração, chamado Tiófolis, foi eleito. Mas não só eleições para o Deus da Luz, foram realizadas naquele ano, mas também da guerra, do amor, da riqueza, da sabedoria, da chuva e o da manteiga, embora este último não tenha sido levado tão seriamente como os outros.
- Guarda-chuva, guarda-chuva, olha o guarda-chuva. - gritava incessantemente o pobre vendedor, mirrado, pequeno, quase indefeso. Não caía uma gota sequer de chuva alguma. - Nunca odiei tanto o sol quanto odeio hoje. - dizia ele para si mesmo, quando todas as pessoas suadas que passavam por ele, o ignoravam. - Por que raios não chove?
E era uma excelente pergunta, aliás. Boatos diziam que o recém-eleito Deus da Chuva, havia recebido propina da Comissão de Regularização Climática, para então cessar as chuvas naquela temporada, para fins de prejudicar o plantio de certos donos de terras que não concordavam com algumas das políticas da instituição. Outros boatos, estes bem mais maldosos por sinal, diziam que o novo Deus era um Deus preguiçoso. "Gastou tanta energia em sua campanha que agora não quer trabalhar", disse um senhor que jogava dominó na rua enquanto era entrevistado. No entanto, mais tarde no noticiário das seis o real motivo: Pioggia havia sido sequestrado!
Havia sido notícia em todo o mundo, era realmente algo assustador. Um Deus, um ser que transcende eras, que jamais sente fome ou sede, fora sequestrado. Por quem, por que, e quanto queriam em troca, se é que queriam algo tão trivial como dinheiro pelo bem-estar do Deus, ninguém sabia. Mas se tem uma pessoa que sofreu verdadeiramente com tudo isso foi o pobre e quase indefeso vendedor de guarda-chuvas, Cristaldo Crispiano Vespasiano Teodosiano, mais conhecido por seu único amigo como somente Cris.
- Não ficou sabendo da última? - disse seu único amigo.
- Quê última, cara? - respondeu ele, largado num sofá imundo, cheio de latinhas de energético a sua volta.
- Pioggia foi sequestrado. - já ele, se debruçava sobre seu próprio corpo, enquanto jogava videogame.
- Isso não pode ser verdade, ele é um Deus. Deuses não são sequestrados. - pegou uma das latinhas que havia ao seu redor, e a abriu.
- Não foi isso que ouvi no noticiário. Bom, todos os jornais do mundo estão noticiando, não creio que seja mentira. Estão até dizendo que pode ser obra dos malgaxes.
- Eu não acredito nisso. - bebeu. - Eu não sei o que eu vou fazer agora. Estou perdido.
- Você é um vendedor, Cris. Venda outras coisas, ora. - Pietro se mantinha focado em seu jogo.
- Não sei vender outras coisas. Comprei do meu fornecedor uma remessa grande de guarda-chuvas, pois teoricamente nessa temporada chove para caramba. - deu outra golada farta em seu energético. - Eu não sabia que a porra do Deus da Chuva iria ser sequestrado, ou sei lá o que houve de fato. Agora estou com mil guarda-chuvas parados em estoque, e nenhuma gota está caindo. Eu estou muito fodido.
- Mil? Cara, isso é muito. Você os vende na rua, não tinha necessidade de comprar tantos, você não é uma fábrica.
- As antigas chuvas torrenciais faziam os guarda-chuvas quebrarem, Pietro. Chegava a vender cerca de dez a quinze guarda-chuvas para mesma pessoa. Era um bom negócio.
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O Vendedor De Guarda-Chuvas: Volume I
HumorO vendedor de guarda-chuvas, Cris, tem o emprego por um fio quando o Deus da Chuva some. Agora que as chuvas cessaram, e ninguém mais compra seus guarda-chuvas, ele embarca numa aventura para descobrir o que houve com o tal Deus, e salvar seu meio d...